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Mariana Mortágua: "Não estamos aqui para vos agradar ou vos dar sossego"

À maioria absoluta e a uma "elite" que tem "uma boa vida" enquanto as desigualdades se agravam, Mariana Mortágua responde com uma proposta "radical" na sua candidatura à liderança do BE. "Trabalhamos e produzimos o suficiente para que todas as pessoas possam ter uma vida boa."

A sede do Bloco de Esquerda, na Rua da Palma, tinha mais jornalistas que bloquistas, mas Mariana Mortágua apresentou-se como o rosto de uma moção que representa "1.300 ativistas" do BE.

"Pela escolha desse coletivo, sou candidata à coordenação do Bloco", anunciou, num discurso que começou com uma mensagem para Catarina Martins, mas se concentrou em apresentar o partido como a "alternativa à esquerda" a uma maioria absoluta que tem trazido "instabilidade e desigualdade" à vida dos portugueses e que, segundo Mortágua, se tem aguentado através de uma "política do medo" de que a alternativa só possa estar na extrema-direita.

Tiago Petinga/Lusa

"A responsabilidade do BE é a de mostrar que só uma alternativa à esquerda pode dar respostas às pessoas que estão desesperadas", disse Mariana Mortágua, explicando que o país não tem de ficar preso na "escolha entre o mau e o pior".

Dois dias depois da primeira manifestação do movimento Vida Justa, Mortágua acha que "o país está a mudar" e que as movimentações populares que se batem por salários dignos, combate à inflação e habitação são a prova disso. "O BE levanta-se ao lado de todos esses movimentos".

A luta por uma "vida boa" contra a "boa vida" de quem especula

Mortágua não hesita em apresentar a sua proposta como "radical" no combate à especulação que está a permitir a uma "elite" viver cada vez melhor, enquanto a maioria dos portugueses "perde salário a cada dia que passa".

"Não estamos aqui para vos agradar ou vos dar sossego", avisa a candidata à sucessão de Catarina Martins. O aviso vai direto para essa elite que especula, mas também para o PS e a sua maioria absoluta.

"A tranquilidade do PS é de achar que, perante um PSD perdido, sem programa, pode usar o medo da extrema-direita para promover uma maioria absoluta perpétua", considera Mariana, que não se alongou sobre a forma como dará resposta às quebras eleitorais, preferindo mostrar-se disponível para fazer "todas as lutas" para combater a desigualdade, que identificou como o maior problema do país. "As desigualdades são o pedregulho que esmaga o nosso futuro", acredita a bloquista.

Para as combater, Mariana Mortágua diz poder demonstrar que é falsa a ideia de que o país é desigual porque é pobre. "Trabalhamos e produzimos o suficiente para que todas as pessoas possam ter uma vida boa".

"Essa vida boa, com respeito, que todos podemos ter, é o contrário da boa vida de quem especula", vinca a deputada. "Estamos cá para lutar por uma sociedade mais justa", anunciou, numa sala onde estavam Joana Mortágua, Jorge Costa, Luís Fazenda, Marisa Matias, Isabel Pires, Fabien Figueiredo e José Gusmão.

O elogio a Catarina

Ausente da sala, mas não do discurso, esteve Catarina Martins, a quem Mariana Mortágua começou por agradecer o trabalho na coordenação do partido e por reconhecer a "marca" de "consistência" mas também de um "novo impulso".

Catarina até podia não estar na sala, mas estará certamente no futuro do BE. Essa é uma garantia deixada pela candidata à sua sucessão. "Contamos com ela", vincou.

Além da moção encabeçada por Mariana Mortágua, haverá outra moção a jogo na Convenção do BE, nos dias 27 e 28 de maio, a da plataforma Convergência, que também é apresentada esta segunda-feira.

Espera-se que surjam outras moções, mas de âmbito mais regional, sem candidaturas a todos os órgãos nacionais, uma vez que a mudança de regras nesta Convenção obriga a que sejam precisas quase 200 assinaturas (em vez de 20) para submeter uma moção de estratégia global.

Essa tem sido uma das críticas da Convergência, a oposição interna a Catarina Martins, que não se tem conseguido afirmas nas várias disputas internas pelas estruturas do partido.

Mariana Mortágua prefere olhar para o copo meio cheio na democracia interna. "Vamos ter uma Convenção com debate político e isso é bom. O BE cresce com isso, por isso ainda bem".

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