A ex-administradora e ex-secretária de Estado do Tesouro, ouvida pelos deputados, deixou duras críticas a Christine Ourmières-Widener.
A ex-administradora da TAP e ex-secretária de Estado do Tesouro Alexandra Reis, que recebeu uma indemnização de 500 mil euros pela sua saída da companhia aérea, está a ser ouvida esta quarta-feira pelos deputados da Comissão Parlamentar de Inquérito à TAP. Até agora, Alexandra Reis garantiu que a CEO da TAP, Christine Ourmières-Widener, queria que ela saísse da companhia aérea e que contratou pessoas de quem era próxima. Adiantou que não falou com Fernando Medina acerca de uma indemnização por sair da TAP e entrar no Governo, e que teria renunciado sem contrapartidas caso o Governo assim o tivesse indicado.
António Cotrim/Lusa
"Não tenho dúvidas que foi a vontade da CEO" que levou à saída
Alexandra Reis afirmou que foi a presidente da TAP que a despediu e que o Governo estava a bordo dessa decisão. Porém, tem dúvidas quanto aos motivos de Christine Ourmières-Widener para empurrá-la para fora da empresa, uma decisão que, percebeu ao sair, deixou a tutela das Finanças muito surpreendida.
"A 25 de janeiro [de 2022], numa reunião muito curta, a CEO explicou que queria distribuir os meus pelouros". Alexandra Reis perguntou, então, "E o que fico eu a fazer?". Foi aí, contou, que Christine Ourmières-Widener lhe disse que queria que saísse. "Eu quero que saias da empresa", citou Alexandra Reis. A CEO da TAP disse-lhe, de seguida, que já tinha contactado uma firma de advocacia para gerir o processo, sobre o qual lhe pediu confidencialidade. Christine Ourmières-Widener disse-lhe ainda que o Governo concordava com a sua saída.
Na segunda ronda, quando questionada sobre uma readmissão na TAP - sugerido pela IGF - Alexandra Reis garante que não está em cima da mesa essa possibilidade.
Reis não quis contratar empresa em que trabalha marido de Ourmières-Widener
Alexandra Reis assumiu que não queria contratar a empresa na qual o diretor comercial era o marido de Christine Ourmières-Widener. Disse ter dado indicações claras para não contratar a Zanma e que nunca falou com a CEO da TAP sobre o assunto. Travou a contratação - depois de ser avisada pela equipa de compras - para evitar conflitos de interesses.
"Entendi dar aquelas indicações porque além do potencial conflito de interesses, aquela aquisição não estava orçamentada, nem prevista nem era uma necessidade que a empresa tivesse identificado. Achei que não valia a pena ter recursos da empresa a investir em análises detalhadas sobre este tema porque havia sempre um conflito subjacente", acrescentou mais tarde.
Alexandra Reis insistiu pelo menos 3 vezes com TAP para saber montante a devolver
Nas suas declarações iniciais, Alexandra Reis reforçou que quer devolver parte da indemnização de 500 mil euros recebida - como decidido pela Inspeção-Geral de Finanças - e que já contactou a TAP com vista a essa devolução, mas que ainda não obteve resposta.
"Logo na manhã seguinte [à divulgação do parecer da IGF], a 7 de março, os meus novos advogados contactaram logo a TAP. Desde esse dia, e até hoje, e apesar das três insistências, continuo a aguardar para que se possa proceder" à devolução.
CEO quis demitir motorista que falou sobre uso do carro da empresa por familiares
Alexandra Reis relatou uma situação em que a CEO da TAP a informou que um motorista – que tinha feito uma denúncia de má utilização de um carro da empresa – "não estava vacinado contra a covid-19 e que por essas circunstâncias não podia continuar na empresa a exercer essas funções". "A situação foi contornada, fiz uma gestão e o rapaz decidiu vacinar-se", relatou.
Mais tarde, acrescentou que a pessoa em questão "nunca seria despedida por não se ter vacinado" pela TAP, visto que a vacinação não é obrigatória. "O que me foi pedido, na altura, foi para se avaliar a possibilidade deste motorista sair da empresa, e foi alertado que não seria possível promover a saída. Iniciei as minhas diligências para sanar a situação e quando foi considerada a possibilidade de o mudar de funções, não foi necessário porque o argumento da vacinação já estava exaurido", concluiu. Este motorista é familiar do presidente de um dos maiores sindicatos da TAP.
Alexandra Reis assume que indemnização inicial proposta era muito expressiva
Quando questionada sobre o valor da indemnização pedida, cerca de €1,4 milhões, Alexandra Reis considerou-a justa. "É um valor significativo mas também o eram e são as responsabilidades de um administrador, no caso de uma companhia aérea, se cai um avião, a responsabilidade pode ser imputada a cada um dos administradores da empresa. Entendo que é valor muito expressivo, mas era para discussão; eu aceitei uma contraproposta com um valor muito mais baixo que também é muito expressivo, mas também porque as responsabilidades eram muito elevadas", adianta. "Eu não estava à espera que a empresa me pedisse para sair."
CEO contratou pessoas próximas
Durante a audição, Alexandra Reis também mencionou que as pessoas estrangeiras que Christine Ourmières-Widener queria contratar não escondiam a sua proximidade com a mesma. "Alguns diretores para algumas áreas eram relativamente transparentes", considerou. Estas pessoas eram de nacionalidade francesa, detalhou.
Alexandra Reis não falou com Medina sobre indemnização quando foi convidada para Governo
"Quando fui convidada para secretária de Estado, não falámos do meu processo de saída da TAP, nós não falámos sobre a indemnização", garantiu.
TAP: Alexandra Reis teria renunciado sem contrapartida se Governo tivesse dito que preferia
Alexandra Reis disse que teria renunciado aos cargos na TAP, sem contrapartida, se o ex-ministro das Infraestruturas, Pedro Nuno Santos, ou o ex-secretário de Estado, Hugo Mendes, lhe tivessem dito que preferiam que renunciasse.
"Se na altura o senhor ministro, ou o senhor secretário de Estado me tivessem dito que preferiam que eu renunciasse, eu teria renunciado, sem contrapartida", afirmou.
Alexandra Reis reforçou mais tarde que abdicaria da indemnização se tivesse surgido após a mudança da estrutura acionista da empresa, caso tal lhe tivesse sido pedido pelo Governo.
Não falou com ministros sobre entrada na NAV
Alexandra Reis detalhou como se deu o convite para a NAV. O secretário de Estado Hugo Mendes telefonou-lhe para uma "conversa exploratória" e após a nomeação do Governo, deu-se o convite formal. Após a passagem pelo processo da CRESAP, houve um parecer positivo e a 1 de julho de 2022, iniciou funções. Segundo a própria, não falou nem com o ministro das Infraestruturas, nem com o ministro das Finanças.
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