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Brexit: "Não há razão para alarme", diz Marcelo aos portugueses

17 de novembro de 2016 às 16:28

Marcelo despediu-se de Londres com uma visita a Paula Rego e outra à Rainha, Isabel II. Pelo meio, descansou os portugueses em relação ao futuro no país que vai deixar a União Europeia, garantindo que as relações vão continuar fortes

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, quis deixar uma mensagem de tranquilidade aos portugueses que estão há menos tempo no Reino Unido e que estão preocupados com a possibilidade de não ser permitida a sua permanência no país após o Brexit.

 

"Não há razão para alarme", enfatizou, em Londres, acrescentando que as relações entre os dois países vão continuar fortes. "O importante é que isso sobreviva e ao mesmo tempo a Europa se reforce. Esta é que é a conjugação virtuosa que vai constituir o grande desafio diplomático dos próximos anos", acrescentou, em declarações aos jornalistas após uma visita ao ateliê de trabalho da pintora Paula Rego. 


O Chefe de Estado confidenciou que a visita a Londres foi desmarcada duas vezes e estava no plano das primeiras visitas de cumprimentos após a sua eleição em Janeiro deste ano, juntamente com Espanha e a Santa Sé, em homenagem ao mais antigo aliado de Portugal. Porém, a primeira data indicada seria no dia seguinte à posse, o que foi descartado, e a outra para logo após o referendo do dia 23 de Junho, cancelada devido ao resultado inesperado, quando 52% dos eleitores votaram a favor da saída britânica da UE.

 

"Esta é a terceira marcação, mas correspondente à mesma ideia: é uma visita em homenagem às relações históricas entre os dois países, que hoje tem outro interesse porque entretanto muita coisa mudou", revelou, reforçando que "o interesse adicional é a posição do Reino Unido na próxima negociação com a União Europeia onde Portugal está". "Nós certamente saberemos conciliar as duas realidades: estar na Europa convictamente e querer uma UE forte e ao mesmo tempo querer manter uma aliança que durou tanto tempo, mas que está viva", vincou.


A visão de quem viu o mundo mudar muito
O último compromisso do programa oficial em Londres foi um encontro pessoal no Palácio de Buckingham com a rainha Isabel II - fechado aos jornalistas e à maioria da comitiva que acompanhou o chefe de Estado.

Ainda antes de estar com a monarca, Marcelo assumiu o interesse em conversar com uma rainha da qual esteve perto, primeiro enquanto criança na primeira fila no desfile de carruagens junto ao Terreiro do Paço, em 1957, e depois como vice-líder do PSD, em 1985, quando integrou um grupo restrito de 30 portugueses convidados a jantar a bordo do iate real Britannia.

"O mais interessante vai ser como uma senhora que vê já de uma perspectiva distanciada e que viveu o mundo como era nos anos 1950, quando chegou ao trono, e depois 1960, 1970, 1980, 1990, 2000 e agora, como é que ela vê este mundo, o que ficou e o que mudou. Tem uma perspectiva que pouca gente tem", explicou.


Manhã de afectos com Paula Rego

O dia começou com uma visita de Marcelo ao ateliê de trabalho de Paula Rego em Londres. O Presidente justificou a visita à artista em Londres, lembrando a expressão que seria como "ir a Roma e não ver o Papa" e durante o tempo todo agarrou Paula Rego pela mão, fazendo perguntas e ouvindo as histórias das obras.


"Em Portugal, as pessoas gostam muito de si. Estão muito gratas porque quando se fala do mundo, um nome que vem logo à cabeça é o seu. Não sabe como é importante? Ah, sabe, não me diga que não sabe!", disse
Marcelo Rebelo de Sousa à artista radicada no Reino Unido. "Não sei, não", respondeu Paula Rego, ao que o Presidente retorquiu: "Não é só aqui, é em todo o mundo que as suas obras são importantes. Gente de todo o mundo aprecia, valoriza. E aqueles que podem, compram".

 

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Foto: José Coelho
Foto: José Coelho
Foto: José Coelho
Foto: José Coelho
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Foto: José Coelho
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Foto: José Coelho
Foto: José Coelho

Apesar da idade de 81 anos e da saúde débil, Paula Rego continua a trabalhar quatro dias por semana no ateliê, situado no norte de Londres, repleto de material de pintura e esculturas que servem de modelos às obras. Ao Presidente, mostrou a última série de telas em que trabalhou este ano, inspiradas na obra de Hélia Correia intitulada Bastardia e falou de como as obras da sua infância influenciam a sua obra, que admitiu ser muitas vezes triste.

 

Questionada sobre se sente saudades de Portugal, Paula Rego lamentou que tenha perdido a quinta da família na Ericeira, mas afirmou que o seu País está nas suas memórias e também no seu ambiente de trabalho.

 

À saída do espaço, o Presidente confessou a admiração pela pintora, cujo museu em Cascais é muito próximo da sua residência e o qual frequenta regularmente. "Já a encontrei várias vezes em Portugal. Mas é completamente diferente encontrá-la no convívio pessoal ou social, outra coisa é ouvi-la falar da sua vida e da sua obra. E hoje felizmente estava interessada em falar, quer do futuro, quer do passado", disse aos jornalistas.

Marcelo colocou Paula Rego no grupo dos melhores artistas portugueses ou europeus contemporâneos, apelidando-a de "referência excepcional de Portugal no mundo". E deixou um outro elogio: "Não deixa de ser excepcional que ela não tenha noção disso. Confirma a teoria de que os génios são muitas vezes modestos, não têm noção da genialidade."

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