A mulher lésbica de 45 anos assegurou a nomeação como candidata pelo partido de direita radical às eleições legislativas de fevereiro. E já tem o apoio de Elon Musk.
Aos 45 anos, Alice Weidel é a candidata da Alternativa pela Alemanha (AfD na sigla original) para chanceler nas eleições legislativas de 23 de fevereiro. A economista é uma das principais caras do partido de direita radical de 2017 e Elon Musk deposita nela toda a esperança para que a Alemanha mude de rumo.
REUTERS/Matthias Rietschel
Weidel nasceu na Alemanha Ocidental em 1979, numa família de classe média-alta. Formou-se em Economia tendo conseguido o seu doutoramento na China através de uma bolsa. Esteve cinco anos na China e é, alegadamente, fluente em mandarim.
Depois de concluir os estudos trabalhou como banqueira de investimento na Allianz Global Investors e na Goldman Sachs. Em 2013 integrou a fundação da AfD e, ao contrário de muitos dos fundadores do partido, manteve-se firme nas fileiras quando o partido passou de liberal e eurocéptico a ser um partido cuja principal preocupação é a imigração e a perda de valores tradicionais no país.
Em 2017, a AfD sentiu necessidade de moderar o seu discurso e Weidel foi uma das caras escolhidas para conseguir essa alteração de percepção. Riccardo Marchi, investigador do ISCTE - Instituto Universitário de Lisboa, recorda que antes de se tornar um partido grande, a AfD teve de se moderar e afastar-se do discurso dos membros mais fascistas e neo-nazis. "Weidel é anti-nazi e tem um discurso menos polarizado e sem saudosismos do passado autoritário alemão", descreve o investigador.
Homossexual assumida, mantém uma relação há vários anos com uma mulher de origem do Sri Lanka - Weidel já disse várias vezes que até foi a sua companheira a incentivá-la a juntar-se a um partido de protesto, por estar "cansada" de a ouvir refilar tanto com o estado do país. A candidata a chanceler mora entre a Suíça (onde tem casa com a mulher e os dois filhos do casal) e a Alemanha (onde desenvolve a sua atividade profissional).
Num artigo de opinião escrito para o jornal alemão Die Welt onde defendia a AfD e a sua líder, Musk chamou a atenção para a relação de Alice Weidel para mostrar que não era uma perigosa extremista: "O retrato da AfD como sendo de extrema-direita é claramente errado tendo em conta que Alice Weidel, a líder do partido, tem uma namorada do mesmo sexo e que vem do Sri Lanka! Isto soa-vos a Hitler? Vá lá", escreveu o multimilionário. E na entrevista que lhe fez, tentou mostrar o quão moderadas eram as suas posições.
As bandeiras de Weidel
A semana passada, numa entrevista com Elon Musk transmitida em direto na plataforma X, Weidel mostrou-se contra as políticas de migração adotadas pela Alemanha que considera serem demasiado permissivas, preocupada com a pobreza dos cidadãos mais idosos, com o investimento da Alemanha em energias renováveis e ainda com o estado do ensino no país. "Temos esta agenda louca, woke, socialista e de esquerda no nosso sistema educativo. Por isso, os mais jovens, não aprendem nada nas escolas e nas universidades. Só aprendem sobre estudos de género", lamentou a líder da AfD em entrevista do dono da rede social.
Riccardo Marchi refere que Alice Weidel pertence a um movimento nacionalista conhecido na academia como "femonacionalismo" que diz respeito a líderes de direita radical que assumem "a defesa dos direitos das mulheres para atacar a imigração extraeuropeia". "São políticos bastante liberais que não querem que a mulher retome o seu papel como dona de casa. Veem a mulher como uma força importante do mercado de trabalho e de participação na sociedade e que deve ter direito à independência social e económica", explica o professor que investiga a extrema-direita. "Mulheres como Alice Weidel têm entrado na política para combater aquilo que é conhecido como a ameaça da islamização da Europa", refere Marchi, sublinhando que ao contrário de outros movimentos conservadores, não são tão apegadas às raízes culturais europeias, sendo mais defensoras de uma agenda laica. "Não combatem tanto pelo integralismo católico e pelo regresso dos valores, mas sim contra o retrocesso civilizacional" que sentem que representa a alegada "invasão islâmica da Europa".
Apesar do encanto com o apoio de Musk, Weidel não deixa de defender o protecionismo da economia alemã. Numa entrevista ao site The American Conservative, a líder da AfD sublinhou a sua oposição à construção de uma fábrica na Tesla na Alemanha. No seu entender, há muitos anos que a Europa e os seus estados se tornaram "escravos" dos Estados Unidos e essa subserviência deve acabar. Marchi esclarece que esta é uma das tendências económicas da nova direita europeia. "São liberais na economia, mas contra a globalização", esclarece.
Os delegados no congresso da AfD, que decorreu em Riesa (no leste da Alemanha), este fim-de-semana, elegeram de forma unânime Alice Weidel como candidata às eleições legislativas antecipadas. No seu discurso, a candidata de extrema-direita voltou a defender o fecho de fronteiras, deportações em larga escala e a eliminação de programas de combate às alterações climáticas.
A Alternativa para a Alemanha (AfD) obteve cerca de 19% dos votos nas eleições de 2024, atrás dos conservadores da CDU/CSU (30%) e à frente dos sociais-democratas do chanceler Olaf Scholz (SPD), que chegou ao poder através de uma coligação. E nas sondagens recentes, os socialistas continuam num terceiro lugar atrás da AfD (22%) e da CDU (33%). O SPD tem conseguido entre 15% e 17% das intenções de voto. A AfD está desde 2021 sob vigilância dos serviços secretos alemães por ser considerada uma ameaça à democracia. Os mesmos serviços secretos classificaram em 2023 a organização de juventude deste partido como uma "entidade extremista".
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O Estado português falha. Os sucessivos governos do país, falham (ainda) mais, numa constante abstração e desnorte, alicerçados em estratégias de efeito superficial, improvisando sem planear.
A chave ainda funcionava perfeitamente. Entraram na cozinha onde tinham tomado milhares de pequenos-almoços, onde tinham discutido problemas dos filhos, onde tinham planeado férias que já pareciam de outras vidas.