Sábado – Pense por si

Parlamento chumba hoje contagem total do tempo de serviço dos professores

As alterações ao decreto do executivo serão chumbadas pela conjugação dos votos das bancadas parlamentares do PS, PSD e CDS-PP.

A Assembleia da República deverá rejeitar hoje as alterações ao decreto do Governo que pretendiam consagrar a devolução de todo o tempo de serviço congelado aos professores, uma semana depois de o primeiro-ministro ter ameaçado demitir-se se as propostas fossem aprovadas.

Se tudo correr como os partidos anunciaram, as alterações ao decreto do executivo serão chumbadas pela conjugação dos votos das bancadas do PS, PSD e CDS-PP e registar apenas os votos favoráveis do BE, PCP e PEV.

A devolução dos nove anos, quatro meses e dois dias reivindicada pelos sindicatos dos professores foi aprovada na especialidade, na noite da passada quinta-feira, com os votos favoráveis de todos os partidos, à exceção do PS, levando a declarações de congratulação por parte do líder da Frenprof e de deputados do BE e PCP mas também do PSD e CDS-PP.

Os centristas e os sociais-democratas votaram favoravelmente a contagem integral do tempo de serviço congelado mesmo depois de verem chumbadas na especialidade as suas propostas para condicionar a sua concretização ao crescimento económico e ao equilíbrio das finanças públicas.

Mas tanto o PSD como o CDS, através dos seus líderes, Rui Rio e Assunção Cristas, respetivamente, vieram depois explicar que não concordavam com a devolução do tempo de serviço congelado sem as condicionantes chumbadas por PS, BE e PCP na fase da especialidade, quando o primeiro-ministro, António Costa, já tinha ameaçado com a demissão do Governo caso o parlamento aprovasse as alterações em votação final global.

Rio e Cristas explicitaram então que as condicionantes chumbadas em sede de especialidade seriam reapresentadas no plenário de hoje e, se não obtivessem luz verde, o PSD e o CDS-PP votariam contra o texto saído da comissão parlamentar de Educação que consagra a devolução integral do tempo congelado.

Os apelos do secretário-geral da Fenprof, Mário Nogueira, para que o PCP e o BE votassem favoravelmente as condições do PSD e CDS, permitindo assim a viabilização das propostas de alteração ao decreto do Governo, não tiveram acolhimento. A crise política ficou, desta forma, resolvida, devendo o plenário de hoje recusar a devolução integral do tempo de serviço congelado aos docentes durante o período de crise financeira.

Numa primeira ronda de votações, PS, BE e PCP devem chumbar as propostas do PSD e CDS-PP para condicionar a devolução à sustentabilidade financeira. Na segunda, a devolução sem condições nem calendário deverá ser rejeitada pelas bancadas do PS, PSD e CDS.

António Costa dramatizou as consequências de uma hipotética aprovação das alterações, invocando o seu impacto financeiro (cerca de 800 milhões para todas as carreiras especiais da administração pública) e para a imagem para o país junto dos parceiros internacionais.

Numa entrevista à TVI, Costa invocou a responsabilidade financeira do Governo e defendeu que nem daqui a 10 anos será possível devolver integralmente o tempo de serviço congelado aos docentes.

"Eu não vou criar ilusões a dizer que vou devolver a integralidade do tempo, porque eu sei que só não vou eu, como não vai ninguém. E, não vai, não é este ano, nem no próximo, nem daqui a 10 anos, porque financeiramente não é possível fazer isso", afirmou.

Com a resolução deste problema no horizonte, o chefe do Governo declarou, numa cimeira europeia na Roménia: "Vamos aguardar o que é que acontecerá amanhã (sexta-feira), mas se toda a gente votar amanhã como anunciou que votaria, eu creio que o país felizmente terá evitado uma crise orçamental que poria gravemente em risco a sua credibilidade internacional".

A crise política da última semana surgiu depois da aprovação na especialidade de uma alteração ao decreto do Governo, com os votos contra do PS e o apoio de todas as outras forças políticas, estipulando que o tempo de serviço a recuperar pelos professores são os nove anos, quatro meses e dois dias reivindicados pelos sindicatos dos docentes.

No dia seguinte, o primeiro-ministro comunicou ao Presidente da República que o Governo se demitiria caso essa proposta fosse aprovada em votação final, considerando que a validação da totalidade do tempo congelado seria uma medida injusta e financeiramente insustentável, apesar de a oposição defender que tal não teria qualquer impacto orçamental adicional nas contas do atual Governo.

E se na sexta-feira, após a ameaça de António Costa, todas as forças políticas parlamentares ainda davam indicações no sentido de estarem indisponíveis para qualquer mudança de posição em termos de sentido de voto final, CDS e PSD recuaram e já disseram que farão hoje depender a aprovação da inclusão das chamadas "normas travão".

No sábado a presidente do CDS-PP, Assunção Cristas, e no domingo o líder do PSD, Rui Rio, anunciaram que vão avocar para plenário, imediatamente antes da votação final global, normas condicionantes de ordem económico-financeira à possibilidade de recuperação de tempo de serviço, sem as quais dizem não votar a favor do texto final.

Estas mesmas normas foram já rejeitadas na fase de especialidade, na quinta-feira, não só pelo PS, como também pelo PCP e BE - forças políticas que deverão conservar a sua posição pelo chumbo, caso voltem a ser confrontadas com essas propostas do PSD e do CDS-PP.

O Partido Socialista confirmou mesmo que votará hoje contra as avocações propostas para plenário pelo PSD e CDS sobre condicionantes à contabilização do tempo integral de serviço dos professores e contra o texto final do diploma.

"Não subscrevemos a ilusão de aprovar esse princípio dos nove anos e quatro meses e ter em paralelo uma norma que condicione a sua execução. A proposta do PSD, na prática, ao introduzir normas condicionantes, assemelha-se uma de duas situações: ou propõe um carro sem travões que se despistará, ou um carro travado que não anda", argumentou quinta-feira o líder da bancada parlamentar socialista, Carlos César.

Já o BE e o PCP comunicaram que, na votação final global do diploma, irão manter-se a favor da aprovação do conjunto de alterações proveniente da comissão de Educação.

"O BE não vai mudar nada no seu voto (...). Ao contrário de outros partidos, nós sabíamos o que estávamos a votar e a proposta que tínhamos", disse quarta-feira a líder bloquista, Catarina Martins, numa crítica a Rui Rio que, no dia após a votação em comissão, disse desconhecer o texto final aprovado nessa noite até porque, como afirmou dias mais tarde, não é deputado e "não estava lá".

Se a esquerda repetir este sentido de voto na votação final global de hoje, e se PSD e CDS-PP continuarem a condicionar o seu voto favorável à inclusão destas normas no diploma, então o texto saído da comissão de Educação para a recuperação do tempo de serviço dos professores será chumbado, não se concretizando assim a ameaça de demissão do Governo e deixando os professores sem nenhum dos ganhos aprovados na passada quinta-feira.

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