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Como a família Trump usou a presidência para enriquecer

A sua fortuna aumentou 17 vezes em menos de um ano. Suspeitas de conflito de interesse preocupam especialistas anti-corrupção.

Os filhos mais velhos de Donald Trump, Don Jr. e Eric, têm estado numa maré de sorte no que diz respeito aos negócios. Seja no setor imobiliário, das criptomoedas, campos de golfe ou venda de produtos, nos Estados Unidos ou no resto do mundo, tudo parece correr bem aos herdeiros do homem que escreveu o livro A Arte do Negócio

Casa Branca nega conflito de interesse
Casa Branca nega conflito de interesse EPA

A oposição e especialistas avisam há vários meses que Trump e a sua família estão a usar a presidência para alavancar os seus negócios e que isso está a minar a democracia americana e o mercado livre. Mas pouco tem sido feito até porque tudo parece ser feito ainda dentro da legalidade, mas apenas no limite. 

O jornal britânico cita Eric Trump que diz que existe uma "enorme parede" entre os seus negócios e empresas e a posição do seu pai à frente do destino dos Estados Unidos. "Nada do que eu faço está ligado à Casa Branca", assegurou Eric. Mas onde se traça a linha entre o empresário Eric Trump e o filho do presidente dos EUA Eric Trump? É essa a pergunta que faz Kristofer Harrison, fundador do Projeto Dekleptocracia.

Este projeto, e outros, levanta questões sobre as decisões tomadas por Trump e os interesses financeiros da sua família. Desde o aliviar de tarifas, novas alianças, muitos especialistas avisam que a família Trump pode estar a usar os interesses próprios como um guia para as políticas que enceta. E se num primeiro mandato, Trump prometeu que a sua família não iria abrir negócios no estrangeiro, neste segundo mandato tudo mudou.

O Guardian faz uma comparação entre Trump e as petro-monarquias do Golfo que não fazem distinção entre os interesses dos países que lidera e os interesses financeiros das suas famílias. E muitos dos negócios Trump acontecem exatamente nessa região do globo e só se acentuaram mais depois da visita do presidente norte-americano em maio. 

Um destes episódios foi particularmente escrutinado: o do negócio do resort de golfe no que foi firmado no Catar. No mês seguinte, Trump recebeu um avião multimilionário para ser usado como o novo avião oficial da Casa Branca (mas só enquanto Trump lá estiver). Meses mais tardes, tropas americanas foram enviadas para o Catar para proteger o estado.  

Há também projetos imobiliários para algumas cidades europeias em países como a Sérvia, Albânia ou Roménia.  

E a verdade é que a família Trump continua a valorizar. De acordo com a agência noticiosa Reuters, em 12 meses (desde que Trump venceu as eleições) a sua fortuna aumento 17 vezes. Passando de 51 milhões de dólares para 864 milhões, sendo que 90% deste valor vem de criptomoedas. E um simples investimento é o responsável por esta valorização: a criptomoeda USD1, criada por Trump e pelos seus três filkhos. Lançada dois meses antes de ser reeleito, o candidato prometeu que iria tornar os Estados Unidos "a cripto-capital do mundo". Em abril deste ano, a World Liberty Financial (nome do grupo que fundou a USD1) anunciou que a Binance ia entrar no capital com dois mil milhões de dólares e receberia o equivalente a dois milhões de dólares em USD1. O problema é que a USD1 é uma stablecoin, ou seja, uma criptomoeda que está associada a uma moeda do mundo real, neste caso o dólar e ganha dinheiro com os juros associados às reservas. Neste caso, pode valer à família trump dezenas de milhões de euros anualmente.

Coincidência ou não, o fundador da Binance, Changpeng Zhao, pediu na mesma altura um perdão à sua condenação nos EUA por lavagem de dinheiro. Depois de ser condenado a pagar uma multa de quatro mil milhões de dólares, a Binance perdeu o direito a operar em território norte-americano. Zhao pediu um perdão em maio, semanas depois da entrada da Binance na USD1. Em outubro, cinco meses depois, recebeu um perdão. Quando questionado sobre o perdão a Zhao, Trump respondeu: "Não faço ideia quem seja (...) Perdoei-o a pedido de muitas pessoas boas".

A Casa Branca nega constantemente as acusações de conflito de interesses, bem como a família Trump.