Sábado – Pense por si

"O Mundial na Arábia Saudita poderá ajudar a mudar mentalidades – mas isso não será de forma instantânea"

Profissional na área do imobiliário, o português Pedro Ribeiro está na Arábia Saudita desde 2017. Lidera uma equipa de 400 pessoas e tem estado ligado a alguns dos projetos megalómanos do País. Em entrevista à SÁBADO, fala de vários temas, desde a aposta no desporto (e o que se pode esperar do Mundial 2034) às diferenças culturais ou às polémicas questões dos direitos humanos.

A viver no Médio Oriente há 12 anos, e na Arábia Saudita desde 2017, o português Pedro Ribeiro, profissional na área do imobiliário, deu uma entrevista à SÁBADO, poremail, em que abordou vários temas, das diferenças culturais à aposta do país no desporto e à polémica questão dos direitos humanos. O General Manager da empresa CBRE na Arábia Saudita, que gere uma equipa de 400 pessoas, diz que já lhe aconteceram algumas situações inusitadas (às quais tenta reagir com humor), como quando ia, inadvertidamente, cumprimentar uma mulher com um aperto de mão.

Há quanto tempo está na Arábia Saudita e como é que surgiu a hipótese de ir trabalhar para o país?

Trabalho no Médio Oriente há 12 anos, primeiro tive a oportunidade de liderar projetos no Qatar, como o Mall of Qatar. Depois, em 2017, ao perceber que o Qatar enfrentaria uma crise iminente, motivada pelo contexto desafiante que o país atravessava, em particular o bloqueio diplomático e económico que afetava o ambiente de negócios e o mercado imobiliário, decidi apostar na Arábia Saudita.

Na altura, percebi que a Arábia Saudita estava a entrar numa fase de forte expansão, com um plano ambicioso de reformas e investimentos em infraestruturas, e vi uma oportunidade estratégica para aplicar a minha experiência em projetos de grande escala. A mudança para a Arábia Saudita permitiu-me participar no desenvolvimento de alguns dos maiores e mais emblemáticos projetos da região, como o Riyadh Park Mall e o Panorama Mall. Em 2022, fui convidado pela CBRE para assumir o cargo de General Manager na Arábia Saudita e contribuir para o crescimento e sucesso de diversos projetos emblemáticos sauditas.

Como é gerir uma equipa de 400 pessoas na CBRE na Arábia Saudita? Que tipo de trabalho é que fazem?

É uma responsabilidade que exige uma liderança estratégica, capaz de integrar e otimizar as diversas competências de uma equipa multicultural e multidisciplinar. A nossa equipa é composta por profissionais altamente qualificados, com experiência em áreas como finanças, investimentos, avaliação imobiliária, consultoria, design, arquitetura, planeamento e gestão de portfólios, entre outras. Este vasto leque de especialidades permite-nos oferecer soluções abrangentes e inovadoras, adaptadas às necessidades dos nossos clientes.

O nosso trabalho é focado na entrega de serviços imobiliários de excelência, desde o desenvolvimento e gestão de projetos imobiliários de grande escala, até à consultoria estratégica e à gestão de ativos. Estamos envolvidos em algumas das iniciativas mais ambiciosas da Arábia Saudita, como os mega projetos ligados à Vision 2030, que incluem a construção de cidades sustentáveis, a melhoria da infraestrutura urbana e o desenvolvimento do setor turístico.

Num país de grandes diferenças culturais em relação ao mundo ocidental, qual foi  melhor história (ou a mais caricata) que já viveu na Arábia Saudita?

Uma das situações mais caricatas ocorreu logo no início da minha estadia na Arábia Saudita, quando tive que aprender a lidar com as diferenças culturais, especialmente no que diz respeito à interação com mulheres em contextos profissionais, como adaptar os gestos e cumprimentos nas reuniões de negócios.

Um exemplo disso aconteceu quando, numa reunião com uma cliente saudita, ao tentar cumprimentá-la de forma cortês, estendi a mão, algo habitual no Ocidente, mas que, na Arábia Saudita, não é a forma tradicional de saudação entre homens e mulheres que não são da mesma família. A reação foi imediata, mas educada, e rapidamente percebi que o mais adequado seria uma saudação verbal acompanhada de um aceno respeitoso, sem o gesto físico. Com o tempo, acabei por encarar com uma boa dose de humor as situações mais inusitadas.

Para si, qual é a melhor coisa de viver na Arábia Saudita? E a pior?

Viver na Arábia Saudita tem sido uma experiência enriquecedora. O que considero mais positivo nesta vivência é a oportunidade de estar imerso num ambiente de mudança e inovação. A Arábia Saudita está a investir em projetos de escala global, como as cidades de Neom e The Line, e a transformação urbana que está a ocorrer é notável.

Para um profissional do setor imobiliário, é um privilégio fazer parte de uma revolução que está a redesenhar o futuro das cidades, com um foco claro em tecnologia, sustentabilidade e inovação. O ambiente de negócios, fortemente baseado em relacionamentos pessoais e na construção de confiança, permite-me estabelecer vínculos duradouros e trabalhar de forma colaborativa com uma diversidade de profissionais, tanto sauditas quanto expatriados.

No entanto, existem também desafios associados a viver na Arábia Saudita, particularmente no que diz respeito às limitações em torno da liberdade pessoal, dos direitos humanos e das normas sociais, muito marcadas pela religião, que regem a vida diária.

Embora o país esteja a passar por um processo de modernização, há ainda aspetos da sociedade que podem ser difíceis de compreender, principalmente no que concerne a questões de liberdade individual e direitos das mulheres. A dinâmica social e as diferenças culturais exigem uma adaptação constante, especialmente para alguém vindo de uma sociedade ocidental, e por vezes é necessário equilibrar a minha postura profissional com a necessidade de respeitar e compreender as normas locais. 

Pode-se dizer que há uma grande diferença da vida que tinha em Portugal para a da Arábia Saudita, um país islâmico e de costumes rigorosos? Ou tem havido uma "ocidentalização" da Arábia Saudita?

A vida na Arábia Saudita é bastante diferente da de Portugal, especialmente no que se refere aos costumes e à cultura. A Arábia Saudita é um país com profundas raízes islâmicas e uma estrutura social e cultural muito distinta, onde os valores religiosos e as tradições locais desempenham um papel central no dia a dia. Isso reflete-se em várias dimensões da vida, desde os códigos de vestimento até às normas sociais que regulam as interações entre os géneros e a vida familiar.

No entanto, a Arábia Saudita está a passar por um processo de modernização, impulsionado, em grande parte, pelo programa Vision 2030. Este plano de reforma visa diversificar a economia e promover uma maior abertura do país ao mundo, o que tem resultado numa progressiva "ocidentalização" em algumas áreas. A abertura para o turismo, o incentivo à inovação e a introdução de novas políticas de lazer e entretenimento são exemplos claros desta mudança. Além disso, a crescente presença de expatriados e a adaptação de várias práticas empresariais internacionais têm também contribuído para essa evolução. 

Nos últimos anos, a Arábia Saudita gastou mais de 5,7 mil milhões de euros em grandes eventos desportivos, segundo o jornal The Guardian, no que é apontado como sportswashing. Qual é a sua opinião?

A questão do "sportswashing" é complexa e envolve uma análise profunda das dinâmicas políticas, sociais e económicas de qualquer país. No caso da Arábia Saudita, a decisão de investir substancialmente em grandes eventos desportivos, nos últimos anos, pode ser vista sob várias perspetivas.

Por um lado, o investimento em eventos desportivos de grande escala pode ser interpretado como uma estratégia de modernização e diversificação da imagem do país. O desporto tem o poder de unir as pessoas, promover a troca cultural e, acima de tudo, servir como uma plataforma de visibilidade global. Neste contexto, a Arábia Saudita está a tentar posicionar-se como um destino não só para negócios e investimentos, mas também como um centro de inovação e entretenimento, capaz de atrair turistas e gerar novas fontes de rendimento fora da dependência do petróleo.

Por outro lado, o conceito de "sportswashing", que se refere ao uso do desporto para desviar a atenção de questões políticas, direitos humanos e outras críticas internacionais, é uma questão legítima a ser debatida. Quando grandes investimentos em desporto são realizados num contexto onde ainda existem preocupações significativas em áreas como direitos humanos, liberdades individuais e igualdade de género, há, de facto, um risco de que o desporto seja usado como uma ferramenta para melhorar a imagem do país, ao invés de uma verdadeira mudança nas suas políticas internas.

Acredito que é essencial que a Arábia Saudita faça esforços contínuos para alinhar as suas iniciativas desportivas com progressos reais em áreas sociais e políticas. O desporto tem o poder de ser uma força positiva e transformadora, e espero que os investimentos feitos na área contribuam não só para o desenvolvimento económico, mas também para um maior diálogo e abertura em questões fundamentais. Portanto, é importante que qualquer avanço neste domínio seja acompanhado de um compromisso genuíno com os direitos humanos e com a promoção de uma sociedade mais inclusiva e equitativa.

Também há quem defenda que a aposta no futebol é uma operação de marketing, que irá cair mais ano menos ano, à semelhança do que aconteceu na China. Sente que isso é uma forte possibilidade ou as pessoas gostam verdadeiramente de futebol?

A questão levantada sobre a aposta da Arábia Saudita no futebol e a possibilidade de esta ser uma operação de marketing com um caráter efémero, como aconteceu noutros países, é válida e merece uma reflexão cuidadosa. É possível que o investimento substancial em futebol, como tem acontecido nos últimos anos, seja, em parte, uma estratégia de marketing para promover o país no cenário global, tal como foi observado em outras nações que tentaram usar o desporto como uma ferramenta de soft power. A Arábia Saudita, ao direcionar recursos significativos para o futebol, parece visar não só a construção de uma imagem internacional mais moderna, mas também a criação de uma plataforma para atrair atenção e investimentos externos.

No entanto, há vários fatores que sugerem que este movimento vai além de uma mera operação de marketing pontual. Em primeiro lugar, a cultura desportiva no país tem vindo a crescer de forma significativa, com um número crescente de adeptos e com o próprio governo a fomentar a prática e a promoção do desporto como parte da sua estratégia de diversificação económica e social. A paixão pelos desportos, e em particular pelo futebol, tem vindo a enraizar-se cada vez mais entre as gerações mais jovens.

Além disso, a aposta em grandes figuras do futebol internacional, como Cristiano Ronaldo, e em eventos de alto nível, como o Mundial de Futebol 2034 e os Jogos Olímpicos Asiáticos 2029, reflete uma tendência global que envolve a expansão do desporto para mercados emergentes, como forma de consolidar o seu apelo em várias partes do mundo. A combinação de uma estratégia focada na criação de um ecossistema desportivo moderno, aliado à crescente base de fãs locais e internacionais, parece indicar que, mais do que uma moda passageira, a aposta no futebol tem um potencial duradouro.

Se a Arábia Saudita for capaz de fomentar o desenvolvimento local do futebol, incentivando a formação de novos talentos e criando uma cultura desportiva sólida, o impacto poderá ser duradouro. Se, por outro lado, as apostas se mantiverem apenas no plano dos grandes investimentos externos e da projeção internacional, a tendência pode, eventualmente, perder força, como já aconteceu noutros mercados. Mas acredito que a Arábia Saudita está, de facto, a investir de forma séria no futebol.

Num futuro próximo poderá haver algum craque saudita de categoria mundial, ao nível das maiores estrelas, de Mbappé a Lamal ou Messi?

Embora seja difícil prever com precisão, o país está a tomar medidas significativas para criar as condições necessárias para o surgimento de tais talentos.

Nos últimos anos, tem-se assistido a uma crescente profissionalização do futebol saudita, tanto a nível de infraestruturas como de programas de formação. A Arábia Saudita está a investir fortemente na melhoria das suas academias de futebol, na contratação de treinadores internacionais de renome e na promoção de ligas e competições que proporcionem uma maior visibilidade e competitividade. 

Além disso, a crescente interação com os maiores nomes do futebol mundial, seja através da realização de grandes eventos desportivos ou da contratação de jogadores internacionais, serve como um importante estímulo para os jovens sauditas.

Para que a Arábia Saudita produza um jogador de classe mundial, será necessário mais do que apenas uma boa formação técnica; será essencial cultivar uma cultura desportiva sólida, que valorize o esforço contínuo, a disciplina e a competição ao mais alto nível. Nesse sentido, o papel das academias, a qualidade da competição interna e as oportunidades de internacionalização dos jogadores sauditas serão cruciais.

A Arábia Saudita está a dar passos significativos para criar as condições para que, num futuro próximo, possamos assistir ao surgimento de uma nova geração de craques sauditas que possam vir a figurar entre os melhores do mundo no futebol, como já aconteceu noutros desportos, como o atletismo e o boxe, com os atletas sauditas a destacar-se em competições internacionais.  

Até que ponto é que a organização do Mundial de Futebol em 2034 poderá ajudar a mudar mentalidades e abrir o país ao mundo?

A organização do Mundial de Futebol de 2034 na Arábia Saudita tem o potencial de ser um marco significativo na transformação do país, tanto a nível desportivo como cultural. Este evento irá proporcionar uma visibilidade global sem precedentes e também poderá servir como um catalisador para a mudança de mentalidades e a promoção de um maior intercâmbio entre a Arábia Saudita e o resto do mundo.

O futebol tem a capacidade de unir pessoas de diferentes origens e incentivar o diálogo entre culturas diversas. A realização do Mundial oferece à Arábia Saudita uma plataforma única para mostrar ao mundo a sua hospitalidade, a sua riqueza cultural e as transformações que o país tem vindo a implementar. 

Além disso, a preparação e a organização de um evento de tal dimensão exigem uma série de mudanças estruturais e operacionais, o que impulsionará o desenvolvimento das infraestruturas do país, como estádios, transportes, hotéis e sistemas de comunicação. 

Em termos de mentalidade, a realização do Mundial poderá acelerar a adoção de valores universais como a inclusão, a diversidade e a cooperação. Ao envolver a comunidade local na organização e nas atividades em torno do evento, a Arábia Saudita poderá criar uma plataforma para promover um diálogo mais aberto entre as gerações mais jovens e as mais velhas, e entre os diferentes segmentos da sociedade. O Mundial poderá, assim, atuar como uma janela para o mundo, oferecendo aos cidadãos sauditas uma oportunidade de experimentar, de forma mais direta, diferentes culturas e perspectivas, ao mesmo tempo que expõe o país a influências externas que podem contribuir para uma mudança gradual e positiva.

Contudo, é importante reconhecer que este processo de mudança não se dará de forma automática nem instantânea. O sucesso do evento enquanto agente transformador dependerá não apenas da qualidade da sua organização, mas também do grau de envolvimento das autoridades sauditas na promoção de um ambiente inclusivo e de respeito mútuo. 

No Qatar, houve muita polémica com as más condições dos trabalhadores (imigrantes) que estavam a construir os estádios e as infra-estruturas, com as OMS a falarem em "condições desumanas" e a apontarem para 400 a 500 mortos (a embaixada do Paquistão refere mesmo 824 mortos só entre os paquistaneses). Acha que a Arábia Saudita poderá "aprender" com essa situação e proporcionar outras condições aos trabalhadores?

É possível que o país, tendo em conta a visibilidade global deste problema e as pressões exercidas pela comunidade internacional, procure adotar medidas mais rigorosas no que se refere às condições de trabalho dos seus próprios migrantes, especialmente à medida que se aproxima de grandes projetos de infraestruturas e eventos internacionais, como a realização do Mundial de Futebol 2034 e as Olimpíadas Asiáticas em 2029. A Arábia Saudita, ao observar o impacto negativo da má gestão das condições laborais no Qatar, deverá adotar práticas de maior responsabilidade social e respeito pelos direitos dos trabalhadores, estabelecendo um padrão mais elevado de conformidade com as normas internacionais de trabalho e direitos humanos.

O desafio será garantir que as promessas de reformas sejam efetivamente implementadas e monitorizadas, assegurando condições de trabalho dignas e a preservação da integridade e segurança de todos trabalhadores envolvidos.

No mundo ocidental há muito a ideia de que a Arábia Saudita é um país dominado pelas elites, que vivem muito bem, mas que depois os trabalhadores não qualificados, os imigrantes que vão para lá trabalhar nas grandes construções, têm más condições? Qual é a sua opinião?

A realidade saudita é multifacetada. Embora seja inegável que as elites sauditas desfrutem de uma posição privilegiada, o que lhes confere um elevado padrão de vida, também é crucial reconhecer os esforços do governo saudita para implementar reformas que visam equilibrar, de forma gradual, as disparidades entre as diferentes classes sociais.

A Arábia Saudita tem-se tornado um destino central para trabalhadores migrantes, especialmente oriundos de países como o Paquistão, Bangladesh, Índia e outros da Ásia meridional, que são frequentemente contratados para desempenhar funções nas grandes construções e projetos de infraestruturas.

O país tem vindo a implementar, nos últimos anos, algumas reformas no âmbito do mercado de trabalho, nomeadamente com a introdução de leis que visam melhorar as condições dos trabalhadores, como a revisão do sistema de kafala (sistema de patrocínio), que limitava a liberdade dos trabalhadores migrantes. No entanto, a verdadeira transformação dependerá da continuação da pressão internacional e do comprometimento interno em garantir direitos justos e dignidade para todos os trabalhadores, independentemente da sua origem ou status migratório.

Sente-se essa vontade de esconder do mundo ocidental as coisas menos boas do país?

Na minha opinião, a ideia de que a Arábia Saudita pretende esconder aspectos menos positivos da sua realidade do mundo ocidental pode ser uma interpretação redutora e, muitas vezes, imprecisa. De facto, é inegável que a sociedade saudita é profundamente marcada pelas suas tradições religiosas, o que influencia a sua cultura e os seus valores fundamentais. No entanto, esta visão deve ser considerada no contexto de uma nação em processo de transformação.

Pessoalmente, não tenho testemunhado qualquer abuso laboral nem condições de trabalho desumanas, e, pelo contrário, o ambiente profissional que sempre encontrei no país tem sido caracterizado por uma grande elevação e respeito. As relações de trabalho, nas quais a hierarquia é claramente respeitada, demonstram um compromisso com a dignidade e o profissionalismo, o que destoa da narrativa de exploração e desrespeito que, por vezes, é associada ao país.

Acredito que a Arábia Saudita está a dar passos firmes na direção de uma maior modernização e adaptação às exigências do mundo contemporâneo, ao mesmo tempo que preserva a sua identidade cultural e religiosa. 

A questão dos direitos humanos já começou a ser falada (e deverá continuar na ordem do dia até ao Mundial). A Amnistia Internacional, após a decisão de atribuição do Mundial à Arábia Saudita, referiu tratar-se de "um momento de grande perigo para os direitos humanos", até porque o país não subscreve a Declaração Universal dos Direitos Humanos da ONU. No dia a dia, sente-se a discriminação, nomeadamente em relação à liberdade religiosa e política e aos direitos das mulheres?

A questão dos direitos humanos, particularmente em relação à liberdade religiosa, política e aos direitos das mulheres, é um tema de debate relevante e que continuará a ser amplamente discutido à medida que a Arábia Saudita se prepara para a realização de grandes eventos internacionais, como o Mundial. No entanto, a minha experiência pessoal e a observação direta da realidade do país podem proporcionar uma perspetiva que talvez contrarie algumas das perceções prevalentes no ocidente.

Em relação aos direitos das mulheres, não posso deixar de salientar que, ao longo da minha vivência no país, nunca testemunhei qualquer forma de discriminação ou maus-tratos. Pelo contrário, as mulheres sauditas têm vindo a conquistar progressivamente maior espaço nas várias esferas da sociedade. A minha própria experiência confirma que as mulheres no país têm a oportunidade de levar uma vida plenamente ativa e profissional, respeitando, naturalmente, as tradições e os costumes locais. A minha esposa, por exemplo, tem a possibilidade de desfrutar de uma rotina social e profissional que, embora influenciada pelas tradições religiosas e culturais, é perfeitamente normal e livre de qualquer tipo de restrição.

Quanto à liberdade religiosa e política, é importante destacar que a Arábia Saudita é um país com uma identidade fortemente ligada ao Islão e às suas tradições, o que, por vezes, é interpretado de maneira equivocada no ocidente. A prática religiosa, em particular, é respeitada e central na vida diária da população, mas isso não deve ser confundido com discriminação contra outras crenças. No que diz respeito à política, a estrutura do governo saudita é monárquica e, como tal, não segue os mesmos modelos democráticos ocidentais. No entanto, não se pode afirmar que isso signifique uma supressão total das liberdades, dado que o país tem promovido, em várias áreas, transformações significativas que visam modernizar a sociedade.

A Arábia Saudita está a atravessar um período de reformas profundas, incluindo iniciativas de abertura em relação ao papel das mulheres, da juventude e das liberdades sociais. Embora as críticas em relação ao cumprimento dos direitos humanos sejam válidas e devam ser constantemente monitorizadas, é importante reconhecer o esforço do país para se adaptar a novas realidades globais, sem comprometer a sua identidade cultural e religiosa.

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