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'Pais helicóptero' dão origem a filhos inseguros? "As crianças precisam de correr riscos"

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A psicóloga Laura Sanches diz à SÁBADO que o excesso de zelo pode ter consequências negativas no desenvolvimento das crianças.

Uma mãe recorreu ao Supremo Tribunal para que o jogo da "apanhada" fosse considerado perigoso, mas a justiça considerou que a brincadeira é "benéfica" e até "imprescindível para o desenvolvimento psico-motor, social e cognitivo das crianças", pode ler-se no Acórdão. 

Pedro Brutt Pacheco/Correio da Manhã

A psicóloga clínica Laura Sanches, autora de livros sobre mindfulness e parentalidade positiva, concorda e explica à SÁBADO que o excesso de preocupação pode ter até consequências negativas para as crianças. Os chamados pais helicóptero [termo utilizado para designar uma parentalidade superprotetora, com excesso de envolvimento] passam a "mensagem aos filhos de que a relação que têm com eles não é suficiente para as ajudar a lidar com eventuais problemas". Por outro lado, a especialista sublinha que "estamos a transmitir a mensagem às crianças de que elas próprias também não vão ser capazes de lidar com os desafios".

E existem consequências a longo prazo? "Isto acaba por dar origem a crianças mais inseguras e possivelmente mais imaturas", faz notar Laura Sanches. Além disso, a especialista refere que "uma criança que não corre riscos não tem capacidade de se desenvolver, de crescer, e de aprender a lidar consigo e com os outros". Nesta situação concreta, a mãe tomou a decisão de recorrer à justiça depois de, em 2019, o filho de 10 anos, que frequenta o colégio Leonardo da Vinci, em Braga, ter partido a perna durante um "jogo da apanhada" no recreio. Em situações como estas, a psicóloga salienta a importância de existir um adulto disponível para "ajudar a criança lidar com o medo". "É desta forma que se cria a chamada resiliência", acrescenta.

O jornal 'Público' dá nota de que a pretensão desta mãe já foi negada em três tribunais diferentes. A justiça considerou que, apesar de existirem riscos,  o "contacto com o mundo exterior real separado dos ecrãs" é importante para o desenvolvimento de capacidades sociais. A ação também visava o estabelecimento de ensino desta criança e exigia uma indemnização de 60 mil euros.

Para Laura Sanches, a brincadeira em questão é especialmente importante porque "ativa o sistema de alerta das crianças" e "diz ao organismo que existe um desafio". A especialista relembra que o número de adolescentes com ataques de pânico e crises de ansiedade aumentou nos últimos anos e acredita que o facto de "muitos nunca terem tido oportunidade de lidar com situações de alarme" pode contribuir para estes números. "Também há estudos que dizem que os jovens hoje são menos empáticos. Estas brincadeiras podem ajudar neste sentido," conclui a especialista.

O Supremo Tribunal também considerou que a atividade não se configura objetivamente como perigosa. "(...) a atividade de recreio das crianças no jogo da “apanhadinha” na qual o menor participava quando ocorreu o acidente não se pode configurar, objectivamente, como uma actividade de especial perigosidade ou que envolva uma especial potencialidade para gerar danos", diz o acórdão. 

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