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Ana Gabriela Cabilhas
Ana Gabriela Cabilhas Nutricionista e deputada do PSD
30 de junho de 2024 às 10:28

Reavivar a história

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Edição de 5 a 11 de agosto

Sem novembro de 1975 não haveria abril de 1974 para comemorar, porque o Portugal sonhado teria sido condenado à penúria, à fricção e ao radicalismo, caso vingasse um regime totalitário comunista.

A minha geração é herdeira de um passado que respeitamos e admiramos. A história sempre nos mostrou o papel único e indelével do 25 de abril de 1974 no caminho para a fundação da democracia em Portugal. Mas, falar em 25 de abril sem destacar o 25 de novembro de 1975 é uma adulteração histórica que se tem perpetuado ao longo dos anos. Até que, o Parlamento aprovou - neste ano simbólico - a sua celebração. 

Sem novembro de 1975 não haveria abril de 1974 para comemorar, porque o Portugal sonhado teria sido condenado à penúria, à fricção e ao radicalismo, caso vingasse um regime totalitário comunista. E, mesmo assim, o 25 de novembro ainda é muito falado entredentes e com receio, como se receio houvesse de algum momento da história que possibilitou que esteja, neste espaço, a expressar em plenitude a minha opinião sobre este tema. 

Infelizmente, a falta de conhecimento histórico é grande, o que está relacionado com a responsabilidade da educação e a forma como poderia ser ensinado na escola. No meu tempo e na minha experiência pela escola faltou aprofundar e contextualizar que o Muro de Berlim foi construído para evitar a fuga da população de um dos lados da Alemanha, pelos diferentes níveis de desenvolvimento, liberdades e formas de vida entre os dois lados. Estas razões, tão pouco exploradas, lembram-me o esquecimento a que é deixado o 25 de novembro. 

Confesso que só anos mais tarde me apercebi da importância do 25 de novembro para o Portugal democrático e livre em que vivemos. As páginas dos livros de História terminavam com os cravos de abril e as referências aos Presidentes da República. Porém, o 25 de novembro era banido. Os mais novos são, assim, influenciados pelo revisionismo histórico crivado com a curadoria dos programas de História, que muitas vezes não é estudada para lá do nono ano.

Os perigos atribuídos a soluções de extrema direita são reais e devemos estar vigilantes e mobilizados contra os seus riscos. Mas, ao mesmo tempo, a história deve recordar-nos que as soluções de extrema esquerda são igualmente radicais, totalitárias e brutais. Ainda hoje, de cada vez que um partido político não condene, no Parlamento Português ou no Parlamento Europeu, a invasão da Rússia à Ucrânia, num qualquer revisionismo histórico de saudade soviética, devemos ter a coragem de levantar a voz. Esta semana, um grupo de soldados ucranianos feridos de guerra esteve na Assembleia da República e recebeu uma ovação de pé de todas as bancadas, com a exceção de um grupo parlamentar que ficou gélido, sentado e sem bater uma única palma à bravura do povo ucraniano.

Quando as democracias liberais são contestadas e forças à esquerda e à direita atentam às liberdades individuais e coletivas que fomos alcançando, devemos evocar os acontecimentos históricos porque nos ensinam, alertam e confrontam. A história não pode ser manipulada, nem usada como arma política ou em função de conveniências. Numa época de rapidez e mensagens simplistas, urge reavivar a história. Porque a nossa democracia, ainda que madura, é frágil e a sua defesa não é um exercício simples. 

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