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Elon Musk interfere na política europeia? "Faz parte da democracia"

Luana Augusto
Luana Augusto 09 de janeiro de 2025 às 07:00
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À SÁBADO, Diana Soller e Jaime Nogueira Pinto contrariam a opinião de dirigentes europeus que consideraram Elon Musk um perigo: "É mais perigoso como os líderes europeus estão a reagir."

O chanceler alemão Olaf Scholz? Um "idiota incompetente". O primeiro-ministro britânico Keir Starmer? Um "tirano malvado que devia estar na prisão". As descrições são de Elon Musk, um dos principais aliados de Donald Trump que agora tem demonstrado interesse na política europeia, com França, Espanha, e Noruega - além de Reino Unido e Alemanha - a criticarem-no como anti-democrático e perigoso. 

AP Photo/Evan Vucci, File

Mas apesar das diversas críticas que tem sido alvo, especialistas ouvidos pela SÁBADO garantem que o bilionário é livre de expressar as suas opiniões, mesmo que estas possam influenciar, por exemplo, as eleições alemãs de 23 de fevereiro. "Consigo compreender os deres europeus. É complicado ouvir um homem que tem o potencial de conseguir influenciar pessoas, mas em nenhum momento Elon Musk violou a liberdade de expressão", começa por defender à SÁBADO Diana Soller, investigadora no Instituto Português de Relações Internacionais da Universidade Nova de Lisboa.  

"Elon Musk é um cidadão comum que simplesmente expressou as suas opiniões via meios de comunicação social tradicionais. Tudo começou com um artigo de opinião onde escreveu que apoia a Alternativa para a Alemanha (AfD), e onde exprimiu a sua opinião enquanto homem que não percebe nada de ciência política. Claro que isto suscitou opiniões díspares, mas isto faz parte da democracia", acrescenta a especialista.

Elon Musk, que é também conselheiro de Donald Trump, manifestou o seu apoio a Alice Weidel, candidata a chanceler por parte do partido alemão de extrema-direita Alternativa para a Alemanha (AfD). Além disso, chamou o chanceler alemão, Olaf Scholz, de "tolo" e "tirano antidemocrático". A sua constante participação na política europeia fez soar os alarmes de tal facilitar uma vitória para a extrema-direita.

REUTERS/Annegret Hilse TPX IMAGES OF THE DAY

"Musk defende posições de direita, e a esquerda e o centro estão preocupados com o progresso da direita na Europa", explica à SÁBADO o politólogo Jaime Nogueira Pinto. "Elon Musk não me parece um perigo para a democracia. Além disso, não percebo por que influenciar as eleições por meios públicos pode ser perigoso para a democracia. Não partilho dessa preocupação. Os influencers contra a AfD também podem influenciar o eleitorado."

Sobre as eleições na Alemanha, Diana Soller diz ainda não ter noção "do peso que um artigo de opinião pode ter no eleitorado alemão", mas ainda assim defende que "qualquer cidadão, independentemente do grau de escolaridade ou do dinheiro na conta, pode tentar influenciar o mundo ao expressar a sua opinião". Garante também que "é mais perigoso como os partidos políticos estão a reagir". "Isto sim é uma posição anti-democrática", diz.

O caso mais recente aconteceu na quarta-feira (8), quando o primeiro-ministro espanhol Pedro Sanchez atacou Elon Musk devido aos seus comentários destinados à política europeia.

"A extrema-direita internacional à qual Espanha se opõe há anos, liderada neste caso pelo homem mais rico do planeta, [Elon Musk], ataca abertamente as nossas instituições, incita ao ódio e apoia abertamente os herdeiros do nazismo na Alemanha", referiu Pedro Sánchez num discurso em Madrid enquanto participava num evento para comemorar o 50º aniversário da morte do ditador Francisco Franco.

REUTERS/Violeta Santos Moura

Segundo Diana Soller, este receio por parte da Europa pode dever-se ao facto de Elon Musk ter a capacidade de influenciar milhares de pessoas. Contudo, frisa que não é por isso que o bilionário deve ficar impossibilitado de partilhar a sua opinião. "Elon Musk tem a capacidade chegar a um número de pessoas estrondoso, porque é dono de uma rede social. Mas o que pode pôr realmente em risco a democracia é a desregulação das redes sociais ou a regulação através dos privados. Não a opinião de um cidadão."

Desinformação preocupa especialistas

Para Diana Soller esta notícia traz, assim, dois problemas: "Um deles relaciona-se com a liberdade de expressão e o outro são as redes sociais, que constituem um problema para a sociedade, mas que ainda ninguém conseguiu perceber como se faz para diminuir a desinformação sem roubar a liberdade de expressão", refere. 

Este último foi, aliás, um dos problemas mencionados pelo primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, que parece ter-se referido a Elon Musk como aquele que "espalha mentiras e desinformação".

"Aqueles que estão a espalhar mentiras e desinformação o mais longe possível não estão interessados nas vítimas", apontou Keir Starmer ao referir-se a um comentário de Elon Musk que descrevia a vice-ministra britânica da proteção e violência contra mulheres e raparigas, Jess Phillips, como uma "apologista do genocídio por violação".

REUTERS/Toby Melville

Face às acusações, Diana Soller discorda que Elon Musk seja um transporte de desinformação. "Keir Starmer está zangado porque foi desencadeado um escândalo que, aparentemente, não foi acautelado no Reino Unido", relacionado com um escândalo de abuso sexual de crianças que revelou como gangues de homens, na maioria de origem paquistanesa, traficaram e violaram raparigas há mais de uma década. Keir Starmer, que liderava o Ministério Público, frisa que agiu contra esses gangues.

A Comissão Europeia (CE), entretanto, já informou que Elon Musk tem direito à liberdade de expressão. Porém, avisou que irá analisar qualquer risco que possa ter para a democracia e para as próximas eleições na Alemanha, fazendo assim referência à Lei dos Serviços Digitais da UE.

"Existem certos limites, especialmente quando uma plataforma é utilizada ou abusada neste contexto", sublinhou o porta-voz Thomas Regnier.

Quanto a esta notícia, Diana Soller lamenta que a liberdade de expressão tenha que ter limites. "A liberdade de expressão não devia ter limites", garante.

Ainda assim, Jaime Nogueira Pinto está convencido que qualquer medida de "censura" não terá impacto no bilionário. "A Comissão Europeia mete limites que são fora dos limites, mas Musk parece capaz de dar a volta a isso. Tem meios próprios e uma plataforma própria. Isso faz com que seja mais difícil de calar os outros. E se lhe meterem um processo, tem dinheiro para pagar advogados."

Elon Musk foi nomeado pelo presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, para chefiar o departamento de Eficiência Governamental. O novo governo de Trump tomará posse a 20 de janeiro.

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