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Putin no discurso de vitória: Rússia não se vai deixar "intimidar" pelo ocidente

Andreia Antunes
Andreia Antunes 18 de março de 2024 às 11:18
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Reeleito presidente Vladimir Putin centrou o seu discurso de vitória na ofensiva na Ucrânia, tendo afirmado que a sua principal tarefa será "reforçar a capacidade de defesa e as forças armadas". Pela primeira vez, mencionou a morte de Alexei Navalny. 

"Temos muitas tarefas pela frente", disse Vladimir Putin no discurso após avitória nas eleiçõesque o reconfirmaram no cargo de presidente da Rússia. "Quando estávamos consolidados, nunca ninguém conseguiu assustar-nos, suprimir a nossa vontade e a nossa autoconsciência. Falharam no passado e falharão no futuro."

REUTERS/Maxim Shemetov

Vladimir Putin obteve uma vitória esmagadora nas eleições presidenciais, garantindo mais seis anos no poder, enquanto milhares de pessoas protestavam contra o seu governo, a guerra na Ucrânia e as eleições encenadas que apenas podiam ter um vencedor.

Nas votações, denunciadas pelos Estados Unidos, Alemanha e Reino Unido como "obviamente não livres nem justas", Putin obteve 87% dos votos, de acordo com as sondagens publicadas pelo Centro de Pesquisa de Opinião Pública da Rússia. Já a Fundação da Opinião Pública apurou 87,8% votos em Putin.

"O que é que vocês queriam, que eles nos aplaudissem?", afirmou o presidente russo na sede da sua campanha, referindo-se às críticas ocidentais como "esperadas". "Eles estão a lutar connosco num conflito armado, o seu objetivo é conter o nosso desenvolvimento. É claro que estão prontos para dizer qualquer coisa."

Durante o seu discurso, a ofensiva na Ucrânia foi o tema central, tendo afirmado que a sua principal tarefa enquanto presidente será a guerra na Ucrânia "reforçando a capacidade de defesa e as forças armadas". 

"Penso que tudo é possível no mundo moderno", referiu Putin quando questionado sobre a possibilidade de um conflito direto com a NATO. "Toda a gente compreende que isto estaria a um passo de uma terceira guerra mundial em grande escala. Não creio que alguém esteja interessado nisso."

Já sobre a morte do seu maior opositor, Alexei Navalny, afirmou que pouco antes da sua morte tinha aprovado uma troca do crítico do Kremlin por prisioneiros russos no Ocidente. "Infelizmente, aconteceu o que aconteceu", disse. "Concordei com uma condição: trocamo-lo e ele não volta, mas a vida é assim."

Perante a previsível vitória de Putin, a oposição russa procurou organizar a sua própria demonstração de força. Longas filas foram-se formando nas várias assembleias de voto em Moscovo e noutras cidades russas, perante o apelo de Yulia Navalnaya, viúva de Alexei Navalny, para que os seus apoiantes comparecerem nas urnas ao meio-dia, na demonstração simbólica de força, designada como "meio-dia contra Putin".

Numa aparição na embaixada russa em Berlim, Yulia Navalnaya foi recebida com aplausos e cânticos dos eleitores. "Dão-me esperança de que tudo não é em vão, de que continuaremos a lutar", afirmou numa publicação no domingo. A própria equipa de Navalny também apelou aos seus apoiantes que escrevessem "Alexei Navalny" no boletim do voto.

Os procuradores russos ameaçaram com cinco anos de prisão todos os eleitores que participaram na ação "meio-dia contra Putin", tendo sido registadas algumas detenções em Moscovo e São Petersburgo, e na cidade de Kazan, no sul da Rússia.

Foram também registadas várias ocorrências de atos individuais de protesto, incluindo derrame de tinta e ataques incendiários nas urnas e assembleias de voto. O antigo presidente russo, Dmitry Medvedev, declarou que os responsáveis poderiam ser condenados a penas de prisão de 20 anos por traição. O Ministério do Interior da Rússia declarou ter apresentado 155 acusações administrativas e aberto 61 processos penais durante as eleições, incluindo 21 casos de obstrução dos direitos dos eleitores.

As críticas do Ocidente

Estas eleições foram rapidamente criticadas pelos países ocidentais. "As eleições não são livres nem justas, tendo em conta que Putin prendeu opositores políticos e impediu que concorressem contra ele", afirmou John Kirby, porta-voz do Conselho de Segurança Nacional dos Estados Unidos.

Já Volodymyr Zelensky, presidente da Ucrânia, afirmou que Putin se tinha tornado "viciado no poder". "Esta imitação de 'eleições' não tem legitimidade", disse. "Esta pessoa tem de ir parar ao banco dos réus em Haia, é isso que qualquer pessoa no mundo que valorize a vida e a decência tem de garantir."

Também o Ministério dos Negócios Estrangeiros alemão criticou estas eleições. "A pseudo-eleição na Rússia não é livre nem justa, o resultado não surpreenderá ninguém", partilhou na sua página do X. "O governo de Putin é autoritário, baseia-se na censura, na repressão e na violência. As 'eleições' nos territórios ocupados da Ucrânia são nulas e mais uma violação do direito internacional."

Durante a campanha eleitoral, o Kremlin desqualificou os candidatos anti-guerra. O presidente russo não enfrentou assim qualquer contestação significativa, os três outros políticos que concorreram não questionaram a autoridade de Putin, já que a sua participação destinava-se meramente a dar legitimidade à corrida.

O governo russo afirmou que a participação nestas eleições foi a mais alta da história, com 74% do eleitorado. O candidato comunista, Nikolai Kharitonov, ficou em segundo lugar com cerca de 4%, o recém-chegado Vladislav Davankov em terceiro e o ultranacionalista Leonid Slutsky em quarto lugar.

Em 2029, Vladimir Putin irá ultrapassar Josef Estaline, que governou a União Soviética (antiga Rússia) durante 29 anos. Nessa altura será o líder com mais tempo de governo desde o império russo.

Com as alterações constitucionais que Vladimir Putin, de 72 anos, orquestrou em 2020, o mesmo pode candidatar-se a mais dois mandatos de seis anos, o que lhe permitirá permanecer no poder até 2036.

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