Os signatários defendem que, mesmo depois do cessar-fogo em Gaza, o envolvimento indireto de Portugal em operações de transporte de aeronaves ou armamento para Israel deve ser "objeto de total transparência e escrutínio público".
Mais de 100 pessoas pedem esclarecimentos sobre o alegado uso da Base das Lajes, nos Açores, para transporte de armamento e escala de aeronaves militares norte-americanas com destino a Israel, numa carta dirigida a responsáveis políticos e militares.
Base das Lajes: Carta com mais de 100 assinaturas pede esclarecimentos sobre aviões com destino a IsraelJOSE ANTONIO RODRIGUES/AFP/Getty Images
"Esta carta pretende mostrar que um conjunto de pessoas açorianas não desejam ver a sua região servir, ainda que involuntariamente, de instrumento em ações que possam agravar crises humanitárias ou violar compromissos internacionais de paz e direitos humanos", lê-se na missiva, enviada a responsáveis políticos e militares, da região e do país, que conta com 131 assinaturas.
Os signatários alertam para a "crise humanitária de grande dimensão" a que está sujeito o povo palestiniano, e defendem que, mesmo depois de ter sido comunicado um cessar-fogo em Gaza, o envolvimento indireto de Portugal em operações de transporte de aeronaves ou armamento para Israel deve ser "objeto de total transparência e escrutínio público".
Em causa está uma escala, em abril, na Base das Lajes, na ilha Terceira, de três aeronaves F-35, que foram vendidas pelos Estados Unidos da América a Israel.
Essa escala terá sido feita sem comunicação prévia ao Ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Rangel, uma "falha de procedimento" cujas responsabilidades o ministério disse querer apurar.
Os signatários pedem esclarecimentos sobre "a identificação da cadeia de comando responsável pela aprovação e comunicação destas operações, incluindo as entidades portuguesas envolvidas" e sobre "os protocolos de comunicação e cooperação em vigor entre Portugal, os Açores e os Estados Unidos da América no âmbito do Acordo sobre a Base das Lajes (ou documento equivalente)".
Caso a alegada falha de procedimento tenha resultado de uma omissão por parte das autoridades norte-americanas, defendem que a situação deve ser "formalmente reconhecida e comunicada" à Assembleia da República e à Assembleia Legislativa dos Açores, "uma vez que coloca em causa aspetos da soberania nacional e da autonomia regional".
"Pedimos a averiguação desta situação, acompanhada de um comunicado público com a maior celeridade. Propomos que estes comunicados sejam liberados num prazo de 15 dias", apontam.
Os signatários apelam a um "diálogo aberto" e à "transparência quanto à posição do Governo dos Açores em relação a esta e outras crises humanitárias".
"Vários fatores apontam para a instabilidade política e económica dos Estados Unidos da América, também por isso é importante dialogar sobre as nossas relações com este país, principalmente as militares. Esperamos que esta carta sirva como abertura para [um] debate construtivo acerca da transparência e regularidade com que se comunicam esses assuntos aos residentes nesta região", sublinham.
A carta, assinada por 131 pessoas, foi dirigida ao presidente do Governo Regional dos Açores, José Manuel Bolieiro, ao presidente da Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores, Luís Garcia, ao primeiro-ministro, Luís Montenegro, e ao ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Rangel.
Foi também dirigida ao comandante da Base Aérea número 4, coronel João Ricardo Campos da Silva, ao Chefe do Estado-Maior da Força Aérea, general João Cartaxo Alves, e ao Chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas, general José Nunes da Fonseca.
Entre os signatários, há residentes em quase todas as ilhas dos Açores, e em várias partes do continente.
Assinam a carta o deputado único do Bloco de Esquerda nos Açores, António Lima, a ex-deputada do BE Alexandra Manes, o ex-deputado do PCP Aníbal Pires e outros militantes do BE e do PCP.
Entre outros nomes, assinam também o sindicalista Liberato Fernandes e a empresária Sónia Borges de Sousa.
Publicamos para si, em três periodos distintos do dia, o melhor da atualidade nacional e internacional. Os artigos das Edições do Dia estão ordenados cronologicamente aqui ,
para que não perca nada do melhor que a SÁBADO prepara para si. Pode também navegar nas edições anteriores, do dia ou da semana. Boas leituras!
Para poder adicionar esta notícia aos seus favoritos deverá efectuar login.
Caso não esteja registado no site da Sábado, efectue o seu registo gratuito.
Para poder votar newste inquérito deverá efectuar login.
Caso não esteja registado no site da Sábado, efectue o seu registo gratuito.
Falar de "Paz no Médio Oriente" é arriscado. Mas o acordo de cessar-fogo celebrado no Egito foi a melhor notícia desde 7 de outubro de 2023. Desarmar o Hamas e concretizar a saída das IDF de Gaza serão os maiores desafios. Da Ucrânia vêm exemplos de heroísmo e resistência. Em França cresce o fantasma da ingovernabilidade.
A notícia é que Trump não ganhou o Nobel da Paz. É um pouco como na História: sabe-se que Napoleão perdeu a guerra em Waterloo, mas poucos sabem quem foi o vencedor dessa batalha.
A reafirmação autárquica dos partidos do centro, até certo ponto expectável, mostra a importância da proximidade na política para conter o populismo em ascensão.