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Ucrânia confirma maior ataque russo deste ano. General diz que guerra chegou a um impasse

Numa entrevista, o comandante das forças armadas faz uma avaliação da guerra com a Rússia, afirmando que ambos os países chegaram a um impasse devido ao nível de tecnologia.

A Rússia realizou o maior ataque de artilharia deste ano, segundo a Ucrânia, enquanto o comandante das forças armadas ucranianas admite que a guerra chegou a um impasse, com poucas perspetivas de que as suas tropas consigam "um avanço profundo e bonito".

REUTERS/Stringer

Os comentários do general surgem numa altura crítica da guerra, em que a contraofensiva ucraniana parece estagnada e a Rússia tem vindo a aumentar a intensidade dos ataques. As tropas de Moscovo têm vindo a bombardear cidades e aldeias ao longo de uma linha da frente de 600 km, tendo nas últimas semanas pulverizado Kherson, cidade que a Ucrânia reconquistou no ano passado, e atacado povoações no Donbass oriental. A contribuir para isso estará um aparente acordo da Rússia com a Coreia do Norte para receber milhões de cartuchos - fornecimento que se acredita suficiente para dois meses.

"Nas últimas 24 horas, o inimigo bombardeou 118 povoações em 10 regiões. Este é o maior número de cidades e aldeias atacadas desde o início do ano", escreveu Ihor Klymenko, ministro do Interior da Ucrânia, nas redes sociais.

A Ucrânia registou um ataque russo a uma refinaria de petróleo em Kremenchuk que, segundo Klymenko, mobilizou cerca de 100 bombeiros. Não foram registadas vítimas. Durante a noite, os bombardeamentos mataram uma pessoa no oblast de Kharkiv, no nordeste do país. Uma outra pessoa morreu na região de Kherson.

A guerra atingiu uma nova fase de combates atribulados, sem que nenhum lado seja capaz de fazer progressos, afirma o chefe das forças armadas da Ucrânia, que refere o facto de ser necessário um desenvolvimento tecnológico significativo para quebrar este impasse. 

Impasse tecnológico

Vinte meses depois da invasão decretada por Vladimir Putin, Valerii Zaluzhnyi reconhece que os seus soldados não conseguiam penetrar nas posições defensivas russas e nos campos de minas. A contraofensiva foi iniciada há cinco meses, com o objetivo de expulsar os russos do sul do país, mas não funcionou.

"Tal como na I Guerra Mundial, chegámos a um nível de tecnologia que nos coloca num impasse, é muito provável que não haja um avanço bonito e profundo", refere Valerii Zaluzhnyi numa entrevista ao The Economist.

De acordo com os manuais da NATO, as forças ucranianas deveriam ser capazes de avançar a um ritmo de 18 km por dia, mas "a realidade era diferente", afirma Zaluzhnyi. Quando os comandantes tiveram dificuldade em fazer funcionar a ofensiva, o general substituiu-os, no entanto, os resultados não melhoraram.

Valerii Zaluzhnyi admite que recorreu a um livro publicado em 1941 por PS Smirnov, major-general soviético, intitulado de Breaching Fortified Defensive Lines, que analisava batalhas da I Guerra Mundial. "Antes de chegar a meio do livro, apercebi-me que é exatamente onde estamos, porque tal como naquela altura, o nível de desenvolvimento tecnológico atual colocou-nos a nós e aos nossos inimigos num estado de letargia", referiu o general.

O general defende que a recente tentativa da Rússia de cercar a cidade de Avdiivka, controlada pelos ucranianos, confirmou a sua tese. As tropas russas iniciaram um ataque de grande escala no mês passado, utilizando tanques e infantaria, tendo conseguido avançar apenas algumas centenas de metros.

"No dia em que lá estive, vimos 140 máquinas russas em chamas, destruídas quatro horas depois de terem entrado no raio de ação da nossa artilharia", recorda Zaluzhnyi, mencionando que os drones apanharam soldados russos quando estes tentavam fugir.

"O simples facto é que nós vemos tudo o que o inimigo está a fazer e eles veem tudo o que nós estamos a fazer, para sairmos deste impasse, precisamos de algo novo, como a pólvora que os chineses inventaram e que continuamos a utilizar para nos matarmos uns aos outros."

Na entrevista, o general confessa que subestimou a vontade de Putin de sacrificar os seus próprios soldados, tendo confirmado que estão "pelo menos 150 mil mortos" até à data. "Sejamos  honestos, [a Rússia] é um estado feudal onde o recurso mais barato é a vida humana, e para nós a coisa mais cara que temos é o nosso povo", afirma.

Os desafios de Zelensky

Nos próximos meses, o governo de Zelensky enfrenta uma série de desafios internos e diplomáticos, já a nível interno, é necessário manter o moral elevado entre a população exausta uma vez que a guerra se arrasta sem um fim à vista.

A nível internacional, o presidente ucraniano tem de garantir que a coligação ocidental que fornece armas a Kiev se mantém unida. Os desenvolvimentos políticos em Washington são motivo de preocupação, uma vez que alguns republicanos têm vindo a manifestar oposição ao apoio militar da administração de Biden a Kiev e à última proposta de um pacote de 61 milhões de dólares.

Zelensky num discurso em vídeo, procurou gerir as expectativas e recordar aos seus parceiros o que a Ucrânia já alcançou. "O mundo moderno habitua-se rapidamente ao sucesso, quando a agressão em grande escala começou, muitos em todo o mundo esperavam que a Ucrânia não resistisse. Agora, as coisas incríveis que o nosso povo e os nossos soldados estão a fazer são vistas como um dado adquirido", sublinhou.

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