Dia internacional contra o fascismo e o anti-semitismo
Os actuais charlatões, que agora até já se atrevem a afirmar que Portugal precisa de “três Salazares”, têm antecessores e antecedentes muito antigos.
No dia 6 de novembro de 2023, a Direcção da Associação Movimento Cívico Não Apaguem a Memória (NAM), divulgou um comunicado alusivo ao Dia Internacional Contra o Fascismo e o Anti-semitismo instituído pelo Parlamento Europeu através de uma Resolução “sobre a consciência europeia e o totalitarismo” e que se assinala no dia 9 de novembro.
Ao escolher essa data e quanto a isso dúvidas não se suscitam, essa instituição da União Europeia teve como objectivo recordar os acontecimentos que se desenrolaram na noite de 9 para 10 de novembro de 1938, a chamada “Noite dos Cristais” (Kristallnacht), que foi o ponto de partida do Holocausto, por toda a Alemanha, então governada pelo Partido Nazi, durante a qual foram destruídas mais de 8.000 casas e lojas pertencentes a judeus, foram incendiadas 250 sinagogas e foram assassinados pelo menos 91 judeus.
Até porque em 1989, num outro 9 de novembro, aconteceu a queda do chamado “Muro de Berlim”.
E porque, de igual modo, outras datas do infame registo histórico do Reich Nazi poderiam ter sido escolhidas para assinalar o horror que esse cruel e desumano regime significou para toda a Humanidade e não apenas para os judeus.
Apesar da sua indesmentível relevância no estabelecimento do poder totalitário do Führer, uma dessas datas não poderia ser obviamente o dia 30 de junho de 1934 (na verdade, a noite de 30 de junho para 1 de julho de 1934) que assinala a chamada “Noite das Facas Longas”.
É que essa foi a noite em que a facção de Hitler no Partido Nazi executou incontáveis membros da facção dirigida por Ernst Röhm, chefe das SA, a primeira tropa de choque daquele partido que foi aquela que verdadeiramente combateu os comunistas nos confrontos que se desenrolaram antes da ascensão dos nazis ao poder.
Combate que não foi apenas físico (contudo, os confrontos foram realmente sangrentos), mas também ideológico.
Na verdade, os SA proclamavam a necessidade de “aprofundar a revolução nacional-socialista” pondo em causa o poder dos grandes capitalistas, especialmente do sector da indústria, que apoiaram Adolf Hitler, mas também o exército alemão, cujos efectivos, na sequência das exigências impostas pelo Tratado de Versalhes, eram inferiores ao número de membros daquele grupo paramilitar (SA), que Ernst Röhm queria transformar num verdadeiro exército.
Ou seja, para além de consolidar definitivamente o poder totalitário de Adolf Hitler e dos seus apaniguados organizados nas hediondas SS, essa purga demonstrou inequivocamente quão falsa e enganadora era a referência ao socialismo no ideário nazi.
Os actuais charlatões, que agora até já se atrevem a afirmar que Portugal precisa de “três Salazares”, têm, portanto, antecessores e antecedentes muito antigos.
Claro que o Estado Novo não atingiu os patamares de desumanidade do Estado Nazi e não provocou uma destruição tão intensa como a que resultou da acção desses criminosos.
Não obstante, o nível de miséria e de sofrimento impostos aos portugueses durante o tempo em que Salazar e depois Marcelo Caetano ocuparam o poder no nosso País e os assassinatos selectivos praticados por aquele regime igualmente totalitário, nomeadamente pela sua polícia política - a PIDE, depois DGS – foram assinaláveis. E não podem ser esquecidos, nem desvalorizados.
De igual modo, dado o espírito de combate ideológico herdado da Guerra Fria, também nunca poderia ter sido escolhida para o estabelecimento desse Dia Internacional a data inicial da edificação do poder totalitário dos nazis, ou seja, 7 de fevereiro de 1933, noite em que, como referi numa anterior crónica, o edifício do Reichstag (Parlamento Alemão) foi incendiado.
Isto apesar de, recordo, essa situação ter sido aproveitada pelos nazis para expulsar os deputados do partido comunista que tinham assento no Parlamento, falsamente acusados de ser os autores desse acto incendiário, e prender um número considerável dos líderes dessa organização política até aí legal, impedindo que a mesma participasse nas eleições que estavam previstas para março desse mesmo ano, e, para além disso, para persuadir o presidente da República Paul von Hindenburg?a emitir legislação restritiva das liberdades públicas e individuais, nomeadamente a liberdade de expressão e o direito à liberdade de imprensa, em concreto, o?Decreto de Fogo do Reichstag, assinado ainda em fevereiro de 1933, ao qual se seguiu, no subsequente mês de março, a assinatura da?Lei de Concessão de Plenos Poderes de 1933, pela qual o Parlamento dava ao governo de Hitler poderes legislativos, iniciando desse modo a instalação da ditadura sanguinária cujas consequências nunca poderão jamais ser apagadas da memória dos povos do planeta.
Todavia, apesar dessa evidente ligação ao Holocausto, menos verdadeiro não é que com o estabelecimento desse Dia Internacional se visava, acima de tudo, combater a intolerância e os discursos autoritários.
E, nos tempos que correm, desperdiçar uma oportunidade de denunciar os crimes do velho Fascismo (ou melhor, dos vários velhos fascismos das décadas de 1920 a 1940) e a falsidade e a perigosidade dos argumentos e dos propósitos dos seus seguidores no presente, é, em minha opinião, totalmente inaceitável.
E deixem-me ser muito claro: o genocídio que está a ser cometido na Faixa de Gaza pelas forças armadas israelitas a mando do governo fascista, xenófobo, racista e supremacista presidido pelo criminoso Benjamin Netanyahu, e os demais crimes de guerra que essas mesmas pessoas estão a cometer por todo o Médio Oriente (Cisjordânia, Líbano, Síria, Irão, Emiratos Árabes Unidos) e até em África (Iémen), não podem levar-nos a esquecer o horror do Holocausto e muito menos a tornar-nos anti-semitas, ou sequer a fazer-nos abandonar o indispensável combate contra os anti-semitas.
Efectivamente, o que é indispensável é combater por igual todos os genocídios, sejam quem for aqueles que cometem esse crime horripilante e odioso, e seja qual for o povo que dele é vítima.
Todos, todos, mas mesmo todos os genocídios - e por igual e por todos os meios possíveis.
Tal como é indispensável combater todas as formas de intolerância, xenofobia e racismo, e a todos os tipos de discursos autoritários e promotores do ódio, sem qualquer distinção, porque, quaisquer que sejam as vítimas desses ataques, os mesmos são sempre intoleráveis e violadores de direitos humanos fundamentais que têm de ser defendidos em todos os momentos e em qualquer lugar em que tais direitos estejam a ser atacados ou postos em perigo.
Porque todos os seres humanos têm a mesma dignidade e merecem ser respeitados por igual.
O que significa, como também foi acentuado no comunicado de 6 de novembro de 2023 da Direcção da Associação Movimento Cívico Não Apaguem a Memória (NAM), que, ao contrário do que muitos consideram, o Dia Internacional Contra o Fascismo e o Anti-semitismo pode e deve ser usado para denunciar o genocídio e os demais crimes de guerra que estão a ser cometidos pelas forças armadas israelitas a mando do, repito, governo fascista, xenófobo, racista e supremacista presidido pelo criminoso Benjamin Netanyahu.
E é profundamente lamentável que um tal desígnio acabe por não ter uma qualquer concretização prática.
Especialmente porque, como qualquer pessoa minimamente informada bem sabia, os pretensos “planos de paz” apresentados pelo candidato a ditador Donald Trump nunca tiveram qualquer hipótese de sucesso.
Quem perde com isso são, como de costume, os palestinianos e as palestinianas.
O que, muito francamente, para mim é profundamente imperdoável.
Dia internacional contra o fascismo e o anti-semitismo
André Ventura disse finalmente aquilo que há tanto tempo ansiava: “Não era preciso um Salazar, eram precisos três para pôr o país em ordem”. Resta saber se esse salazarista conhece a fábula da rã que queria ser grande como um boi.
E essa gente está carregada de ódio, rancor e desejos de vingança, e não esquecem nem perdoam o medo e a humilhação que aqueles seus familiares (e, em alguns casos, eles próprios, apesar de serem, nessa altura, ainda muito jovens).
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