Sábado – Pense por si

Psicólogos propõem que Governo aumente para 20 dias as faltas por luto gestacional

Em comunicado, a Ordem dos Psicólogos defende que "algumas propostas representam um retrocesso face à legislação atualmente em vigor e não têm em conta a evidência científica disponível nem as recomendações internacionais".

A Ordem dos Psicólogos propôs ao Governo que aumente para 20 dias as faltas por luto gestacional, pague a licença parental a 100% durante seis meses ou implemente a redução de horário para trabalhadores com filhos até 5 anos.

Psicólogos propõem aumento de faltas por luto gestacional em Portugal
Psicólogos propõem aumento de faltas por luto gestacional em Portugal Ian Waldie/Getty Images

As medidas fazem parte de um parecer que a Ordem dos Psicólogos elaborou sobre as alterações previstas no anteprojeto de Lei do Governo sobre a legislação laboral, e destaca cinco áreas para as quais apresenta "propostas concretas baseadas na evidência científica".

Em comunicado, a Ordem dos Psicólogos (OPP) defende que "algumas propostas representam um retrocesso face à legislação atualmente em vigor e não têm em conta a evidência científica disponível nem as recomendações internacionais".

Relativamente ao luto gestacional, sobre o qual o atual governo propõe acabar com os três dias de faltas justificadas previstos no Código de Trabalho, a Ordem propõe não só manter a possibilidade de faltar, mas aumentar para até 20 dias o período de ausência, "equiparando ao luto por morte de filho/a já nascido".

"A proposta do Governo desvaloriza o impacto psicológico da perda e agrava desigualdades de género. Tratar a perda gestacional como menor é contrariar as evidências expostas: o seu impacto emocional e funcional pode ser, no mínimo, equiparável ao de perder um filho já nascido", defende a OPP.

Sobre a licença parental, e à semelhança de uma proposta de cidadãos já entregue na Assembleia da República, recomenda o alargamento universal a seis meses pagos a 100%, sem condicionalismos.

A Ordem dos Psicólogos considera, por outro lado, que a proposta do Governo relativamente à dispensa para amamentação ou aleitamento é "desadequada e contrária à evidência científica e às recomendações da OMS e Unicef", defendendo, por isso, que se mantenha a legislação em vigor, que prevê a entrega de atestado médico apenas após 12 meses de idade do bebé.

Já sobre o horário flexível para trabalhadores com responsabilidades familiares, alerta para as limitações que o Governo quer impor e como podem comprometer a conciliação entre vida profissional e familiar, aumentar riscos psicossociais e afetar desproporcionalmente as mulheres.

Sobre esta matéria, defende que se mantenha a redação atual do Código do Trabalho, que garante flexibilidade para filhos até 12 anos ou com deficiência/doença crónica.

"A OPP apela a que a reforma laboral seja centrada na promoção do desenvolvimento saudável das crianças, na equidade de género e no bem-estar das famílias", diz o organismo.

Defende ainda que os pais possam usufruir de horário de trabalho reduzido até que a criança complete 5 anos, licenças parentais parciais e flexíveis, incentivos fiscais para as empresas que promovam a conciliação e campanhas públicas de literacia sobre parentalidade e saúde mental.

"A OPP reafirma que legislar sobre o trabalho é legislar sobre saúde, desenvolvimento humano e justiça social. O anteprojeto, na sua forma atual, coloca em risco estes pilares", acrescenta.

Diz ainda que o parecer, um documento com 31 páginas, foi entregue ao Governo na terça-feira.

Artigos Relacionados
Descubra as
Edições do Dia
Publicamos para si, em três periodos distintos do dia, o melhor da atualidade nacional e internacional. Os artigos das Edições do Dia estão ordenados cronologicamente aqui , para que não perca nada do melhor que a SÁBADO prepara para si. Pode também navegar nas edições anteriores, do dia ou da semana.
Boas leituras!
No país emerso

Por que sou mandatária de Jorge Pinto

Já muito se refletiu sobre a falta de incentivos para “os bons” irem para a política: as horas são longas, a responsabilidade é imensa, o escrutínio é severo e a remuneração está longe de compensar as dores de cabeça. O cenário é bem mais apelativo para os populistas e para os oportunistas, como está à vista de toda a gente.

Visto de Bruxelas

Cinco para a meia-noite

Com a velocidade a que os acontecimentos se sucedem, a UE não pode continuar a adiar escolhas difíceis sobre o seu futuro. A hora dos pró-europeus é agora: ainda estão em maioria e 74% da população europeia acredita que a adesão dos seus países à UE os beneficiou.