Sábado – Pense por si

O Carvalhal dos pequeninos, a força dos velhos, o não-recorde de CR7 e um erro chamado Suárez

Carlos Torres
Carlos Torres 23 de janeiro de 2021 às 16:03
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Decide-se o campeão de Inverno em Portugal, a Liga francesa pode ficar sem treinadores lusos, os dois gigantes espanhóis estão em crise e Ronaldo garante que a Juventus não se vai render. Este fim-de-semana há muitos pontos de interesse no futebol, e ainda a seleção de andebol que decide o seu futuro no Mundial frente à França.

A pandemia alastra, descontrolada, na Europa e no mundo, mas o futebol, o ópio do povo, não pode parar, apesar dos surtos que, em Portugal, enfraquecem Benfica e FC Porto (será que não se começaram a contaminar uns aos outros na final da Supertaça, na véspera do Natal?) No próximo fim de semana… ou melhor, nos próximos jogos, porque agora as jornadas não se disputam aos sábados e domingos, mas em qualquer dia da semana, vamos ter algumas partidas e protagonistas que vale a pena espreitar com atenção. E, fora do futebol, temos o decisivo jogo da seleção portuguesa de andebol, frente à França, no Mundial que decorre no Egito.

Portugal: uma taça que elege o Campeão de Inverno

Sporting e Sp. Braga até já ganharam a Taça da Liga, cada, por duas vezes, mas o jogo deste sábado, dia 23 de janeiro (às 19h45) representa uma final inédita na prova, e que poderá consagrar Rúben Amorim ou Carlos Carvalhal.

Rúben Amorim, que venceu em 2020, ao serviço do Sp. Braga (Ricardo Horta marcou aos 95 minutos e resolveu a final frente ao FC Porto), pode tornar-se o primeiro treinador a ganhar dois anos seguidos por dois clubes diferentes.

Já Carlos Carvalhal, que conquistou a primeira edição (2007/08), pelo Vitória de Setúbal (venceu o Sporting nos penáltis, após 0-0 nos 90 minutos), pode ser o primeiro treinador a ganhar a Taça da Liga por dois clubes fora dos três grandes (Jorge Jesus é o recordista, com seis triunfos, cinco no Benfica e um no Sporting).

Em caso de vitória do Sporting, Rúben Amorim vai mostrar que afinal o presidente leonino, Frederico Varandas, terá feito bem em ir resgatá-lo ao Sp. Braga por 10 milhões de euros (que ainda estão a ser pagos), porque o técnico ficaria assim com dois troféus no currículo em pouco mais de um ano como treinador na I Divisão (foi a 23 de dezembro de 2019 que tomou conta da equipa principal do Sp. Braga, após a saída de Sá Pinto, tendo-se mudado para Alvalade a 4 de março de 2020, ao fim de apenas 13 jogos nos minhotos – e 10 vitórias).

Já para Carlos Carvalhal, a vitória na Taça da Liga acontecerá 13 anos após a primeira conquista, e depois de uma carreira recheada de experiências em Portugal (após o Vit. Setúbal esteve no Marítimo, no Sporting e, mais recentemente, no Rio Ave, que levou ao 5º lugar, a melhor classificação de sempre) e no estrangeiro.

Carvalhal treinou, lá fora, o Asteras Tripolis, da Grécia, e os turcos do Besiktas e do Istanbul Basaksehir, antes de cumprir um dos seus sonhos de criança: treinar na Liga inglesa.

No Reino Unido, Carvalhal foi de mais a menos com os seus clubes. No histórico Sheffield Wednesday, na primeira época até eliminou o Arsenal na Taça da Liga inglesa e ficou em 6º lugar no Championship (segunda divisão), disputando o play-off de acesso à Premier League, que falhou ao perder na final, em Wembley.

Apesar disso, os adeptos adoravam-no, pelo futebol positivo e de grande qualidade, e até lhe dedicaram uma canção. Na época seguinte (2016/17), o Sheffield Wednesday ficou em 4º no Championship e foi novamente aos play-offs, tendo sido derrotado pelo Huddersfield Town nos penáltis.

Carlos Carvalhal ainda chegou a iniciar a terceira época em Sheffield, mas a lua de mel estava há muito estragada e saiu a 24 de dezembro, deixando a equipa abaixo do meio da tabela. Ainda assim, quatro dias depois da saída, Carvalhal mudava-se para o Swansea, clube do País de Gales que disputava a I Liga inglesa.

O início foi prometedor e Carvalhal até foi eleito Melhor Treinador do Mês em janeiro, depois de vencer Liverpool e Arsenal. Mas a equipa foi piorando e uma ponta final desastrosa originou a descida de divisão e a queda (e saída) do treinador.

Carlos Carvalhal tem essa faceta de alternar grandes feitos com maus resultados. Aliás, recorde-se que em 2002/03, com apenas 37 anos (e no começo da carreira de treinador, que tinha iniciado no Sp. Espinho) levou à final da Taça de Portugal o Leixões, da II Divisão B, ainda hoje a única equipa do terceiro escalão a conseguir tal feito. Este sábado, que Carvalhal vamos ter: o do quase ou o dos feitos heroicos, que pode dar uma prenda aos minhotos em ano de centenário?

Espanha: Um erro chamado Suárez

E se o Benfica achasse que Seferovic está velho e falha muitos golos e negociasse a sua venda para o FC Porto por 6 milhões de euros? E se o Sporting, por considerar que Bas Dost tinha um salário elevado (como aconteceu), aceitasse vendê-lo ao FC Porto por esse valor e não ao Eintracht Frankfurt (como aconteceu)?

Pois bem, foi algo semelhante que se verificou em Espanha, com a saída de Luis Suárez do Barcelona para o Atlético de Madrid, em setembro de 2020. Os madrilenos pagaram 6 milhões de euros pelo uruguaio, de 33 anos, que saiu em lágrimas da Catalunha. Uma medida que originou grandes críticas de Messi, que no Instagram escreveu: "Vai ser difícil não partilhar o dia a dia contigo. Vai ser estranho ver-te com outra camisola e muito mais jogar contra ti. Merecias ter tido uma despedida pelo que és: um dos jogadores mais importantes da história do clube, e não teres sido expulso, como te fizeram. Mas a verdade é que nesta altura já nada me surpreende".

Este apontar do dedo do astro argentino à direção do clube, liderado por Josep Maria Bartomeu, tem razão de ser. Afinal, Luis Suárez é já o melhor marcador da liga espanhola, com 11 golos em 14 jogos (Messi tem os mesmos 11, em 17 partidas), e Suárez, sozinho, tem tantos golos como o quarteto de ataque do Barcelona constituído por Griezmann (5), Braithwaite (dois), Pedri (dois) e Dembelé (dois).

Depois dos 120 milhões de euros gastos em João Félix, afinal a melhor contratação do Atlético de Madrid dos últimos anos só custou 6 milhões. Uma pechincha, até porque Suárez parece estar a ser decisivo para a cavalgada triunfal dos colchoneros na Liga espanhola, que seguem bem distanciados na liderança, aproveitando a crise dos rivais. Mesmo com um jogo em atraso, o At. Madrid tem já sete pontos de avanço sobre o Real Madrid e 10 sobre o Barcelona.

No domingo, 24 de janeiro, se nada de anormal acontecer, os vermelhos e brancos de Madrid devem vencer, em casa, um Valência igualmente em crise, que está no 14º lugar, apenas três pontos acima da linha de água. E até poderão aumentar a diferença, pois Real Madrid (no terreno do Alavés) e Barcelona (no campo do Elche) têm saídas complicadas, em especial depois das péssimas prestações que tiveram esta semana, na Taça do Rei: o Real Madrid causou escândalo ao ser eliminado pelo Alcoyano (e com o 2-1 final a surgir numa altura em que a equipa da terceira divisão jogava com 10), e o Barcelona a salvar-se frente ao Cornellá, também da 3ª divisão, apenas no prolongamento (2-0), já depois de Pjanic e Dembelé terem falhado dois penáltis.

Itália: a força dos velhos

A força dos velhos também é atestada em Itália, a Liga de futebol onde se dá mais valor à experiência. Inventores do catenaccio, a arte de bem defender, os italianos até foram campeões do mundo, em 1982, depois de não ganharem nenhum jogo na fase de grupos (foram três empates, com Polónia, Peru e Camarões, antes de Paolo Rossi decidir inscrever o seu nome na imortalidade e dizimar o Brasil de Zico, Sócrates e companhia).

Quem não se lembra das carreiras longas de defesas e guarda-redes como Franco Baresi (jogou até aos 37 anos), Paolo Maldini (terminou aos 41 anos), Dino Zoff (campeão do mundo aos 40 anos, o mais velho de sempre) ou, mais recentemente, de Gianluigi Buffon, que tem 42 anos e ainda defende as cores da Juventus (detém o recorde de mais jogos disputados por clubes, superando os 902 de Paolo Maldini)?

Pois bem, a tradição de haver experiência na defesa e na baliza, parece agora estar a contaminar o ataque. Na última época, Ciro Immobile (que completa 31 anos no próximo dia 20 de fevereiro), foi o máximo goleador da liga italiana (36 golos), e em 2020/21, a lista de artilheiros é liderada por Cristiano Ronaldo, com 15 golos (o avançado da Juventus vai fazer 36 anos a 5 de fevereiro), seguindo-se Zlatan Ibrahimovic, com 12 - o sueco, de 39 anos, é o carismático líder do Milan, que acordou depois de muitos anos adormecido. A equipa milanesa lidera a tabela, com 43 pontos, mais três que os vizinhos do Inter, mais 9 do que o Nápoles (que tem um jogo em atraso, frente à Juventus, adiado por causa da Covid-19), e mais 10 do que a Atalanta, o adversário deste fim de semana (sábado, às 17 horas).

Quanto à Juventus, treinada por Pirlo, está a fazer uma época abaixo das expectativas, surgindo em 6º lugar, a 10 pontos do Milan (mas com o tal jogo com o Nápoles em atraso). Apesar da grande diferença, Cristiano Ronaldo já avisou que "ainda está tudo em aberto no campeonato" (a equipa de Turim recebe no domingo, às 11h30, o Bolonha).

O craque português lançou o aviso na quarta-feira, depois de vencer a Supertaça de Itália (2-0 frente ao Nápoles, com o primeiro golo a ser da sua autoria). Este foi o 31º troféu da carreira de CR7, que desde que chegou ao Manchester United, em 2004, só por duas épocas não conquistou qualquer título (em 2004/05 e em 2009/10).

Ronaldo fez ainda o golo 760 na carreira, contabilizando os que obteve em jogos oficiais de clubes (5 no Sporting, 118 no Manchester United, 450 no Real Madrid, 85 na Juventus) e seleções (102 por Portugal), número que levou muitos a apontá-lo como o melhor marcador da história do futebol, ultrapassando os 759 do checo Josef Bican.

Mas esse recorde não é consensual. O Comité de História e Estatística da Federação de Futdebol da República Checa assegura que Bican tem um total de 821 (não estariam contabilizados os que marcou na II Divisão, pelo Hradec Kralove).

A nível mundial, as contas consideradas mais fiáveis são da Rec. Sport. Soccer Statistics Foundation (RSSSF), que atribui 805 golos a Bican, 772 a Romário e 767 a Pelé, uma contabilidade que a SÁBADO também segue. Por isso, para Ronaldo subir ao topo ainda faltam mais 45 golos, pelo que poderá não conseguir chegar lá já esta época. Mas alcançar o pódio está perto, pois faltam apenas sete para apanhar Pelé e 12 para igualar Romário. E mais 12 golos, quase de certeza que Ronaldo irá marcar no que falta desta época.

França: os portugueses vão embora?

De Artur Jorge a André Villas-Boas, são muitos os treinadores portugueses com sucesso na Liga francesa. Em 2019/20, a época começou mesmo com três representantes nacionais em simultâneo nas equipas gaulesas: Leonardo Jardim no Mónaco, Paulo Sousa no Bordéus e André Villas-Boas no Marselha.

Um ano e meio depois, e com uma pandemia pelo meio, já só há um representante português: mas o lugar de André Villas-Boas está em risco, depois de mais uma derrota caseira, na quarta-feira, 20 de janeiro, frente ao Lens.

Se há um mês o Marselha estava a dois pontos da liderança (e com um jogo em atraso), agora está já a 10 de distância dos líderes, Paris Saint-Germain e Lille (ou seja, e mesmo ganhando a partida em atraso, ficará a sete de distância).

Com apenas uma vitória nas últimas sete partidas para o campeonato e quatro jogos consecutivos sem vencer (um empate e três derrotas, sendo uma delas na Supertaça, frente ao PSG), a crise está instalada (o que acontecerá se o Olympique perder na deslocação ao Mónaco, este sábado?).

E André Villas-Boas até já veio abrir a porta à saída do clube do sul de França. "Estou à disposição da direção. Não estou aqui para lhes criar problemas. Se decidirem que não estou à altura dos resultados, será hora de ir embora. Se houver necessidade de mudança, estou à disposição".

Sem problemas de dinheiro, depois de ter somado contratos chorudos nas suas passagens por equipas como Chelsea, Tottenham, Zenit de São Petersburgo e Shangai SIPG, o técnico não parece estar muito preocupado com o seu futuro. Aliás, Villas-Boas, que é fã de provas de automobilismo, esteve a 15 de janeiro a promover a equipa Race For Good, que com o apoio da Citroën está a participar no rali de Monte Carlo na categoria WRC2 com o objetivo de promover o trabalho da instituição solidária Ace Africa.

Se sair de França, André Villas-Boas terá assim mais tempo para preparar aquele que é há já algum tempo o seu grande objetivo: suceder a Pinto da Costa na presidência do FC Porto, que só poderá acontecer, caso o histórico dirigente não se recandidate, daqui a três anos.

Portugal no Mundial de andebol: a força do sonho

Uma ponta final com alguns erros e o azar de uma bola enviada ao poste por Rui Silva a 3 segundos do fim, no jogo contra a Noruega, impediu Portugal de nesta altura já ter um pé no apuramento para os quartos de final do Mundial de andebol, a decorrer no Egito. A derrota (29-28) frente à equipa nórdica, atual vice-campeã do mundo, obrigou os portugueses, que na primeira fase somaram três vitórias em três jogos, a ter de vencer frente à Suíça e à França para se apurar - isto caso a Noruega não perca pontos com a Islândia – uma vez que tem desvantagem no confronto direto com os nórdicos.

Na sexta-feira, dia 22, a seleção nacional bateu os suíços por 33-29, num jogo difícil, apesar da diferença de quatro golos. Os helvéticos fizeram 45 remates, contra os 37 de Portugal, pelo que a eficácia fez a diferença. E nos últimos minutos, a Suíça chegou a estar a apenas um golo de diferença, mas cometeu alguns erros no ataque e na defesa, bem aproveitados por Portugal para aumentar a diferença e carimbar o triunfo após um histórico de três desaires seguidos contra a equipa helvética.

No jogo frente aos suíços, o veterano guarda-redes Humberto Gomes, de 43 anos, com seis defesas cruciais (em dez remates), voltou a ser determinante. Em frente à baliza, os destaques vão para Vitor Iturriza, com sete golos, e Fábio Magalhães (com seis).

No domingo, às 19h30, Portugal, a não ser que haja uma grande surpresa no Noruega-Islândia, terá de vencer os franceses. Algo que até aconteceu recentemente, pois no Europeu de 2020, disputado em janeiro do ano passado, a equipa das quinas ganhou por 28-25, naquela que foi a primeira vitória sobre os gauleses numa fase final de um Europeu. E, na fase de qualificação, em Guimarães, Portugal também já tinha vencido a França (33-27), pelo que se espera que no domingo não haja duas sem três.

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