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Comité de Ética do BCE diz que independência de Centeno "não foi comprometida" com convite de Costa

Comité considera que independência do governador do Banco de Portugal não foi colocada em causa, "uma vez que não foi formalmente convidado para assumir a posição de primeiro-ministro, nem deu indicação de que estava inclinado a aceitar [o convite]".

O Comité de Ética do Banco Central Europeu concluiu que o governador do Banco de Portugal não agiu de forma que comprometesse a sua independência no caso do convite feito pelo primeiro-ministro para o substituir, foi hoje divulgado.

"O Comité de Ética considera que Centeno não agiu de forma que comprometesse a sua independência como membro do Conselho do BCE nem prejudicou os interesses da União. Consequentemente, cumpriu os requisitos do Código de Conduta Único do BCE", pode ler-se na resposta enviada pela presidente do BCE, Christine Lagarde, aos eurodeputados que a questionaram sobre o caso.

A missiva incluiu o parecer, assinado por Erkki Liikanen, que considera que o "Comité de Ética não encontrou qualquer indicação de que em algum momento o senhor [governador do Banco de Portugal, Mário] Centeno tenha manifestado ou confirmado a intenção de aceitar a sugestão do senhor [primeiro-ministro, António] Costa".

Em causa está a polémica de o nome de Mário Centeno (ex-ministro das Finanças dos governos PS) ter sido proposto pelo atual primeiro-ministro para o substituir no cargo (depois de António Costa se ter demitido devido a uma investigação na Justiça), o que levou a críticas de partidos da oposição, por considerarem que ficava em causa a independência de Centeno como governador.

O Comité de Ética considerou que a independência de Mário Centeno "não pode ser considerada prejudicada", uma vez que não foi formalmente convidado a assumir o cargo de primeiro-ministro, nem que "estaria inclinado a aceitá-lo".

O parecer assinala ainda que o facto de o governador do Banco de Portugal não ter notificado Christine Lagarde e/ou o próprio Comité de Ética, como teria sido exigido pelo Código Único, pode ser visto como um sinal de ausência de intenção de assumir o papel de primeiro-ministro ou que as suas reflexões ainda não tinham amadurecido o suficiente para exigir ações concretas".

O Comité de Ética detalha que solicitou e obteve conhecimento dos factos e recebeu a confirmação de que, no decurso dos acontecimentos imediatamente posteriores ao pedido de demissão de António Costa do cargo de primeiro-ministro, Mário Centeno "manteve o seu horário de trabalho integral no Banco de Portugal e total discrição", com o objetivo de "proteger os interesses" da instituição que lidera.

Em declarações ao jornal Financial Times, no domingo 12 de novembro, o governador do Banco de Portugal afirmou que teve "um convite do Presidente e do primeiro-ministro para refletir e considerar a possibilidade de liderar o Governo" e que estava "muito longe de tomar uma decisão".

Em reação, na madrugada de domingo para segunda-feira, o Presidente da República publicou uma nota a negar que tenha convidado quem quer que seja para chefiar o Governo, incluindo Mário Centeno ou autorizado qualquer contacto para este efeito.

A declaração de Marcelo Rebelo de Sousa levou Centeno a corrigir a sua declaração: "É inequívoco que o senhor Presidente da República não me convidou para chefiar o Governo", já que optou por dissolver a Assembleia da República, disse Mário Centeno em comunicado.

A conduta de Mário Centeno levou a uma reunião extraordinária da Comissão de Ética do Banco de Portugal, para ser avaliada, tendo esta considerado que o governador cumpriu os deveres gerais de conduta e "agiu com a reserva exigível". Contudo, acrescentou que, "no plano objetivo, os desenvolvimentos político-mediáticos subsequentes podem trazer danos à imagem do Banco", considerando que "a defesa da instituição é ainda mais relevante num período como o atual".

Neste sentido, recomendou a comissão presidida que "o governador, a administração e o Banco no seu todo continuem empenhados na salvaguarda da imagem e reputação do Banco de Portugal".

Já o Conselho de Administração do Banco de Portugal, liderado pelo governador, considerou que "sempre estiveram reunidas as condições de independência do Banco de Portugal e dos seus órgãos para o exercício das suas competências".

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