"Temos de olhar para o futuro próximo com uma visão estratégica, que combine a actuação de governos, sociedade civil, sector privado e academia para que a inovação tecnológica seja uma força para o bem", defendeu o antigo primeiro-ministro português na sua intervenção na Web Summit, que hoje arrancou em Lisboa.
"Esta quarta revolução industrial terá um impacto dramático nas sociedades e na nossa maneira de viver nos mercados, por isso é importante antecipar o impacto da evolução tecnológica", disse Guterres, exemplificando com os condutores nos Estados Unidos.
"Os condutores são a maior força de trabalho onde eu vivo, nos Estados Unidos, mas com a automatização e a robotização teremos de aprender a antecipar o futuro para evitarmos uma taxa de desemprego massiva", acrescentou.
"Não é aprender a fazer coisas, mas sim aprender a aprender, porque as coisas que fazemos hoje não são as coisas que faremos amanhã", argumentou o secretário-geral da ONU, vincando que a solução não pode ser travar a tecnologia.
"Temos de evitar a reacção estúpida de tentar parar a inovação, isso é estúpido porque é impossível e porque impede que tenhamos os benefícios positivos, mas temos também de evitar a ingenuidade de pensar que as formas tradicionais de regulação para sectores como a energia ou o sistema financeiro podem resolver o problema", disse Guterres.
Numa intervenção onde passou em revista alguns dos principais problemas que, na sua opinião, a Humanidade está confrontada, como as alterações climáticas, o crescimento económico, a pobreza ou as migrações resultantes das desigualdades, Guterres defendeu que "a globalização é uma força para fazer o bem, e as novas tecnologias também", mas admitiu haver danos colaterais.
"A resposta aos danos colaterais é uma globalização justa, mas a boa notícia é que a ciência está do nosso lado", defendeu o diplomata, vincando que "a economia verde é a economia do futuro, por isso pode-se fazer dinheiro e fazer o bem".
Na intervenção, Guterres salientou ainda a importância da discussão sobre estes problemas, defendendo que "é bom que os participantes aqui comecem a discutir o impacto da quarta revolução no futuro, porque a ciência e a tecnologia não são neutras, podemos erradicar doenças com engenharia genética, mas também podemos criar monstros; podemos usar o ciberespaço para melhorar a vida das pessoas ou para facilitar o terrorismo", alertou.
A Web Summit decorre até quinta-feira, no Altice Arena (antigo Meo Arena) e na Feira Internacional de Lisboa (FIL), em Lisboa.
Segundo a organização, nesta segunda edição do evento em Portugal, participam 59.115 pessoas de 170 países, entre os quais mais de 1.200 oradores, duas mil 'startups', 1.400 investidores e 2.500 jornalistas.
A cimeira tecnológica, de inovação e de empreendedorismo nasceu em 2010 na Irlanda e mudou-se em 2016 para Lisboa por três anos, com possibilidade de mais dois de permanência na capital portuguesa.