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Polícia de Londres apontada como "institucionalmente racista, sexista e homofóbica"

Estudo refere que mulheres e crianças não recebem a devida proteção e que profissionais de minorias étnicas são frequentemente discriminados. Reino Unido poderá pôr em prática uma "reforma radical" na MET.

Uma comissão independente levou a cabo um "estudo profundo" à Policia Metropolitana de Londres (MET) e constatou que a instituição é estruturalmente "racista, misógina, homofóbica e incapaz de se auto-policiar". O trabalho foi encomendado pela então diretora da instituição, Cressida Dick, e publicado esta terça-feira.

REUTERS/May James

"Encontramos situações de bullying generalizado, discriminação, homofobia institucional, misoginia, racismo e outros comportamentos inaceitáveis", alertou Louise Casey, deputada da câmara alta do parlamento e uma das líderes da investigação.

De acordo com a imprensa inglesa, o documento de 360 páginas refere que foram encontradas "falhas graves no MET", que houve "casos de violações" que foram abafados e que as "mulheres e as crianças não estão a receber a proteção e o apoio que merecem". Esclarece ainda que a instituição tem instalada uma "cultura masculina de defesa e negação" que não permite uma evolução.

"Este relatório é rigoroso, rígido e implacável. As conclusões são duras e provavelmente serão difíceis de aceitar. Não podemos ter dúvidas da escala deste desafio",pode ler-se no mesmo.

Kirsty O'Connor/REUTERS

Mas os problemas não são apenas para fora e dentro da instituição também foram encontradas situações graves. O relatório diz que os oficiais de minorias étnicas têm mais probabilidades (no caso de polícias negros a percentagem é de 81%) de ser condenados em casos de "má conduta" que os colegas brancos. Três casos específicos foram apontados como exemplo: um polícia sikh (um religião criada na região do Paquistão e Índia) foi obrigado a aparar a barba, um outro polícia viu o seu turbante ser posto dentro de uma caixa de sapatos e um muçulmano encontrou pedaços de bacon dentro das suas botas.

Ficou ainda provado que algumas esquadras faziam rituais de iniciação – que incluíam urinar sobre um novato no chuveiro – e que eram habituais "brincadeiras" que envolviam os oficiais do sexo masculino mexerem na genitália dos colegas e colocarem brinquedos sexuais em canecas de café.

Ao mesmo tempo, o documento esclarece que a discriminação com as profissionais do sexo feminino é uma realidade presente.

CARL DE SOUZA/REUTERS

Mark Rowley, o atual diretor da polícia de Londres, disse aos jornalistas que reconhecia os dados mas que não considerava que o problema estivesse "enraizado", a título de exemplo referiu que existem profissionais racistas, mas considera que a instituição em si não o é. Mesmo assim lamentou as descobertas.

"O relatório gera uma série de emoções: raiva, frustração, constrangimento. Mas, acima de tudo, gera determinação (…) Não posso dizer que vamos chegar ao risco zero, mas todos os dias estamos a trabalhar no sentido de irradiar pessoas com comportamentos incorretos (…) Dececionamos os londrinos e dececionamos a nossa instituição e este relatório mostra isso claramente".

Rishi Sunak, primeiro-ministro do Reino Unido, confirmou que a "confiança" da sociedade civil no MET ficou "extremamente prejudicada" e garantiu que é essencial "trabalhar para que estas situações não se repitam e para restabelecer a confiança das pessoas".

Como pontos essenciais de atuação, o relatório refere que para que a mudança seja possível, a Policia Metropolitana de Londres precisa de "uma liderança forte", de um serviço de proteção para as mulheres e de uma nova estratégia para crianças.

Este estudo foi pedido em 2021, depois de ter sido tornado público que um oficial tinha sido condenado a prisão perpétua por violar e assassinar uma jovem,Sarah Everard. Mais recentemente surgiu o caso deDavid Carrick, um polícia britânico condenado a 30 anos de prisão por ter cometido mais de 71 crimes sexuais graves ao longo da carreira.

Já em 1999 o MET tinha levado a cabo um estudo idêntico depois do assassinato de um adolescente negro, Stephen Lawrence, um caso que foi o ponto de partida para uma série de denúncias de racismo estrutural na instituição.

REUTERS/May James
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