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Semana decisiva para a Ucrânia? O que vai ser negociado na Arábia Saudita

Débora Calheiros Lourenço
Débora Calheiros Lourenço 11 de março de 2025 às 07:00
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O principal objetivo de Donald Trump é conseguir acabar com a guerra, independentemente do que isso significar para a segurança na Ucrânia, ao mesmo tempo que garante um acordo para explorar as terras raras ucranianas.

A Arábia Saudita vai ser, esta terça-feira, palco para mais uma iniciativa diplomática, desta vez entre os Estados Unidos e a Ucrânia, a primeira vez que os líderes dos dois países se vão reunir depois da visita do presidente Volodymyr Zelensky à Casa Branca, que culminou com ahumilhação do ucraniano perante os jornalistas.  

REUTERS/Brian Snyder

Apesar de ser, à primeira vista, um destino pouco provável para as negociações para a paz, a Arábia Saudita tem crescido como o local ideal para os diplomatas ucranianos e russos se sentarem à mesa das negociações (mesmo que não seja ao mesmo tempo). As negociações vão ocorrer na cidade portuária de Jaddah.

Além da discutir a guerra na Ucrânia, as autoridades dos Estados Unidos esperam conseguir alcançar um acordo sobre a exploração de terras raras na Ucrânia. Acordo que Kiev espera que garanta o apoio militar para sobreviver à invasão russa, que se arrasta há três anos.

Zelensky - que não vai estar na mesa de negociações - chegou à Arábia Saudita na segunda-feira e antes da viagem garantiu: "Continuamos a trabalhar nas etapas relevantes com os nossos parceiros que querem a paz, que a querem tanto como nós. Haverá muito trabalho aqui na Europa, mas também na América e na Arábia Saudita".

Nas redes sociais, o líder ucraniano também avançou que iria ser acompanhado pelo seu chefe de gabinete Andriy Yermak, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Andriy Sybiha, e o ministro da Defesa, Rustem Umerov. Já do lado norte-americano só é conhecido o nome de Marco Rubio, que vai liderar a equipa americana.

No domingo, Donald Trump mostrou-se confiante: "Acho que eventualmente, e talvez não num futuro distante, vão existir resultados muito bons vindo da Arábia Saudita".

Dmitry Peskov, porta-voz do Kremlin, também comentou a reunião, mas deixou um alerta: "Não importa o que estamos à espera. Importa o que os Estados Unidos estão à espera".

O principal objetivo de Donald Trump é conseguir um acordo que permita acabar com a guerra, independentemente do resultado para a segurança na Ucrânia. Além disso, o líder norte-americano está interessando nas terras raras, com um grande número de minerais críticos, que existem na Ucrânia e é esperado que um acordo a este nível possa acelerar as negociações de paz, ou pelo menos levar os norte-americanos a darem garantias de segurança a Kiev.

Ainda assim, a Europa, que foi mais uma vez deixada de fora da mesa de negociações, continua cética e tem-se mantido, aparentemente, unida num esforço de aumentar a sua autonomia a nível da Defesa, que inclui a defesa da Ucrânia.

Um novo ator mundial? 

Desde que assumiu o poder, em 2017, que o príncipe Mohammad bin Salman assumiu uma postura muito agressiva em relação ao exterior. A sua popularidade assumiu o ponto mais baixo com o assassinato do colunista do Washington Post Jamal Khashoggi, em 2018.

No entanto, nos últimos dois anos começou um esforço para alterar a perceção do exterior relativamente à Arábia Saudita, assumindo-se como uma força dominante no Médio Oriente, e envolvendo-se em negociações sobre as guerras no Sudão, Faixa de Gaza e mais recentemente na Ucrânia.

O governo autocrático sem grande contestação, os meios de comunicação complacentes com o sistema e a distância da guerra tornam possível que as conversas ocorram com mais privacidade e longe dos holofotes.

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