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Investigação SÁBADO: O chefe, a família e o viajante

António José Vilela
António José Vilela 03 de fevereiro de 2017 às 20:56

As autoridades encontraram milhões de euros em offshores e suspeitaram que os irmãos Pinto de Sousa eram testas-de-ferro de José Sócrates e de Hélder Bataglia. Os relatórios das Finanças contam tudo

Pouco passava das 8h de 20 de Outubro de 2015 quando os inspectores tributários e os agentes da PSP entraram no condomínio Villa Restelo, em Lisboa. Objectivo: efectuar uma busca a um alvo há muito identificado, o apartamento de José Paulo Pinto de Sousa. Devido às escutas telefónicas montadas há cerca de 15 meses, já sabiam que "Zé Paulo" não estava em casa ou sequer no País – os investigadores acreditavam que o empresário se encontrava refugiado em Angola com medo de ser detido –, por isso o mandado judicial foi entregue à mulher, Luciana Pinto de Sousa, uma nutricionista de 37 anos natural de Mato Grosso do Sul, no Brasil. Enquanto decorriam no apartamento os formalismos da apreensão dos três computadores e de alguns documentos Contabilísticos, os investigadores souberam que o plano daquela operação do processo Monte Branco – um megacaso de fraude fiscal e branqueamento de capitais detectado em 2011 a partir da loja do ex-cambista Francisco Canas – seguia também a bom ritmo em outros locais. No total eram 19 alvos, todos relacionados com os quatro irmãos Pinto de Sousa, primos paternos de José Sócrates. Quatro dias antes, na sexta-feira dia 16, o ex-primeiro- ministro tinha sido libertado da prisão domiciliária a que estava sujeito na operação Marquês por iniciativa do procurador Rosário Teixeira, e isso aconteceu precisamente no dia em que o magistrado concluiu o despacho de promoção das buscas à família Pinto de Sousa. Os documentos judiciais da operação indicam que os mandados só foram autorizados na segunda- -feira, 19, pelo juiz de instrução Carlos Alexandre, mas o Ministério Público (MP) conseguiu avançar para o terreno menos de 24 horas depois, com cerca de 60 inspectores tributários, peritos informáticos e agentes da PSP. Os milhares de páginas de documentação do Monte Branco, a que a SÁBADO acedeu, indiciam que nada no processo é acidental ou uma enorme coincidência, a começar pela aparente rapidez com que foi montada a operação de buscas, que incluiu a loja da família em Lisboa, A Coutada, Artigos de Caça e Pesca, Lda.: isso só foi possível devido à sintonia entre o procurador Rosário Teixeira e o juiz de instrução Carlos Alexandre, que mantinham há muitos meses sob apertada vigilância os membros da família do ex-primeiro-ministro. Todos os quatro irmãos estavam, directa ou indirectamente, sob escuta telefónica devido à suspeita de que a família tivesse movimentado milhões de euros através de offshores. E também por causa do relacionamento com Sócrates. 

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