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Estudante italiano desaparecido no Cairo encontrado morto com sinais de tortura

05 de fevereiro de 2016 às 08:01
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O estudante desaparecido há dez dias foi encontrado morto numa vala, meio despido e apresentando sinais de tortura, levando o Governo italiano a exigir ao Egipto "toda a verdade" sobre o caso

Um estudante italiano desaparecido no Cairo há dez dias foi encontrado morto numa vala, meio despido e apresentando sinais de tortura, e o Governo italiano já reagiu, exigindo ao Egipto "toda a verdade" sobre o caso.

Giulio Regeni, de 28 anos, doutorando na Universidade de Cambridge, no Reino Unido, estava a fazer investigação para uma tese sobre movimentos operários no Egipto, quando desapareceu a 25 de Janeiro no centro da capital egípcia.

Naquele dia, em que se assinalava o 5.º aniversário da revolta popular de 2011 que pôs fim ao regime de Hosni Mubarak, o Governo egípcio, que reprime todas as formas de oposição, tinha proibido qualquer concentração e polícias e soldados patrulhavam a cidade.

O corpo do jovem foi descoberto na quarta-feira numa vala à beira da estrada junto à localidade de 6 de Outubro, um subúrbio do Cairo, anunciou hoje Hossam Nassar, magistrado do ministério público, citado pela agência de notícias francesa AFP.

"Trata-se de um assassínio: havia contusões e ferimentos no corpo e só tinha roupa da cintura para cima", declarou.

"Havia hematomas e ferimentos em todo o corpo, em particular no rosto e nas costas e estava despido da cintura para baixo", confirmou Ahmed Nagui, chefe do ministério público encarregado dos assuntos criminais no Cairo.

O relatório do ministério público refere também "queimaduras de cigarros à volta dos olhos e na planta dos pés".

"Queremos que seja revelado de forma completa e aprofundada o que aconteceu", exigiu o ministro dos Negócios Estrangeiros italiano, Paolo Gentiloni, em declarações à televisão italiana RAI.

Em Londres para participar numa conferência de doadores sobre a Síria, Gentiloni reuniu-se com o seu homólogo egípcio, Sameh Chukri, e os dois acordaram "reforçar a cooperação e a coordenação entre as duas partes para determinar as causas da tragédia", segundo um comunicado do ministério dos Negócios Estrangeiros egípcio.

Roma exigiu ao Cairo "uma investigação conjunta com a participação de peritos italianos".

Embora todas as hipóteses sobre a morte do estudante italiano permaneçam em aberto – incluindo a de crime de ódio –, as redes sociais e os meios diplomáticos no Cairo apontam com insistência a de um possível erro policial, num país onde a polícia e os serviços secretos são regularmente acusados pelas organizações de defesa dos direitos humanos de deter, espancar, torturar e manter presas pessoas sem julgamento.

Vários casos de mortes violentas de egípcios em esquadras deram origem, nos últimos meses, a processos judiciais contra polícias.

O próprio Presidente, Abdel Fattah al-Sissi, exortou recentemente a polícia a mostrar contenção.

Hoje ao fim da tarde, o embaixador de Itália deslocou-se à morgue central do Cairo, onde o cadáver do jovem foi autopsiado.

Segundo o relato de amigos estudantes no Cairo nas redes sociais, Giulio Regeni terá desaparecido pelas 20h locais, quando se deslocava da casa que partilhava com outra pessoa no centro do Cairo para uma estação de metro.

Depois da queda de Mubarak, em 2011, Al-Sissi, então chefe do exército, destituiu e mandou prender a 3 de Julho de 2013 o Presidente islamita eleito Mohamed Morsi, e lidera desde então um regime que reprime violentamente qualquer oposição: islâmica, laica ou liberal.

Foi eleito Presidente em maio de 2014, na ausência de uma oposição credível e graças a uma forte popularidade.

Mais de 1.400 manifestantes islamitas foram mortos em 2013 e centenas de simpatizantes de Morsi, entre os quais o próprio ex-presidente, foram condenados à morte em julgamentos sumários veementemente condenados pela ONU.