Os habitantes da primeira cidade do mundo a ser afetada pela pandemia de covid-19 aproveitam, novamente, os pequenos prazeres que há um ano lhes foram retirados. Mas a memória da perda continua presente.
Os longos meses de um duro confinamento já pertencem ao passado em Wuhan, a primeira cidade a ser afetada pela pandemia de covid-19 que, até à data, já matou mais de 2,1 milhões de pessoas em todo o mundo. Enquanto os cidadãos seguem com as suas vidas, não se esquecem de um ditado chinês que alerta para não esquecer a dor depois de a ferida cicatrizar.
Há um ano, o fecho da cidade no centro da China ofereceu uma previsão dos perigos que o vírus trazia. Mas agora, enquanto vários países continuam a impor medidas restritivas para combater a doença – Portugal está no seu terceiro confinamento geral –, Wuhan vive uma pós-pandemia: as máscaras continuam nos rostos de grande parte da população mas a normalidade voltou.
Os habitantes aproveitam, novamente, os pequenos prazeres que há um ano lhes foram retirados. Juntam-se para jantar em restaurantes, dançam em discotecas – locais que para grande parte do mundo parecem ainda muito longe de reabrir – e passeiam pelas ruas que têm já as lojas abertas e prontas a receber clientes. Os trabalhadores procuram lugares para se sentarem no metro que durante o confinamento não abria.
Nas margens do rio Yangtzé há nadadores, saxofonistas e casais que dançam e passeiam de mãos dadas.
"Wuhan é agora a cidade mais segura do país. Não vamos apanhar esta doença", afirmou, ao New York Times, Song Datong, condutor de autocarros reformado que se reúne outra vez com os colegas da Associação de Nadadores de Qingshan.
Mas como sobreviventes, muitos em Wuhan têm medo que o vírus regresse. Ainda de máscaras na cara, continuam a medir a temperatura em lojas e hotéis.
No meio da recuperada normalidade, famílias de luto tentam expulsar os fantasmas que a pandemia deixou. Zhu Tao, de 44 anos, vive num dos bairros de Wuhan que mais sofreu com a covid-19. Continua revoltado com a morte da tia de 82 anos e acredita que perdeu também um primo para a doença, apesar de a certidão de óbito não mencionar o vírus.
"As pessoas à minha volta deixam-me com a sensação que a cicatriz sarou e que esqueceram a dor. Mas eles estão na fase em que a ferida ainda não sarou – mas parece que esqueceram a dor", disse. Por medo que o vírus voltasse, tirou um ano de licença do trabalho e sai de casa o menos que pode.
Veranda Chen tem 24 anos e perdeu a mãe para a doença. A sua morte, explicou ao jornal, deteriorou a relação que tinha com o pai. As celebrações do Ano Lunar com a família não vão acontecer: "Falta uma pessoa".
O confinamento em Wuhan é descrito pelos que lá estiveram como uma espécie de pesadelo. No começo, choque e medo invadiram a cidade enquanto as autoridades asseguravam que o vírus não se deveria alastrar. Tal como sucedeu em muitos países nos meses seguintes, os habitantes correram até aos supermercados para abastecer as cozinhas e até aos hospitais quando aparecia uma febre inesperada. Hospitais foram construídos em dias para tratar os casos que aumentavam a diário e Wuhan encheu-se de barreiras e postos de controlo.
Quando o confinamento foi levantado em abril, 76 dias depois, a cidade revelou ter registado, oficialmente, 50.333 infeções e 3.869 mortes – apesar de estudos recentes sugerirem que o vírus infetou muitos mais.
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