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Credit Suisse manteve dinheiro de clientes condenados e suspeitos de crimes

Sofia Oliveira com Leonor Riso 21 de fevereiro de 2022 às 17:24
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Entidade reguladora dos bancos na Suíça está atenta ao caso. Mais de 100 portugueses figuram na lista de clientes divulgada após uma fuga de informação.

O banco suíço Credit Suisse abriu contas a empresários alvo de sanções, criminosos e acusados de violar os Direitos Humanos. As revelações foram divulgadas após uma fuga de documentos semelhante às dos Panamá Papers, e cujos dados foram publicados em vários meios de comunicação, como o semanárioExpresso, o jornal alemãoSueddeutsche Zeitungou o britânicoThe Guardian. Os documentos contêm informações sobre milhares de contas bancárias e abrangem várias décadas, de 1940 a 2010. 

Credit Suisse
Credit Suisse Getty Images

Ao todo, as contas continham 100 mil milhões de dólares (88 mil milhões de euros). 

Devido às revelações lideradas pelo consórcio de jornalistas de investigaçãoOrganized Crime and Corruption Reporting Project (OCCRP), o banco com sede em Zurique está a ser investigado pela entidade que regula os mercados financeiros na Suíça por suspeitas de infringir as regras relativas ao impedimento de lavagem de dinheiro. Uma das suspeitas que recai sobre o banco é a de ter ajudado elementos da máfia búlgara a lavar dinheiro oriundo do comércio de cocaína, o que negou. 

Nos nomes portugueses da lista, contam figuras como os luso-angolanos Álvaro Sobrinho, ex-presidente do Banco Espírito Santo Angola e Hélder Bataglia, ex-administrador da Escom, empresa do grupo Espírito Santo. Os dois partilharam três contas no banco suíço. A lista do Credit Suisse integra mais de 100 nomes portugueses. 

O ex-presidente da bolsa de valores de Hong Kong, Ronald Li Fook-shiu, que foi condenado em 1990 por ter aceitado subornos, abriu uma conta no Credit Suisse em 2010. Chegou a ter 59 milhões de francos suíços (cerca de 31 milhões de euros). 

Um condenado por aceitar subornos enquanto trabalhou na gigante alemã Siemens, o empresário Eduard Seidel, também tinha contas no Credit Suisse: a condenação ocorreu em 2008 e Seidel manteve as contas abertas até pelo menos à década de 2010. 

Stefan Sederholm foi condenado por tráfico humano e também manteve uma conta aberta no Credit Suisse durante dois anos e meio.  

O antigo vice-ministro da Energia venezuelano, Nervis Villalobos, os filhos do antigo presidente egípcio deposto Hosni Mubarak, Alaa e Gamal Mubarak, e o rei Abdullah II da Jordânia também estão incluídos na lista de clientes multimilionários. O rei da Jordânia tinha seis contas mas garante que são todas respeitantes à sua fortuna pessoal, e alega que o dinheiro é usado para ajudar a população do seu país. Os filhos de Mubarak afirmam que a riqueza advém das atividades profissionais de sucesso. Quanto a Villalobos, apesar de o Credit Suisse ter sido informado em 2008 das alegações de corrupção que sobre ele pendiam, abriu-lhe uma conta em 2011. Seria encerrada em 2013 e chegou a ter 10 milhões de dólares (8,8 milhões de euros).

Esta segunda-feira, após as revelações da imprensa, o valor das ações do Credit Suisse caiu 3,09%, para um preço unitário de 8,03 francos suíços. É o valor mais baixo registado desde finais de maio de 2020. Em janeiro, o banco já tinha enfrentado uma polémica que levou à demissão do presidente do Credit Suisse Group, o português António Horta-Osório, por ter infringido as medidas restritivas que vigoravam na Suíça contra a covid-19. A demissão, nove meses após Horta-Osório ter assumido o cargo, causou a pior semana do banco na bolsa em 11 meses, à data.

As leis bancárias do Credit Suisse, que são conhecidas por figurar entre as mais secretas do mundo, atraíram durante vários anos muitos multimilionários estrangeiros, o que representa 50% do total dos ativos do banco (cerca de 7,9 trilhões de francos suíços).  

O banco reagiu e sublinha que "aproximadamente 90% das contas analisadas estão hoje encerradas ou estavam em processo de encerramento antes da recepção dos pedidos de informação dos jornalistas, e entre elas mais de 60% foram encerradas antes de 2015". 

"O Credit Suisse rejeita veementemente as alegações e insinuações sobre as supostas práticas de negócios do banco", disse o banco num primeiro comunicado. "Das contas ativas restantes, estamos confiantes de que as devidas diligências, revisões e outras medidas relacionadas com o controlo foram tomadas de acordo com a nossa estrutura atual. Continuaremos a analisar os assuntos e tomaremos medidas adicionais, se necessário."

O Credit Suisse frisa ainda que as rígidas leis de sigilo bancário da Suíça impedem comentários relacionadas com clientes individuais.

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