Em época alta, os operadores turísticos avaliam a destruição pelas chamas. Há guias de trilhos e hotéis que registam perdas de €7.000.
No rescaldo dos incêndios no Parque Nacional Peneda-Gerês (PNPG), os operadores turísticos fazem contas aos estragos: nomeadamente os cancelamentos de atividades na natureza, reservas de alojamentos e restaurantes locais. Samuel Costa é um dos lesados. À frente da agência National Park Tours, vocacionada para caminhadas em trilhos, o empresário natural da zona viu-se obrigado a cancelar 90% da atividade, durante as duas semanas cruciais da época alta – os restantes 10% limitaram-se a escassos passeios de jipe. "Estamos a falar de perdas na ordem dos €7.000, de finais de julho até à data", avança à SÁBADO.
Os incêndios afetaram operadores turísticos da zona pelo cancelamento de reservasHugo Delgado/Lusa
Num negócio em que os passeios pedestres, com guia, começam nos €35 e vão até aos €100 por pessoa – consoante o tempo de duração (habitualmente de meio-dia para caminhadas de 6 a 7km; ou dia inteiro, 10km) e o número de caminhantes –, os prejuízos são evidentes. A clientela da National Park Tours costuma ser estrangeira, entre os 60 anos e famílias com crianças, de várias nacionalidades: norte-americanos, canadianos e oriundos de países do Norte da Europa, que valorizam este tipo de turismo. Mas de 26 de julho a 3 de agosto, as datas dos incêndios no PNPG, a juntar aos dois estados de alerta (devido ao elevado risco de incêndio), interromperam-se as caminhadas de lazer.
Eram trilhos que se faziam por etapas, com destaque para a GR50 (referente à grande rota que atravessa 200km do PNPG) e para a GR34 (de 35km pela Serra Amarela, onde decorriam trabalhos de rescaldo até há poucos dias). Os caminhos e a sinalética ficaram destruídos, assim como o maior ativo da zona: a biodiversidade. Vão demorar anos (pelo menos três) até reaparecerem as plantas que dão flores amarelas (como a carqueja e o tojo)."
Estamos a falar de perdas na ordem dos €7.000, de finais de julho até à dataSamuel Costa, responsável pela agência de trilhos National Park Tours
Além da degradação do solo pelos mais de 7.500 hectares de floresta ardida, Samuel Costa preocupa-se com o que aí vem: "Cada vez há mais incêndios e vagas de calor pelas alterações climáticas. É uma situação que tem de ser acautelada. Se houver estados de alerta frequentes, o que fazem as empresas como a minha?".
Municípios mais afetados
O Turismo do Porto e Norte de Portugal está a fazer o levantamento dos prejuízos, através do reporte dos municípios afetados. "Os incêndios deixaram uma imagem dantesca, tudo isto afeta o palco onde atuam as empresas turísticas, que é a natureza", começa por dizer à SÁBADO o presidente desta entidade, Luís Pedro Martins. Entre as autarquias mais fustigadas pelas chamas estão Ponte da Barca (pertencente ao distrito de Viana do Castelo), onde começaram os incêndios na noite de 26 de julho, e Terras de Bouro (Braga).
Para que os operadores turísticos consigam recuperar da queda, Luís Pedro Martins assegura que está prevista a criação de linhas de crédito a fundo perdido, até 300 mil euros de apoio. "Estamos a aguardar que sejam anunciadas pelo Governo [ministério da Economia e da Coesão Territorial]", diz.
Segundo dados indicados pelo mesmo responsável à SÁBADO, estão registados 99 agentes de animação turística no PNPG (35 deles em Terras de Bouro). Quanto aos alojamentos, contabilizam-se 805 unidades turísticas, a maior parte delas em Terras de Bouro (433); seguidas por Arcos de Valdevez (94); Montalegre (85); Ponte da Barca (70); Melgaço (41); Entre Ambos os Rios, Germil, Ermida (30); Lindoso (25); Cibões e Brufe (17); Britelo (10).
Cancelamentos de reservas de quartos
Mesmo em zonas mais afastadas dos incêndios, como é o caso da unidade hoteleira Águas do Gerês, Hotel Termas e Spa, o impacto fez-se sentir pela quebra de 10% da taxa de ocupação (ficou-se pelos 90% ao invés dos habituais 100% nesta altura do ano, pelas férias escolares). Em termos financeiros, a perda traduziu-se em €7.500. "Tivemos bastantes cancelamentos que nunca mais foram recuperados. As pessoas perguntavam pelos incêndios", recorda à SÁBADO a diretora de comunicação do hotel, Rosário Van Zeller. Os funcionários explicavam aos potenciais hóspedes que não corriam perigo, ainda assim desistiam.
Tivemos bastantes cancelamentos que nunca mais foram recuperados Rosário Van Zeller, diretora de comunicação do Águas Gerês, Hotel, Termas e Spa
O hotel é considerado uma das "estruturas-âncora" do setor na zona: tem 55 quartos e a média da diária nesta época ronda os €130 (quarto para duas pessoas com pequeno-almoço incluído).
Também nas casas convertidas em alojamentos turísticos houve desistências. A agência Azevim Nature gere mais de dez unidades deste tipo no PNPG e, por aqueles dias, registou dois cancelamentos de reservas na Ermida, a par de hóspedes que não chegaram ao fim da estadia e partiram mais cedo (em Castro Laboreiro). "Porque ficaram com medo", conta à SÁBADO Sofia Afonso, gerente da empresa.
Falta fazer a análise em termos globais. Segundo Eduardo Miranda, presidente da Associação de Alojamento Local em Portugal (ALEP), "é muito cedo para quantificar." Contudo, têm recebido "feedback de operadores que tiveram cancelamentos ou bloqueio de reservas", diz. Prudente nas palavras, o responsável indica que o impacto "varia de muito de caso para caso" e que depois dos fogos contidos será feita "uma avaliação mais ampla."
Restaurantes sem filas
Num verão normal, as pessoas faziam fila para jantar no restaurante Lurdes Capela, em Terras de Bouro, afamado pelo bacalhau à casa (frito com molho de cebolada) e pela posta de carne, tipo mirandesa. Mas nesta 2.ª (dia 12), pelas 19h só havia cinco mesas ocupadas de um total de 14.
O sócio-gerente, João Capela, mostra-se apreensivo com a menor afluência: "Não nos lembramos de ver um agosto tão fraco. Em termos de quebras, o volume de faturação desceu 20% face ao ano passado."
Publicamos para si, em três periodos distintos do dia, o melhor da atualidade nacional e internacional. Os artigos das Edições do Dia estão ordenados cronologicamente aqui ,
para que não perca nada do melhor que a SÁBADO prepara para si. Pode também navegar nas edições anteriores, do dia ou da semana. Boas leituras!
Para poder adicionar esta notícia aos seus favoritos deverá efectuar login.
Caso não esteja registado no site da Sábado, efectue o seu registo gratuito.
As nossas sociedades estão mais envelhecidas. Em 1950, 5% da população mundial tinha 65 anos ou mais. Em 2021, o número duplicou. Em 2050, mais do que triplicará. Ao mesmo tempo, a taxa de fertilidade (e de natalidade) diminuirá drasticamente.