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Escândalo de corrupção ligado a irmã de Milei assombra presidente da Argentina antes de eleições

Débora Calheiros Lourenço
Débora Calheiros Lourenço 27 de agosto de 2025 às 17:37
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Os dois irmãos têm uma relação muito próxima e quando Javier Milei foi eleito noemou Karina secretária-geral da presidência.

Javier Milei está a enfrentar o pior escândalo de corrupção desde que chegou à presidência argentina, até porque desta vez a principal visada é Karina Milei, a sua irmã, e surge apenas dois meses antes das importantes eleições legislativas.  

Irmã de Milei no centro de escândalo de corrupção
Irmã de Milei no centro de escândalo de corrupção AP Photo/Gustavo Garello

Há mais de uma semana que os meios de comunicação argentinos têm sido dominados por gravações de áudio nas quais um ex-funcionário do governo é ouvido a discutir o pagamento de subornos ligados à indústria farmacêutica, especificamente a compra de medicamentos para pessoas com deficiência.  

Nas gravações, Diego Spagnuolo, chefe da Agência Nacional de Deficiência e que até então era representante jurídico de Milei, refere que Karina Milei estava a reter 3% de cada contrato. “Eu disse-lhe: ‘Javier, tu sabes que eles estão a roubar, que a tua irmã está a roubar’”, pode ouvir-se Diego Spagnuolo a afirmar. Noutra gravação refere: “Do que eles cobram pelos remédios, tem que colocar 8%, ela recebe 3%”. 

A irmã do presidente argentino é secretária-geral da presidência e presidente do La Liberdad Avanza, partido de ambos, pelo que tem sido uma peça fundamental na liderança de Javier Milei, ao chegar ao governo Milei eliminou uma norma que ditava que o presidente não pode nomear familiares para cargos públicos. Já segundo os meios de comunicação locais, os 3% referidos são equivalentes a valores entre 500 e 800 mil dólares provenientes da faturação da indústria farmacêutica e os 8% seriam destinados à farmacêutica Suizo, que é acusada de exigir essa percentagem a outras empresas que procuravam contratos públicos.  

Quando as gravações foram conhecidas Spagnuolo começou por negar que era ele que estava a falar, mas mais tarde acabou por admitir o seu envolvimento e foi demitido pelo governo. Até ao momento não é conhecido a quem se dirigia nem como é que as mensagens foram tornadas públicas. 

Desde então as autoridades já fizeram 16 operações para apreender telemóveis, documentos, máquinas de contar dinheiro e milhares de dólares da Agência Nacional de Deficiência e na empresa farmacêutica Suizo.  

Depois de quase uma semana de silêncio, Javier Milei compareceu, na segunda-feira num evento público ao lado da sua irmã e pediu à multidão que lhe fizessem uma “grande ovação”. Nas suas declarações evitou a polémica, ainda assim fez referência aos “argentinos do mal” que querem derrubar o governo e a “jornalistas mentirosos e rasteiros”. Antes disso Guillermo Franco, chefe de gabinete de Milei, já tinha afirmado que “o presidente está tranquilo” no meio de uma “monumental perseguição política” que pretende minar a campanha eleitoral.  

No sábado também Karina evitou uma abordagem direta ao assunto, mas afirmou: “Estamos prontos para lutar diretamente e estamos atentos para que eles [a oposição] não nos roubem mais”.  

Além das eleições legislativas, que ocorrem daqui dois meses, existem, daqui a duas semanas, eleições para a província de Buenos Aires, que também são bastante importantes para o governo ultraliberal eleito em 2023 uma vez que são as primeiras desde que subiram ao poder. Desde o início da campanha para as presidenciais, altura em que Javier Milei se tornou mais mediático, que Karina surgiu como uma figura próxima ao então candidato e considerada por si como a “chefa” da campanha e estratega responsável pela ascensão política de Milei. “Ela é Moisés, a Messias, eu sou só um populista”, chegou a afirmar.  

Apesar de ser muito mais reservada do que o irmão, sabe-se que Karina Milei, de 53 anos, estudou para ser chef de pastelaria, foi escultora e é leitora de cartas de tarot, ajudando o irmão a comunicar-se com Conan, o seu falecido cão.  

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