Sábado – Pense por si

Autoridades japonesas deixam motoristas conduzir alcoolizados para perceberem os riscos

Márcia Sobral
Márcia Sobral 28 de agosto de 2023 às 11:55
As mais lidas

Maioria dos condutores sob efeito de álcool diz estar "consciente e em condições de conduzir".

O método é inédito mas os japoneses acreditam que poderá ser eficaz. Na cidade de Fukuoka foi realizada uma campanha rodoviária que tinha como missão mostrar aos motoristas os verdadeiros efeitos da condução sob o efeito de álcool e, para isso, incentiva-se o seu consumo.

Getty Images

Através de uma parceria entre as autoridades e uma escola de condução na região, foi criado um percurso considerado seguro em que fosse possível realizar aquilo a que chamaram uma "experiência de condução controlada sob o efeito do álcool" e todos os locais foram convidados a participar.

Para o teste foram criados três trajetos: num teriam de percorrer um "slalom", noutro tinham de fazer uma curva em "S" e o último era uma série de curvas fechadas.

Um jornalista doMainichi Shimbun(um dos mais importantes jornais do Japão) aceitou o desafio e começou por realizar o percurso sóbrio, não tendo tido qualquer problema. Quando terminou esteve cerca de uma hora a beber 350 ml de cerveja, um copo de licor de ameixa e uma bebida destilada. Fez o teste de alcoolemia e acusou 0,3 g/l, o dobro do valor legal no país mas, mesmo assim, confirmou estar "consciente e em condições de conduzir".

Durante a realização do primeiro percurso, o jornalista mudou várias vezes de velocidade, acelerando e travando sem motivo aparente, falhou algumas das marcas do "slalom" e conduziu em contramão. O teste acabou antes de entrar na curva em "S" por, de acordo com o instrutor, estar a conduzir em excesso de velocidade. Quando confrontado com a realidade, o repórter assumiu não ter consciência daquilo que tinha feito.

As autoridades do país realçam que o sentimento de "invencibilidade" é um dos mais comuns quando se conduz com álcool e esperam agora que os motoristas "excessivamente confiantes" não voltem a beber e a conduzir.

A iniciativa surge ainda em tom de homenagem uma vez que há 17 anos três crianças (dois meninos de quatro e três anos e a irmã de um ano) acabaram por morrer num acidente de viação na cidade provocado por um funcionário camarário que conduzia sob o efeito de álcool.

Artigos Relacionados
Urbanista

A repressão nunca é sustentável

Talvez não a 3.ª Guerra Mundial como a história nos conta, mas uma guerra diferente. Medo e destruição ainda existem, mas a mobilização total deu lugar a batalhas invisíveis: ciberataques, desinformação e controlo das redes.