Sábado – Pense por si

Pedro Ledo
Pedro Ledo
08 de novembro de 2025 às 09:17

A Administração Interna não é um cargo para teóricos — é um dever para quem conhece o terreno

O País precisa de uma viragem de mentalidade. De um governante que olhe para a segurança com visão estratégica, pragmatismo e coragem. Que não fale apenas de leis, mas de pessoas, de sistemas, de tecnologia e de resultados.

Portugal vive um tempo em que a segurança interna deixou de ser apenas uma questão de polícia: é uma questão de Estado, de soberania e de credibilidade internacional. Num mundo em rápida mutação, onde o crime se globaliza e as ameaças se digitalizam, não há espaço para amadorismos. O Ministério da Administração Interna não pode ser uma escola de iniciação política nem um laboratório de teorias jurídicas — precisa de liderança com experiência de terreno, sensibilidade institucional e conhecimento técnico das estruturas que garantem a segurança do País.

A segurança é o cimento invisível da democracia. Sem ela, o Estado perde autoridade, os cidadãos perdem confiança e o crime ganha terreno. É por isso incompreensível que se continue a nomear para esta pasta figuras que conhecem a segurança apenas pelos códigos legais e pelos debates parlamentares. A lei é essencial, mas a segurança vive-se no terreno: nas patrulhas da PSP, nas operações da GNR, na investigação da Polícia Judiciária, na coordenação da Proteção Civil ou na gestão das emergências que testam a capacidade do Estado todos os dias.

Um ministro da Administração Interna precisa de compreender o funcionamento destas forças, saber o que as diferencia, o que as une e como se articulam. Precisa de conhecer as suas hierarquias, a sua cultura e as suas limitações. Precisa, sobretudo, de as respeitar — e de ter a autoridade moral que só vem da experiência concreta, não do currículo académico.

A segurança interna é hoje uma teia complexa de responsabilidades e interdependências. O terrorismo, o cibercrime, o tráfico de droga, o contrabando, a imigração ilegal e as novas formas de radicalização exigem respostas que cruzam fronteiras. O ministro que lidera este setor tem de compreender não apenas o que se passa dentro das nossas fronteiras, mas também o que acontece nas redes internacionais de crime e nos sistemas de informação globais. Tem de conhecer os mecanismos de cooperação com a Europol e a Interpol, as estruturas europeias de segurança e defesa, e o papel de Portugal nos fóruns internacionais onde se definem políticas de combate ao crime e à ameaça híbrida.

Num país onde as forças de segurança são frequentemente chamadas a desempenhar funções para as quais não estão vocacionadas — desde questões administrativas até apoio logístico em eventos civis — é urgente uma liderança que saiba o que é a prioridade operacional e o que é desvio de missão. Um ministro com experiência de terreno reconhece que cada distração imposta a um agente é menos tempo de vigilância, menos prevenção e, por consequência, mais vulnerabilidade.

O comando da Administração Interna exige mais do que boa retórica. Exige capacidade de decisão em tempo real, firmeza em momentos de crise, e sensibilidade política para equilibrar autoridade com respeito pelos direitos fundamentais. Quem nunca viveu o stress de uma operação policial, quem nunca coordenou uma resposta de emergência, quem nunca enfrentou a pressão de uma situação de crise pública dificilmente compreenderá o que é liderar a segurança de um país.

Não faltam em Portugal — e até entre os nossos compatriotas que serviram em missões internacionais — perfis com o equilíbrio certo entre autoridade, experiência e visão estratégica. Pode o poder político contratar, um ex-polícia, um ex-diretor nacional, alguém já na disponibilidade, assim como um ex-militar da GNR, ou até um perito português com carreira em organismos internacionais de segurança. Pessoas que conhecem o terreno, a disciplina, o comando e a realidade da cooperação policial e militar. Gente que não precisa de aprender o que é uma crise, porque já as viveu; que compreende o valor da hierarquia, a importância da coordenação e a urgência de agir com firmeza e justiça.

A liderança ideal para esta pasta é alguém que reúna três qualidades: experiência prática nas forças de segurança ou defesa; conhecimento profundo da realidade internacional e dos mecanismos de cooperação europeia; e uma visão estratégica capaz de antecipar ameaças emergentes como o ciberterrorismo e a desinformação. Um perfil técnico, mas também político, capaz de traduzir o conhecimento operacional em políticas públicas coerentes.

Portugal precisa de um ministro que tenha estado no terreno, que saiba o que é uma cadeia de comando, que perceba como se decide sob pressão e que entenda o valor do trabalho das forças de segurança. Um ministro que compreenda que a segurança é também uma questão de dignidade profissional — que sem motivação, sem meios e sem liderança competente, nenhuma força pode cumprir a sua missão.

A Administração Interna não pode ser uma recompensa partidária nem um degrau na carreira de quem procura visibilidade. Deve ser um posto de serviço público ao mais alto nível, entregue a quem tem provas dadas e não apenas boas intenções. A história recente mostra que as crises mais graves da segurança nacional ocorreram precisamente quando o ministério foi entregue a perfis políticos sem experiência operacional.

O País precisa de uma viragem de mentalidade. De um governante que olhe para a segurança com visão estratégica, pragmatismo e coragem. Que não fale apenas de leis, mas de pessoas, de sistemas, de tecnologia e de resultados. Que compreenda que a segurança não é um tema estanque — é transversal à economia, à justiça, à coesão social e até à credibilidade internacional de Portugal.

O Titular da Administração Interna deve ser alguém que saiba conjugar a autoridade com o conhecimento, a técnica com a liderança, e a política com o realismo. Portugal não pode continuar a arriscar entregar a segurança dos seus cidadãos a quem nunca sentiu no terreno o que é viver sob pressão, decidir em segundos e responder por vidas humanas.

A segurança nacional é um pilar do Estado. E um pilar não pode ser sustentado por teorias — precisa de alicerces firmes, moldados pela experiência, pela competência e pelo respeito pelas forças que diariamente defendem Portugal.

Portugal precisa de ação segura para efectivar a segurança dos Portugueses.

A Europa vive hoje um dos maiores desafios da sua história recente: a tensão permanente entre segurança e imigração. O aumento dos fluxos migratórios, os conflitos no Médio Oriente e em África, e o recrudescimento de movimentos extremistas têm colocado os sistemas de segurança europeus sob enorme pressão. Portugal não é exceção. Por isso, o titular da Administração Interna deve ser alguém jovem, com visão europeia e compreensão real deste fenómeno — alguém capaz de conciliar humanidade com firmeza, integração com responsabilidade e segurança com liberdade. É urgente corrigir trajetórias erradas seguidas no passado, quando o Partido Socialista permitiu que o País se tornasse um porto de entrada sem controlo, deixando entrar tudo e todos, sem o mínimo cuidado com a triagem, a verificação e a integração. Essa ausência de critério criou vulnerabilidades sérias e uma perceção pública de desordem que hoje o novo ministro tem o dever de inverter com inteligência, equilíbrio e autoridade.

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