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Com a eleição do novo Papa, Robert Prevost (Leão XIV), espera-se uma linha de continuidade por contas transparentes. Só em propriedades, a Igreja tem o equivalente a nove vezes a área de Portugal Continental. Da carteira de imóveis da Santa Sé contam-se mais de cinco mil, 20% dos quais arrendados.
A fortuna global da Igreja é incalculável, mas sabe-se que representa um dos maiores latifundiários à escala mundial (porventura, o maior). Tem qualquer coisa como 200 milhões de acres em propriedades rurais e urbanas, segundo oInstituto de Estudos das Religiões e da Laicidade (IREL), em Paris, citado pela BBC. Imagine nove vezes a área do território continental português: é este o seu património fundiário, equivalente a 80,9 milhões de hectares.
LUSA_EPA
Os números colossais do mundo católico têm ressurgido nos últimos dias, pela imprensa internacional, a pretexto da votação do novo Papa, Leão XIV (Robert Francis Prevost), o primeiro norte-americano a ocupar este cargo, eleito na quinta-feira, dia 8. É que se o antecessor, o papa Francisco (falecido a 21 de abril), primava pelas reformas anti-capitalistas, mas financeiramente viáveis, elas ficaram inacabadas.
O padre César Silva, professor na Faculdade de Teologia da Universidade Católica, explica à SÁBADO: "Como em tantos outros assuntos, também ao nível da gestão financeira, o papa Francisco nos deixa um legado que nos desafia a todos como Igreja. Abriu caminho a um processo corajoso de purificação e renovação, assente nos valores do Evangelho: verdade, justiça e serviço."
A criação da Secretaria para a Economia, em fevereiro de 2014, e a reestruturação das instituições financeiras do Vaticano "são testemunho de um compromisso claro com a transparência, a ética e a responsabilidade na administração dos bens da Igreja", prossegue o teólogo. E sim, "é necessário sublinhar, que estas reformas não são meras correções técnicas", mas uma "expressão concreta da conversão pastoral", diz.
Em termos de transparência, esta "conversão pastoral" que o Papa propôs traduziu-se na divulgação de balanços financeiros, como o revelado em 2024 pela Administração do Património da Sé Apostólica (APSA), referente a 2023. Segundo o relatório, divulgado pela BBC, a economia que o Vaticano movimenta atingiu um lucro de 45,4 milhões de euros. Só na carteira de imóveis conta com mais de cinco mil, 20% dos quais arrendados, gerando receitas acima dos 73 milhões de euros e um lucro líquido anual de 34,6 milhões de euros.
Transparência nas contas
Dados do património tornaram-se públicos, quando até então permaneciam confidenciais no Vaticano. O padre César Silva reforça agora: "A opção preferencial pelos pobres foi um marco do pontificado de Francisco. Recordamos com emoção um dos seus últimos gestos: deixou da sua conta pessoal 200 mil euros para ajudar prisioneiros."
Ao reformar a Cúria Romana, o papa sublinhou "uma e outra vez que a administração deve estar ao serviço da missão e não do poder", acrescenta César Silva. E até que se "autocorrija, sempre que necessário." Em 2019, o líder máximo da Igreja defendia uma gestão não especulativa, mas exemplo de boas práticas sem que o património se desvalorizasse. Dizia: "Que se mantenha ou renda pouco."
Estas reformas não são meras correções técnicas, mas uma expressão concreta da conversão pastoral
Padre César Silva, professor na Faculdade de Teologia da Universidade Católica sobre as reformas financeiras do Papa Francisco
Para o efeito, criou uma espécie de super ministério, a Secretaria para a Economia com amplos poderes de gestão financeira da Santa Sé. O cardeal australiano George Pell era o responsável, mas acabou afastado em 2019 por escândalos de abusos sexuais (faleceu em 2023).
Anos depois, outro cardeal viu-se envolvido em polémica, desta vez por questões financeiras. Foi Giovanni Angelo Becciu, condenado pelo Vaticano em 2023, a cinco anos e meio de prisão por peculato. Em causa esteve a compra de um prédio de luxo em Londres, por 200 milhões de euros, através de um suposto desvio de fundos de caridade.
Estando isenta de impostos, a instituição foi fortalecendo os cofres ao longo dos séculos, sobretudo pelas doações de fiéis. Contudo, o Wall Street Journal (WST) destaca um dos maiores desafios financeiros ao novo Papa: o défice operacional do Vaticano triplicou para 90 milhões de euros. Não se espera que seja "uma espécie de CEO, mas sim um Ser Humano que procura viver de mente e coração centrado em Cristo, guiado pelo Espírito Santo", remata o padre César Silva.
Finanças da Igreja: números colossais, mas reformas inacabadas
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As nossas sociedades estão mais envelhecidas. Em 1950, 5% da população mundial tinha 65 anos ou mais. Em 2021, o número duplicou. Em 2050, mais do que triplicará. Ao mesmo tempo, a taxa de fertilidade (e de natalidade) diminuirá drasticamente.