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Covid-19. Portugal já ultrapassou as metas definidas por Marcelo para a Páscoa

Em pouco mais de um mês, o país cumpriu os objetivos de casos e internados traçados pelo Presidente da República para um desconfinamento na Páscoa. Mas uma das metas da ministra da Saúde para meados de Março está ainda por cumprir.

Portugal ultrapassou esta quinta-feira a última das três metas que Marcelo tinha estabelecido para um desconfinamento até à Páscoa, ao registar menos de 200 doentes com covid-19 em cuidados intensivos. Mas uma das metas da ministra da Saúde para meados de Março está ainda por cumprir.

Marcelo Rebelo de Sousa
Marcelo Rebelo de Sousa Lusa

A 11 de fevereiro, o Presidente da República dirigiu-se ao país com avisos, numa altura em que Portugal deixava de ser líder mundial em novos casos e mortes por covid-19. Defendendo a continuação de um estado de emergência, Marcelo Rebelo de Sousa definiu novas linhas vermelhas até à Páscoa, no início de abril.

"Temos, até à Páscoa, de descer os infetados para menos de dois mil, para que os internamentos e os cuidados intensivos desçam dos mais de cinco mil e mais de oitocentos, agora, para perto de um quarto desses valores. Ou seja: uma "estabilização duradoura, sustentada, sem altos e baixos".

Infetados para menos de dois mil por dia

A primeira das metas a ser alcançada foi definida pelo especialista e professor da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, Manuel Carmo Gomes, nas apresentações no Infarmed de atualização sobre a situação da pandemia em Portugal e incluída depois no discurso do Presidente da República.

O primeiro dia em que Portugal registou menos de dois mil novos casos num dia foi a 14 de fevereiro, três dias após as metas definidas por Marcelo, quando foram confirmados 1.650 novos infetados.

Desde então, apenas num dia o país voltou a registar mais de dois mil novos casos - a 17 de fevereiro - e desde 7 de março que não confirma mais de mil novos casos por dia. Esta quinta-feira, a média semanal de novos casos baixou aos 500 casos por dia, algo que não acontecia desde 12 de setembro do ano passado, há mais de seis meses.

 

Para contextualização, após o anúncio do confinamento e do discurso de Marcelo, os números diários da covid-19 andavam perto dos 2.500 novos casos. A última vez que Portugal tinha registado menos de 2.000 novos casos num dia foi a 27 de dezembro, no período após o Natal em que a curva de incidência da segunda vaga baixou ligeiramente, antes do início da terceira vaga.

Ignorando esse período de dezembro em que a testagem foi irregular, Portugal só registou menos de 2.000 novos casos de covid-19 num dia pela última vez a 20 de outubro, quando a curva de incidência da segunda vaga começava a subir. E para encontrar duas semanas em que a média de casos tenha sido inferior a 2.000 novos casos por dia, era preciso recuar até ao período de 9 a 22 de outubro, em que Portugal registou uma incidência de 272 novos casos por 100 mil habitantes.

Menos de 1.000 internados e 200 em UCI

Marcelo definiu também metas para o desconfinamento com base no número de internados com a doença. A barreira dos mil internados foi ultrapassada a 16 de outubro de 2020, no início da segunda vaga e desde então nunca mais Portugal conseguiu baixar esta fasquia até este mês. O mesmo aconteceu com o número de doentes hospitalizados em cuidados intensivos, que ultrapassou a barreira de 200 internados a 24 de outubro do ano passado.

Por altura do anúncio de Marcelo, Portugal contava com mais de 5.500 internados com covid-19 e 836 doentes hospitalizados em UCI. O máximo de internados aconteceu a 1 de fevereiro, com quase sete mil pessoas hospitalizadas, com o máximo de doentes em UCI a ter sido registado a 5 de fevereiro, quando o país chegou a registar 904 pessoas em cuidados intensivos com covid.

 

A meta definida pela ministra da Saúde, e depois por Marcelo, de reduzir o número de internados em UCI para 200 nestas unidades, implicava uma redução de 80% e foi alcançado esta quinta-feira. 

Portugal tem agora 187 doentes internados em cuidados intensivos, chegando a um número que não registava desde 21 de outubro.

Já o número de internados no total, que inclui o número de internados em enfermaria, baixou o limite das mil hospitalizações a 13 de março, no passado sábado, registando agora um total de 828 doentes internados - 641 deles em enfermaria. 

O último dia em que Portugal tinha estado abaixo dos mil internados antes da segunda e terceira vaga foi a 15 de outubro do ano passado, há cinco meses, com os números de internados a registarem novos mínimos desde 9 de outubro de 2020.

Incidência abaixo dos 60 casos por 100 mil habitantes

Dois dias antes de Marcelo falar ao país, Marta Temido tinha anunciado o confinamento por mais 60 dias. Além do limite de 200 internados em UCI, a ministra da Saúde anunciou também um limite de incidência até meados de março, que Portugal não atingiu ainda.

"O patamar a atingir é uma ocupação de unidades de cuidados intensivos abaixo das 200 camas e uma incidência acumulada a 14 dias abaixo dos 60 casos por 100 mil habitantes", disse na altura.

A verdade é que, quase um mês e meio depois, a incidência cumulativa a 14 dias da covid-19 em Portugal não está em valores preocupantes, mas está abaixo dos 60 casos por 100 mil habitantes.

 

O país tem agora uma incidência de 83,5 casos por 100 mil pessoas nos últimos 14 dias, abaixo do limite de 120 definido pelo Governo a 11 de março, quando foi anunciado o plano de desconfinamento por António Costa. 

Esta é a mais baixa incidência do país desde 20 de setembro do ano passado, mas está ainda abaixo dos 60 casos por 100 mil habitantes definido por Marta Temido. Para isso, Portugal terá de confirmar 6.177 casos no espaço de duas semanas, ou seja, uma média de 441 novos casos por dia.

A última vez que tal aconteceu foi a 6 de outubro, quando Portugal registou 427 novos casos de covid-19. No entanto, é preciso recuar até ao início da segunda vaga da pandemia no país para encontrar um período de duas semanas em que Portugal registou 60 novos casos por 100 mil habitantes, ou uma média de 441 novos casos durante duas semanas: aconteceu entre 30 de agosto e 12 de setembro.

 

Índice de transmissão da covid-19 R(t) abaixo de 1,2 

Na reunião para definir as linhas vermelhas que Portugal não pode voltar a ultrapassar, Manuel Carmo Gomes definiu também um limite para o índice de transmissibilidade, que mostra a que ritmo novos casos estão a transmitir a doença a outros. Se o índice for superior a 1 significa que cada infetado propaga a doença, em média, a mais do que uma pessoa.

Desde a última semana, este indicador ganhou nova importância, tendo sido incluído pelo Governo na matriz que define o risco da covid-19, juntamente com a incidência, e que decide se o desconfinamento deve continuar a acontecer ou não. Nesse gráfico, o limite é de 1, e não de 1,2.

 

Segundo dados do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA), o R(t) da covid-19 em Portugal encontrava-se, esta quarta-feira, nos 0.84 em Portugal e nos 0.8 em Portugal Continental. Segundo o último relatório do instituto, apenas Madeira e Açores apresentavam um R acima de 1.

A última vez que, a nível nacional, o país apresentou um R(t) acima de 1,2 foi a 8 de janeiro, altura em que os novos casos de covid-19 começaram a disparar no país. A última região do país a baixar este limite invisível foi Lisboa e Vale do Tejo, que fez prolongar o pico da 3.ª vaga em Portugal até ao final do mês e que apresentava um R de 1,21 a 19 de janeiro.

 

Mais de 90% dos testes à covid-19 com resultado negativo

Outra das linhas vermelhas traçadas por Manuel Carmo Gomes foi a de que o país não pode voltar a uma taxa de testes positivos de 10%, o que significa que em cada dez testes à covid-19 realizados, nove têm de ser negativos.

De acordo com os dados das amostras realizadas, Portugal fez mais de 2,9 milhões de testes desde o início do ano mas, durante o mesmo período, confirmou cerca de 400 mil novos casos de covid-19, o que significa uma percentagem de casos positivos de 13,6%.

Nas últimas semanas, esta taxa baixou consideravelmente. O número de casos baixou, mas o número de testes não baixou ao mesmo ritmo e a percentagem de testes positivos na última semana foi, em média, de 2% - o valor mais baixo desde o mês de setembro.

 

Desde a reunião do Infarmed em que o especialista definiu a linha vermelha, Portugal só voltou a ultrapassar esta barreira de 10% de testes positivos por uma vez, a 15 de fevereiro, e em março só ultrapassou a barreira dos 5% por três vezes, registando até um dia com uma taxa de positividade abaixo de 1%.

Esta terça-feira foi também o dia em que foram realizados mais testes em quase seis meses, com mais de 37 mil amostras recolhidas - o que coincide com o início da testagem em massa nas escolas.

Mais do que alto número de novos casos, a taxa de positividade alta sugere que existem muitos mais casos que Portugal não está a diagnosticar, seja por incapacidade de rastreio ou de testagem.

Desde o fim de outubro e até ao início de fevereiro, Portugal registou consistentemente uma taxa de testes positivos acima dos 10%, com exceção para o período do Natal.

 

No dia em que foi registado o máximo de novos casos num dia no país, 16.432 a 28 de janeiro, a taxa de casos positivos foi de cerca de 23%, após terem sido realizados mais de 70 mil testes.

Devido ao baixo número de testes realizados ao fim de semana, é possível observar melhor a subida da taxa de positividade dos testes à covid-19 numa média a sete dias dos testes realizados e dos casos positivos registados neste intervalo.

Assim, é possível observar que a taxa de positividade dos testes está a baixar - era de 20% no pico da pandemia e está agora nos 2% - bem abaixo dos 10%.

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