Arrancou esta segunda-feira o primeiro dia de julgamento de Luis Rubiales, ex-presidente da federação de futebol espanhola acusado de agressão sexual por ter beijado uma jogadora. Durante várias horas, a espanhola garantiu que não lhe foi pedida permissão para que fosse beijada e que se sentiu "desrespeitada".
Jenni Hermoso, jogadora de futebol, reiterou esta segunda-feira (3), em tribunal, que obeijo que o ex-presidente da federação de futebol espanhola lhe deu, após vencer o mundial de futebol feminino na Austrália, não foi consentido e que não teve reação para o evitar. As declarações surgiram no arranque do primeiro dia de julgamento, no qual Luis Rubiales está a ser acusado de agressão sexual.
Spain High Court/Pool via Reuters
"Não consegui reagir em momento algum. Senti que estava totalmente fora de contexto. Sabia que o meu chefe me estava a beijar e isso não deveria acontecer em nenhum ambiente social ou de trabalho", disse a jogadora sobre o beijo que foi visto em direto por milhões de pessoas.
O interrogatório foi iniciado pela vice-procuradora do Tribunal Nacional Marta Durántez. Quando questionou a avançada de 34 anos sobre se havia denunciado o acontecimento por vontade própria ou por pressão do Ministério Público, Jenni Hermoso respondeu que foi a sua intenção "desde o primeiro dia" denunciar.
"Ele perguntou-te: posso-te dar um beijo?", questinou um outro procurador do Tribunal Superior de Madrid. Ao qual Hermoso respondeu: "Não ouvi nem entendi nada naquele momento. Depois de ele ter colocado as mãos nos meus ouvidos, o próximo passo foi me beijar na boca. Não senti nem vi qualquer tipo de gesto com a sua boca." "E se lhe tivesse feito essa pergunta, teria concordado?", continuou o procurador. "Não", respondeu a jogadora.
Nas respostas subsequentes, a jogadora expressou os seus sentimentos sobre o momento em que Rubiales a beijou no pódio, em Sydney, a 20 de agosto de 2023. "Senti-me desrespeitada. É importante dizer que em momento algum procurei esse ato e muito menos esperava que fosse desrespeitada", declarou quando questionada sobre se havia sentido "violada a sua integridade sexual como pessoa".
Luis Rubiales, de 47 anos, está a ser acusado de agressão sexual e o Ministério Público (MP) entretanto já pediu dois anos e meio de prisão para o ex-presidente da RFEF: um ano pelo beijo (justificado como alegado crime de abuso sexual) e mais um ano e meio pela alegada pressão para que a jogadora não o denunciasse (crime de coação). Além de Rubiales estão também a ser processadas outras três pessoas: Albert Luque, ex-diretor da seleção masculina, Jorge Vilda, ex-técnico da seleção feminina, e Rúben Rivera, ex-gerente de marketing da Federação. Para estes arguidos, o MP pede um ano e meio de prisão. Em causa está o facto de terem alegadamente participado nesta coação.
Segundo o MP e a própria jogadora, este episódio terá ocorrido ainda em Austrália, no avião de regresso a Espanha. Porém, um outro já haveria ocorrido, segundo Hermoso, num dos corredores do estádio.
"Ele disse-me que se estava a falar muito [do caso] nas redes sociais e que poderíamos impedi-lo de alguma forma. Eu disse a ele: 'Vais cair porque sabes que isso não está certo'. E ele disse-me: 'Sabes que o fiz com efusidade, naquele momento'".
E acrescentou outros argumentos de Rubiales para a convencerem a não avançar com uma queixa. "Disse-me que tinha uma namorada e que ela não se tinha importado e também me disse uma coisa que me magoou um pouco: 'Tu e eu gostamos da mesma coisa."
Depois de mais de uma hora de interrogatório, por parte dos procuradores, do advogado de Hermoso e da Associação de Futebolistas Espanhóis (AFE), foi a vez da advogada de Rubiales, que começou por criticar a ação do Ministério Público.
Olga Tubau deu a entender que a vice-procuradora agiu de forma diferente do habitual, nos casos de crimes sexuais, ao pedir à jogadora para que denunciasse o caso. Nas perguntas seguintes, procurou fazer com que Hermoso indicasse que sempre teve "um bom relacionamento" com Rubiales. Depois disso, quis saber se Jenni Hermoso alguma vez já havia acabado uma troca de mensagens ao escrever "um beijo com um emoji a mandar um beijo". Quanto a isso, a jogadora disse que não se lembrava de tal coisa.
Confrontada sobre o facto de nos dias seguintes Hermoso ter alegadamente minimizado o sucedido, a avançada justificou que estava "em modo campeã do mundo" e que não queria que o beijo ofuscasse o sucesso desportivo. As perguntas por parte da defesa de Rubiales surgiram sempre neste sentido, até que o advogado da jogadora interrompeu as questões.
O julgamento segue amanhã com depoimentos de vários altos funcionários da federação espanhola, entre eles Pablo García Cuervo, ex-diretor de comunicação, e o atual selecionador da equipa masculina, Luis de la Fuente. Está previsto que o julgamento se estenda por três semanas.
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