PSD Porto: os namoros, os recuos e as negas para as autárquicas
Rui Rio demora a anunciar o candidato ao Porto. E há quem o pressione para uma coligação com Rui Moreira. Mas também já há um plano B para se tudo o resto falhar.
"Vamos olhar para eleição do Porto com vontade de ganhar", dizia Rui Rio, no final de dezembro em entrevista à Antena1. Na altura, Paulo Rangel ainda não era uma carta fora do baralho e o líder do PSD atirava a matar a Rui Moreira, que dizia estar "numa situação muito periclitante", por serarguido no caso Selminho.
Menos de dois meses depois, Rangel parece ter descartado a hipótese, dando sinais de afastamento em relação a Rio. E não circula ainda outro nome tão forte em notoriedade e capacidade política para o lugar de candidato, pelo que há cada vez mais quem ache que não se deve fechar já a porta a um acordo com Moreira.
"Acho que deve ser feito um esforço de um diálogo, já que o eleitorado que tem apoiado Rui Moreira apoia também o PSD", diz àSÁBADOAntónio Tavares, provedor da Santa Casa da Misericórdia do Porto, que chegou a ser dado como possível candidato à câmara nas últimas autárquicas.
Muito próximo de Rui Rio, António Tavares faz questão de frisar que não falou com o líder social-democrata sobre o tema, mas lembra que "o PSD está a preparar uma aliança com o CDS para as autárquicas a nível nacional" e o apoio a Moreira faria ainda mais sentido nessa lógica, uma vez que os centristas apoiam o presidente da câmara.
"Seria bom não se esgotar o diálogo entre as forças democráticas não socialistas", insiste Tavares que, apesar do acordo nos Açores, põe o Chega de fora da equação e abre a porta à Iniciativa Liberal (IL). De resto,os resultados de André Ventura mostram que o partido de extrema-direita valerá pouco na Invicta, onde Tiago Mayan conseguiu um bom resultado.
"Com a IL não me repugna um diálogo. O Chega não joga as regras democráticas, não cumpre os princípios da Constituição", diz Tavares.
E se a aproximação a Moreira for impossível? O provedor da Misericórdia diz que é preciso encontrar "um candidato à altura de ombrear com Rui Moreira", um "perfil próximo de Paulo Rangel".
A carta dos deputados municipais que querem Moreira
A posição de António Tavares junta-se à que foi expressa por três deputados municipais do PSD no Porto, com Pedro Duarte à cabeça. Na missiva, que foi também assinada por Luís Osório e Alberto Lima, questiona-se o que impede o partido de juntar forças ao independente Moreira, quando fazem parte do mesmo espaço político.
"O nosso eleitorado tem dificuldade em entender o que impede a conjugação de esforços, em nome do interesse da cidade, entre aqueles que, defendendo os valores da Democracia e Humanismo, têm uma visão social-democrata, democrata-cristã ou liberal e que, ao contrário da visão socialista ou de extrema-esquerda, acreditam que os portuenses podem construir uma cidade moderna, solidária e com cada vez mais qualidade de vida", escrevem os sociais-democratas, num apelo endereçado a Miguel Seabra, líder da concelhia do Porto.
Miguel Seabra fechou, contudo, a porta ao tema, em declarações aoPúblico, defendendo que "o PSD tem de ter um candidato à Câmara do Porto" e remetendo a escolha para Rio que, segundo explicou, tem estado a falar com os órgãos do partido sobre o tema.
As aproximações e recuos em relação a Moreira
Se Rui Rio não se inibe de usar o caso Selminho para demonstrar como Rui Moreira está fragilizado na corrida para as autárquicas, um dos seus vice-presidentes com a pasta da coordenação autárquica parece ter opinião diferente.
Não passou despercebido no PSD o convite que Salvador Malheiro fez a Rui Moreira – e já agora a Isaltino Morais – para estar em Ovar no dia do município, em julho. Em setembro, foi a vez de Moreira convidar Malheiro para um encontro na Casa do Roseiral, em que o tema forte foi a pandemia.
Nenhum destes encontros pode ser directamente relacionado com as autárquicas de 2021, mas é significativa a aproximação entre o presidente da Câmara do Porto e o vice de Rui Rio.
O plano B
À medida que o tempo passa, cresce a ansiedade dos sociais-democratas portuenses em torno das autárquicas. Basta consultar o jornal oficial do PSD, o Povo Livre, para perceber que alguns núcleos do Porto estão já a definir os perfis dos candidatos. E em Campanhã o presidente do núcleo laranja, Pedro Pereira da Silva, já é candidato assumido.
Nas estruturas locais, assume-se que "à falta de um candidato de primeira linha", o presidente da distrital do PSD Porto, Alberto Machado pode ser uma boa solução para disputar a Câmara.
Machado é presidente da única Junta que o PSD tem no Porto, Paranhos, uma das maiores freguesias da cidade e, segundo uma fonte do partido, teria o perfil para segurar um resultado aceitável para o partido. "Tem grande notoriedade numa freguesia que tem cerca de 20% dos eleitores do Porto", nota a mesma fonte.
António Tavares recusa, porém, as virtudes desta possibilidade. "Não tem perfil para a função", diz àSÁBADO, defendendo que "não pode ser um candidato qualquer do aparelho" a concorrer ao Porto.
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