O primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, tem-se destacado como um dos atores mundiais que está a liderar o apoio à Ucrânia depois de Donald Trump ter chegado à Casa Branca, em várias ações coordenadas com a União Europeia, de que não faz parte desde 2020.
Pelos eventos dos últimos meses facilmente se esqueceria de que o Reino Unido já não faz parte da União Europeia (UE). Desde que Donald Trump chegou à Casa Branca que o primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, tem liderado os esforços diplomáticos europeus, ao lado de Emanuel Macron.
Olivier Hoslet/ AP
Essa proximidade ficou ainda mais clara depois do encontro que correu mal entre o presidente norte-americano e Zelensky na Casa Branca, no final de fevereiro. Starmer esteve presente em reuniões de alto nível com os líderes da União Europeia e convocou até uma cúpula no Reino Unido para lidar com as consequências das ameaças de Trump relativamente à diminuição de apoio à Ucrânia.
De acordo com o think-tankCentro para a Reforma Europeia (CER), a complexa situação geopolítica e a necessidade de crescimento da economia britânica tornam provável que tanto a UE como o Reino Unido procurem uma relação mais próxima.
Desde o Brexit, em 2020, que os dois atores mundiais não mantinham uma relação tão próxima, ainda assim Starmer tem insistido que o Reino Unido não precisa de escolher entre os Estados Unidos e a União Europeia e que não tem qualquer intenção de reverter o Brexit.
O mais recente relatório do CER refere que o relacionamento entre o Reino Unido e a União Europeia é de "importância fundamental" para ambos os lados tendo especialmente em conta um conjunto "sem precedentes" de desafios geopolíticos incluindo a incerteza da relação com os Estados Unidos, a ameaça russa e o Médio Oriente instável, que não existiam na altura em que os britânicos decidiram abandonar o Bloco. O governo trabalhista também tem afirmado que está a trabalhar para reduzir as barreiras ao comércio, seja através de controlo de fronteiras para mercadorias ou de um pacto de segurança entre o Reino Unido e a União. Já para Bruxelas, Londres pode ser um importante aliado em termos de segurança e defesa.
Nick Thomas-Symonds, ministro responsável pelas relações com a União Europeia, já afirmou que a UE e o Reino Unido têm o "objetivo mútuo de alcançar um melhor relacionamento": "É óbvio para mim que, num momento de mudanças globais tão intensas, o Reino Unido e a UE têm muitos interesses e desafios mutuamente alinhados e num mundo mais incerto, somos regularmente lembrados de que os aliados estão mais seguros juntos do que separados".
Num artigo publicado no The Guardian, Nick Thomas-Symonds referiu que "a contínua agressão da Rússia à Ucrânia exigiu uma resposta decisiva da Europa. Isso levou as nações europeias a unirem-se em defesa do nosso continente, indo mais longe do que nunca nos gastos com a Defesa para manter a Ucrânia na luta pelo tempo que for necessário".
"Procurar uma nova parceria com a UE significa atender às necessidades dos nossos tempos. Não se trata de ideologia ou voltar ao passado, mas de pragmatismo implacável e do que funciona no interesse nacional. Para mim, isso significa trabalhar com os nossos aliados na UE para tornar as pessoas em todo o continente mais seguras, protegidas e prósperas", continuou.
Nick Thomas-Symonds defende também que "em termos de segurança, a NATO é a pedra angular da nossa defesa": "Agora é a hora de nos unirmos para garantir o melhor resultado para a Ucrânia, proteger a segurança europeia e assegurar o nosso futuro coletivo".
Está marcada para o dia 19 de maio uma reunião com o objetivo de definir uma "parceria estratégica" baseada na "segurança, proteção e prosperidade de todas as pessoas no Reino Unido e na EU", refere um rascunho da declaração conjunta a que o Politico teve acesso. O primeiro-ministro britânico já avançou que está interessado num acordo que permita que as empresas de defesa britânicas tenham acesso a programas da UE para apoiar o rearmamento.
Parceiros na academia
Noutra área, o Reino Unido já voltou a aderir ao principal programa de investigação científica da UE, o Horizon, o que significa que as instituições britânicas voltaram a ter direito a solicitar dinheiro do fundo de 95 mil milhões de euros. Isto também significa que o Reino Unido está novamente associado ao Copernicus, o programa de observação da Terra, que tem fundos de 9 mil milhões de euros.
Muitos analistas britânicos têm referido que será apenas uma questão de tempo até que o Reino Unido volte a fazer parte de outro importante programa europeu, o programa de mobilidade Erasmus.
As principais universidades dos dois lados do Canal da Mancha mantiveram a estreita colaboração no que toca ao desenvolvimento de conhecimento e aos programas de parceria mesmo durante o tempo em que os líderes políticos estiveram mais afastados.
Reino Unido não se deve aproximar demais devido a Trump?
Trump tem sido mais crítico da União Europeia do que do Reino Unido e, por isso, "há uma escola de pensamento à direita da política britânica e americana que observa que Trump não gosta da UE, mas tem alguma simpatia pelo Reino Unido. Essa escola argumenta que Trump oferecerá ao Reino Unido um acordo especial, talvez um acordo comercial, com a condição de que Londres se distancie de Bruxelas", alerta o CER.
O próprio Starmer tem afirmado que a sua proximidade com Bruxelas não significa que não se queria manter próximo de Washington. No entanto, a reunião que vai decorrer a 19 de maio parece sinalizar a disposição de Starmer de aprofundar os laços com a UE e afastar-se da influência de Donald Trump.
Os Estados Unidos, o Reino Unido e a maior parte dos estados da UE mantém ainda uma parceira importante através da NATO, que parece estar mais fragilizada e menos coesa desde a chegada de Donald Trump à Casa Branca e as suas imposições de que haja um aumento de investimento por parte dos parceiros europeus.
As aspirações de Starmer são anteriores a Trump
Vale a pena recordar que Starmer já tinha assumido o compromisso de reaproximar o Reino Unido do Bloco europeu durante a sua campanha para as eleições britânicas.
O CER alerta que "poucos britânicos têm a noção de quanto a reputação do Reino Unido afundou" aos olhos dos líderes da União Europeia durante os consecutivos governos conservadores, especialmente devido às posições de Boris Johnson, que chegou a ameaçar rasgar o Acordo de Retirada relativo à Irlanda do Norte. Já Rishi Sunak é caracterizado por ter uma "abordagem mais adulta", mas ainda assim no ano passado os níveis de confiança no Reino Unido continuavam extremamente baixos.
Assim sendo, o governo trabalhista terá uma "tarefa árdua" para conseguir reaproximar-se da UE apesar de ser inegável que a União Europeia é o maior parceiro comercial do Reino Unido, com trocas comerciais superiores a 800 mil milhões em 2023. Ainda assim um estudo do ano passado mostrou que, entre 2021 e 2023, os produtos importados pelo Reino Unido a partir do Bloco caíram 32% enquanto os produtos originários do Reino Unido exportados para a UE caíram 27%.
"O tempo das divisões motivadas pelas ideologias acabou. O tempo do pragmatismo implacável chegou. É por meio de uma nova parceria entre o reino Unido e a UE que conseguiremos algo positivo para o povo do Reino Unido e os povos de todo o continente", afirmou Nick Thomas-Symonds.
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