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World Central Kitchen, a ONG atacada ao matar a fome em Gaza

Organização criada pelo chef José Andrés já forneceu ajuda alimentar em vários países afetados pela guerra ou desastres naturais. Nomes dos sete funcionários mortos já foram revelados.

Sete funcionários da organização sem fins lucrativos World Central Kitchen (WCK) foram mortos ao distribuir comida na Faixa de Gaza na passada segunda-feira, 1 de abril, durante um ataque aéreo israelita. As vítimas eram de nacionalidade australiana, polaca, britânica, e palestiniana, sendo que se encontrava ainda no grupo uma pessoa de dupla nacionalidade norte-americana e canadiana.

REUTERS/Ahmed Zakot/File Photo

Saifeddin Issam Ayad Abutaha, de 25 anos (Palestina), Lalzawmi Frankcom, de 43 (Austrália), Damian Sobol, de 35 (Polónia), James Kirby, de 47 anos, John Chapman, de 57 anos, e James Henderson, de 33 (os três do Reino Unido), Jacob Flickinger, de 33 anos (dupla nacionalidade norte-americana e canadiana) são as vítimas mortais. Mas afinal o que é a World Central Kitchen a que se dedicavam estas pessoas?

Fundada na sequência de uma conversa entre ochefespanhol José Andrés e a mulher Patricia, a World Central Kitchen nasceu em 2010, quando um terramoto que devastou o Haiti levou ochefa distribuir ajuda alimentar num campo de deslocados. Segundo ositeda ONG, foi aí que José Andrés aprendeu a cozinhar corretamente o feijão preto, tal como os haitianos gostam: esmagado e mergulhado num molho cremoso.

Desde então, a World Central Kitchen passou a dar formação, refeições e apoio aos sobreviventes de desastres naturais, bem como a refugiados e a pessoas afetadas por conflitos, como o vivido em Gaza ou na Ucrânia.  

Courtesy of @chefjoseandres via X/via REUTERS

O fundador da organização nasceu e aprendeu a ser chef em Espanha, mas mudou-se para os Estados Unidos quando tinha ainda 21 anos. Começou a trabalhar em Washington como voluntário na organização sem fins lucrativos DC Central Kitchen, onde pensou em dedicar-se à filantropia. Mais tarde, acabou por por fundar a World Central Kitchen, que segundo o jornal El País já forneceu um total de 42 milhões de refeições em 30 países até ao dia de hoje.

Quer as vítimas das cheias ocorridas em 2022 no estado americano de Kentucky e na Austrália, as equipas de salvamento e os bombeiros que lutaram para extinguir os incêndios da Califórnia, ou ainda os afetados pelos terramotos que ocorreram na Turquia, Síria e Marrocos em 2023, receberam ajuda alimentar da WCK. Em fevereiro de 2022, logo após a invasão russa à Ucrânia, a organização começou a distribuir refeições aos refugiados ucranianos, através de um posto fronteiriço no sul da Polónia.

A 6 de maio desse mesmo ano, ou seja, três meses após o início da ofensiva, a WCK já tinha entregado 24 toneladas de alimentos no porto de Odessa. Durante o tempo em que a equipa trabalhou na Ucrânia, uma das cozinhas que estava localizada em Kharkiv foi atingida por um míssil russo, tendo ferido quatro dos funcionários. O cenário voltou a repetir-se, mas com consequências mais graves.

REUTERS/Aleksandra Szmigiel

A equipa do chef José Andrés estaria a distribuir cerca de 100 toneladas de refeições quando foi atingida por um ataque aéreo israelita. "O governo israelita... precisa de parar de restringir a ajuda humanitária, de matar civis e trabalhadores humanitários, e de usar a comida como uma arma", afirmou o chef depois da tragédia. 

O presidente de Israel, Isaac Herzog, já oficializou um pedido de desculpas e garantiu que o ataque não foi realizado com "a intenção de prejudicar os trabalhadores humanitários da WCK".

O primeiro-ministro israelita Benjamin Netanyahu também reagiu: "Infelizmente houve um evento trágico em que as nossas forças magoaram de forma não intencional civis na Faixa de Gaza. Isto acontece na guerra. Estamos a conduzir um inquérito rigoroso e em contacto com os governos [dos países das vítimas]. Iremos fazer tudo para evitar que volte a acontecer."

"Estou desapontada e chocada com o facto de nós - a World Central Kitchen e o mundo - termos perdido belas vidas hoje devido a um ataque seletivo das IDF", disse a diretora-geral da World Central Kitchen, Erin Gore. "O amor que tinham por alimentar as pessoas, a determinação que encarnavam para mostrar que a humanidade está acima de tudo e o impacto que tiveram em inúmeras vidas serão para sempre recordados e acarinhados."

A chamada operação Safeena da WCK culminou a 15 de março, vários meses depois de o Hamas ter dado início a uma guerra em Gaza. Aqui terão sido servidas pelo menos 32 milhões de refeições, de acordo com os dados da organização.

Os alimentos eram entregues via marítima a partir do Chipre, mas como consequência deste ataque, a organização já informou que irá suspender imediatamente as operações na região.

Ao todo, quase 200 funcionários humanitários morreram em Gaza desde outubro. 

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