Magnata da tecnologia deu uma palestra que "mudou a vida" do candidato republicano a vice-presidente dos EUA. Depois deu-lhe um emprego e 15 milhões de dólares para chegar a senador.
JD Vance, o candidato a vice-presidente de Trump, tem um anjo da guarda que vela pela sua ascensão social. O seu nome é Peter Thiel e é um dos homens mais ricos do planeta. Quando o jovem Vance se candidatou a senador do Ohio, o fundador da PayPal deu-lhe 15 milhões de dólares para a campanha e convenceu outros milionários a investirem no jovem político que se tornou conhecido por escrever uma elegia à América profunda. Mas Thiel foi também essencial por aproximar Vance de Donald Trump e sanar a relação dos dois. E a chegada do seu protegido à Casa Branca pode acabar por ser um dos investimentos de maior sucesso da vida do multimilionário.
A relação de Vance com Thiel é já antiga, tendo sido o fundador da PayPal um dos responsáveis por ajudar o atual candidato a vice-presidente a passar de promissor empresário e senador. Os dois conheceram-se em 2011, depois de uma palestra dada por Thiel na Yale Law School. Num artigo publicado na revista The Lamp, Vance caracterizou esta palestra como "o momento mais importante" do seu tempo naquela instituição. A palestra levou o jovem a decidir mudar o rumo da sua vida, deixando para trás o direito e abraçando também a sua fé. A fé cristã de Thiel "desafiou a construção social que eu tinha de que as pessoas burras eram cristãs e as inteligentes ateus", escreveu ainda Vance.
Em 2015, com 31 anos e depois de cumprir uma comissão no Iraque com os fuzileiros e ter trabalhado como advogado, Vance juntou-se à Mithril Capital, fundada por Thiel, tendo encontrado neste um mentor, escreve o jornal Politico. Foi quando ainda estava na Mithril Capital que Vance publicou, em 2016, Lamento de Uma América em Ruínas - Memórias de Uma Família e de uma Sociedade em Crise (Hillbilly Elegy, no original), o livro que o trouxe para a ribalta política, sendo apelidado como uma voz importante da "América esquecida". Nessa altura era um feroz opositor de Donald Trump. Chegou mesmo a sugerir que o candidato republicano podia ser "o Hitler da América" e afirmou que um conservador do género "Trump nunca".
Em 2017, Vance deixou a Mithril Capital para se juntar à empresa de investimento Revolution. Dois anos depois, decidiu lançar a sua própria empresa de capitais de risco, a Narya Capital, que recebeu apoio de Thiel e outros investidores como Marc Andreessen ou Eric Schmidt, da Google.
Por esta altura, a sua relação com a presidência Trump já se tinha amenizado, tendo mesmo integrado o núcleo dos que defenderam que as eleições de 2020 ganhas por Biden "não foram justas". Tornou-se ainda mais próximo de Trump depois de um encontro patrocinado por Thiel, em 2021, que levou o autor até ao resort de Mar-a-Lago para os dois se conhecerem, apurou o The New York Times. Esse encontro era essencial para Vance conseguir o apoio de Trump à sua candidatura a senador pelo Ohio. A reunião terminou com ambas as partes em acordo e Trump passou a apoiar Vance.
Durante a corrida a senador, Thiel contribuiu com 15 milhões de dólares, um recorde de maior doação única de sempre a um candidato a senador. O antigo empregador de Vance foi ainda instrumental em convencer outros milionários em apoiarem o jovem, incluindo David Sacks. E esse investimento pode estar quase a valer muitos milhões a Thiel.
Peter Thiel, de 53 anos, é co-fundador da PayPal e um dos primeiros investidores do Facebook e que já referiu a sua intenção de viver "para sempre". Quando, um dia, lhe perguntaram a sua opinião sobre a morte, deu a resposta: "Sou, basicamente, contra".
Thiel investiu na Unity Biotechnology, uma empresa em busca de um remédio contra o processo de envelhecimento celular, conhecido como senescência. Bezos também investiu na Unity quando a empresa angariou 116 milhões de dólares no outono de 2016.
De acordo com a Forbes, Peter Thiel tem um valor de cerca de 7,9 mil milhões de dólares, valor conseguido por ter sido um dos primeiros investidores no Facebook, bem como os seus investimentos em empresas de Elon Musk como a SpaceX. Agora, com a possibilidade de ter um aliado na vice-presidência da Casa Branca, Thiel pode vir a ganhar ainda mais dinheiro, já que uma das suas principais empresas é a Palantir, empresa que tem milhares de milhões de dólares em contratos com o governo norte-americano na indústria da tecnologia de defesa nacional e que pode ver a sua posição reforçada com um aliado na Casa Branca.
Thiel afirmou recentemente que se lhe apontassem uma arma à cabeça votaria em Trump, o que dá a entender um apoio relutante ao candidato republicano. Anteriormente o multimilionário já tinha dito que não iria fazer qualquer doação à campanha de Trump nestas eleições, depois de em 2016 ter feito uma doação de um milhão de dólares. Ankur Jain, diretor executivo da Bilt Rewards, destacou durante uma entrevista no Last Call da CNBC que o relacionamento próximo de Peter Thiel com JD Vance pode levar a uma reavaliação da posição anterior de Thiel sobre doações a Trump. "Ele [Thiel] já havia declarado que não ia contribuir para a campanha Trump. Mas dada a sua relação com JD Vance, acredito que essa decisão possa mudar", sugeriu.
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