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Saem do Quénia com a promessa de grandes salários mas chegam à Rússia e são enviados para a guerra

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Há pelo menos 200 quenianos a combater pelos russos na guerra contra a Ucrânia.

Há emigrantes quenianos que chegam à Rússia seduzidos pelas promessas de trabalho e bons salários, mas que acabam por ser encaminhados para a frente de batalha na Ucrânia. A BBC conta o caso de um jovem de 22 anos, que saiu de Nairobi a pensar que ia ser contratado como segurança e que foi recrutado para a guerra.

Quenianos combatem pela Rússia na Ucrânia
Quenianos combatem pela Rússia na Ucrânia AP

David Kuloba não tinha trabalho certo na capital do Quénia e um dia disse à mãe que ia para a Rússia. Tinham-lhe prometido 7 mil dólares à chegada, uma quantia de sonho para um jovem da sua idade e sem rendimento fixo. "Eu disse-lhe 'não vês na televisão o que se passa na Rússia?'", contou a mãe.

O jovem insistiu e acabou mesmo por partir, em agosto deste ano, contra a vontade da mãe. Mais tarde, enviou-lhe uma fotografia vestido com um uniforme militar. "Mãe, o trabalho que nos disseram que vínhamos fazer mudou, mas não é muito mau", relatou.

David e os outros quenianos com quem tinha viajado passaram duas semanas num campo de treinos, antes de serem enviados para a frente de combate, na Ucrânia. A mãe desesperou: "Eu disse-lhe 'David, por favor sai já desse lugar'. Ao que ele me respondeu: 'Como posso sair? Assinei um contrato. Dá-me pelo menos um ano'. Mas depois, recebi a mensagem que mais temia..."

A 4 de outubro o agora militar enviou à mãe uma mensagem de voz, dizendo-lhe que ia ser enviado para a frente de combate, mandando-lhe dados do contrato e da sua identificação militar, para o caso de não sobreviver. Foi a última vez que ela soube de David.

Desesperada, a mãe conseguiu entrar em contacto com um amigo do filho, que lhe contou ter ouvido dizer que David tinha morrido. E deu-lhe o número de telefone do homem que os contratou em Nairobi.

Num primeiro contacto ouviu uma mensagem em russo, mas depois conseguiu falar com o indivíduo, que lhe confirmou a morte de David. Apesar dos seus pedidos, nunca chegou a ver o corpo do filho...

Em novembro, o ministro dos Negócios Estrangeiros do Quénia confirmou que pelo menos 200 quenianos estarão a combater pela Rússia na Ucrânia.

O governo está a investigar as redes de recrutamento no país, que prometem grandes salários em bons empregos na Rússia, encaminhando depois estes jovens para a guerra.

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