Maria Rita Antunes, estudante do 10º ano no Agrupamento de Escolas Filipa de Lencastre, em Lisboa, descreve na primeira pessoa o que vê do lado dos alunos sujeitos aos fechos constantes, causados pelas greves dos auxiliares: os testes perdidos, a desorientação dos mais novos, as preocupações sobre a igualdade no acesso ao ensino. O STOP tem um pré-aviso de greve para amanhã. É o sétimo desde o início do ano letivo. O Governo ainda não se sentou com os sindicatos.
"Hoje há greve!". Até há algum tempo, sempre que ouvia esta frase sentia-me surpreendida e desconfiada, e ia verificar à porta da minha escola se era verdade. Desde o início do ano letivo essa expressão tornou-se tão familiar para nós, alunos portugueses das escolas públicas, que nem questionamos mais a sua autenticidade. E, na verdade, porque deveríamos questionar? Logo na primeira semana de aulas houve uma greve da Função Pública. Para ser sincera, já perdi o hábito de anotar os dias de greve na minha agenda. Não faço ideia de quantos dias escolares foram encerrados, mas sinto que é um número muito superior ao de que me lembro de anos anteriores.
DR
Sou uma aluna do secundário e posso dizer que as constantes greves têm influenciado, negativamente, a minha turma e os outros colegas que vejo no corredor. O planeamento dos estudos, por exemplo, fica gravemente prejudicado para alguns, assim como a realização de avaliações quantitativas, como testes e avaliações orais. Eu já perdi um teste e vi outro adiado por estas benditas rotinas de encerramento escolar. Todo este ciclo deixa os estudantes mais cansados com a acumulação de testes, e, ainda, desmotivados, sem vontade de se sentarem e pegarem nos livros, apontamentos ou cadernos.
Isto pode ser um grande problema para todos os níveis de ensino, incluindo o primário, principalmente para os alunos mais novos que entraram agora para o 1º ano, se não tiverem em casa quem puxe por eles. Podem muito bem perder a alegria e a motivação necessárias para gostar de ir para a escola. Digo isto por experiência própria, pois tenho um irmão mais novo neste ano, além de dois outros irmãos, contando com uma irmã que está a começar o segundo ciclo. Sei como a continuidade das greves pode influenciar negativamente a mente dos mais pequenos.
Além disto tenho uma preocupação, tal como muitos dos meus colegas, que me perturba: a desigualdade no acesso à faculdade com os colégios privados e as repercussões que daí podem advir. Inquieto-me com o futuro. Ainda tenho três anos antes de dar esse passo e espero que o cenário melhore até lá. Contudo, os meus colegas mais velhos, que estão na última etapa deste processo, devem estar mais preocupados com os exames que terão de fazer, sendo que muitos estão atrasados na matéria (a consequência da falta de professores no início do ano). Com isto, é normal que se assustem com a competição feroz dos privados que, como não têm greves, têm neste momento uma vantagem.
De certa maneira, observamos ainda uma desigualdade também dentro das próprias escolas, aumentada ainda mais com a continuidades das greves, entre os alunos que recorrem a explicações (porque os pais podem) e os que não recorrem, sendo estes últimos, por vezes, precisamente os que têm algumas dificuldades. Estas pessoas são gravemente afetadas, como podemos ver pela descida dos seus resultados escolares.
Resumindo, a situação é urgente, e deveria ser tratada dessa maneira, e não como uma brincadeira ou algo passageiro. A minha opinião é comum à de muitos outros alunos. As greves fazem parte do nosso mundo escolar, e sempre farão, mas uma coisa é de vez em quando, e outra é todas as semanas. Isto é uma miséria para os pais e ainda mais para os seus filhos, que dependem da escola para poderem ter uma boa vida. Por ser esquecido, é essencial lembrar que as escolas têm nas suas mãos o futuro dos jovens de Portugal.
Para isto melhorar, mais do que de um milagre precisamos de magia: o chamado bom senso!
Maria Rita Antunes, aluna do 10º ano no Agrupamento de Escolas Filipa de Lencastre, em Lisboa. Colaboradora do jornal escolar "Agora".
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