Diplomata, embaixador, político, oficial da Marinha e vice-director da CIA. Frank Charles Carlucci III, nascido em 18 de Outubro de 1930 na Pensilvânia, teve um percurso longo e intenso, e conseguiu deixar uma marca na diplomacia norte-americana – e na portuguesa.
Durante a sua carreira, esteve ligado a nomes importantes da política norte-americana como Donald Rumsfeld, secretário da Defesa no tempo de Gerald Ford, Caspar Weinberge, que viria a ocupar o cargo de secretário da Defesa, e Ronald Reagan, governador da Califórnia na altura, e conseguiu construir uma carreira importante durante quatro administrações norte-americanas. Tornou-se também uma figura republicana importante no Pentágono e associou-se a nomes relevantes da política dos EUA.
Antes de ingressar na política, passou pela Marinha e estudou na universidade de Harvard, iniciando o seu percurso na diplomacia em 1956 e tendo a sua primeira prova de fogo em 1960 quando é enviado para o Congo pós-independente.
Além do seu trabalho como político, o antigo diplomata foi presidente da Carlyle, um grande fundo de investimento norte-americano, que contava ainda com James Baker e George W. Bush (alguns anos depois) - antigos políticos do Partido Republicano -, depois da eleição de George H.W. Bush em 1989. Carlucci deixou o governo, mas não perdeu a sua influência em Washington.
Sob a sua administração, a Carlyle tentou comprar a Petrogal em 2004, num consórcio conjunto com Grupo Espírito Santo e a Americo Amorim (o negócio acabou por ficar sem efeito) e esteve envolvido em negócios do fundo que envolveram Portugal, como a imobiliária Euroamer.
Depois da temporada diplomática em Portugal, Carlucci regressou aos EUA para ocupar o cargo de secretário de Estado da Defesa entre 1987 e 1989, sob a administração de Ronald Reagan. Neste trabalhou tornou-se uma figura decisiva no maior investimento militar dos EUA até agora: o investimento de 1,4 biliões em cinco anos, que foi determinante nas conversações e diplomacia entre os Estados Unidos e a União Soviética de Mikhail Gorbachev.
A sua carreira terminou com o posto de conselheiro de Defesa Nacional em 1986 e no seguinte como secretário da Defesa, um cargo que exerceu durante 14 meses.
Carlucci queria impedir Portugal de se tornar um país comunista
O diplomata esteve presente em Portugal durante uma época conturbada - o Verão Quente de 1975 (período pós-25 de Abril marcado por confrontos entre forças de esquerda portuguesas, que defendiam a tomada de poder pela força revolucionária, e outras facções políticas de centro e de direita que queriam uma democracia eleitoral). Carlucci tornou-se uma peça-chave do apoio norte-americano a Mário Soares e procurou ajudar na transição de Portugal de ditadura para democracia.
Contudo, este não foi o único papel de Carlucci em Portugal. O antigo secretário da Defesa e Conselheiro de Segurança Nacional na administração de Ronald Reagan foi enviado para Portugal com uma missão específica: tentar evitar que o país se tornasse comunista, seguindo as indicações de Henry Kissinger. "Em 1974, quando os militares portugueses derrubaram a ditadura de direita em Lisboa, o então secretário de Estado [Henry] Kissinger demitiu o embaixador [Stuart Nash Scott] e enviou Carlucci para impedir que Portugal se tornasse o primeiro país da Europa Ocidental a tornar-se comunista", referiu o The Washington Post.
Kissinger, o então Secretário de Estado, estava céptico na capacidade de Portugal de se assumir como uma democracia e acreditava que o País acabaria por adoptar um regime comunista. Por estes motivos queria isolar Portugal na NATO e cortar programas de assistência americanos. Carlucci discordava desta tomada de posição e insistiu que Portugal poderia estabelecer-se como democracia.
No livro Carlucci vs. Kissinger - Os EUA e a Revolução Portuguesa, de Bernardino Gomes e Tiago Moreira de Sá, é defendido que Carlucci admitiu ter coordenado directamente actividades da CIA em Portugal durante o Verão Quente. Para atestarem este papel do diplomata neste episódio político, os autores recorreram a documentos desclassificados de arquivos norte-americanos e conseguiram reconstruir as acções do governo norte-americano no país entre 1974 e 1976, períodos conturbados na política portuguesa.
"Tudo o que a CIA fez foi sob o meu comando. Qualquer acção que possa ter desenvolvido destinava-se a executar a política dos EUA, que era apoiar as forças democráticas em Portugal. A CIA era parte da equipa [da embaixada] e eles faziam o que lhes mandava", comentou Frank Carlucci na obra.
A acção de Carlucci em Portugal esteve também associada à CIA (a agência de espionagem norte-americana), onde o diplomata tinha assumido um posto importante antes de vir para Portugal.
Em 2004 foi condecorado com a grã-cruz da Ordem do Infante D. Henrique pelo primeiro-ministro, Pedro Santana Lopes. Posteriormente, foi uma das doze figuras distinguidas com as medalhas da Defesa Nacional pelo então ministro da Defesa Paulo Portas. Ambas as distinções foram fortemente contestadas pelo PCP.
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