O tribunal ouviu esta terça-feira o treinador da seleção masculina de futebol de Espanha, além de outras quatro testemunhas no julgamento de Luis Rubiales. A sessão ficou marcada por contradições.
O atual treinador da seleção masculina de futebol de Espanha, Luis de la Fuente, foi esta terça-feira (4) ouvido como testemunha no caso Rubiales e nas suas declarações assegurou que não sabia de nada acerca do escândalo dobeijo que o ex-presidente da federação de futebol espanhola deu à jogadora Jenni Hermoso, após a final do mundial feminino de 2023.
REUTERS/Juan Medina
La Fuente, que se tornou o técnico da seleção masculina, ainda na altura em que Rubiales era presidente da RFEF, disse ao juiz que não participou em nenhuma reunião extraordinária sobre o assunto. Além disso, alega que não sabia quais os temas que foram discutidos neste encontro, realizado na sede da federação, e que visava a elaboração de um relatório interno, que acabou por ilibar Luis Rubiales.
"Lembra-se se ouviu alguma coisa acerca de um depoimento no avião?", começou por questionar a procuradora Marta Durántez ao referir-se ao voo de regresso a Espanha, após a final do mundial feminino, que decorreu na Austrália. "Não. Depois de mais de 36 horas quasesemdormir, compreenderá que vinhamuitocansado e queriadescansar. Não vi nada", respondeu, apesar de, segundo o El País, no inquérito judicial ter admitido ter ouvido alguma coisa acerca do assunto.
Apesar de Luis de la Fuente ter negado a sua presença na reunião, Patricia Pérez, assessora de imprensa da seleção feminina, que também foi chamada a depor na segunda-feira, já havia garantido que o treinador esteve presente no encontro onde Rubiales ditava parte das suas respostas.
"Esteve presente na reunião?", enfatizou a procuradora. "Tinha uma reunião marcada com o presidente 10 dias antes de uma convocatória [para a seleção masculina]. Eu estava no escritório ao lado. Rubiales estava a tratar de outros assuntos, [mas] quando podia vinha falar de nós. Não havia uma palavra [da declaração de Patricia Pérez]."
Perante as respostas negativas de la Fuente, a procuradora destacou as suas contradições e alertou que estavam ser apresentados "depoimentos falsos", porém o juiz José Manuel Clemente Férnandez-Prieto acabou por interromper o raciocínio da procuradora: "Trata-se de uma testemunha que está há 10 minutos a dizer que não sabe de nada. E temos insistido em dizer que é um mentiroso."
Além de Luis de la Fuente, o tribunal ouviu também esta terça-feira a versão de outras quatro testemunhas. Miguel García Caba, ex-secretário-geral adjunto da RFEF, e Pablo García Cuervo, ex-diretor de comunicação, foram algumas das testemunhas que tentaram justificar as suas ações durante estes dias.
O contraditório
Miguel García Caba terá sido o responsável pela redação do relatório interno aberto, que ilibou Rubiales ao concluir que o beijo era uma questão "sem importância" e "anedótico", e para o qual não foi tido em conta o testemunho de Jenni Hermoso.
"Pedi-lhe para testemunhar. Ela disse que não e que devia falar sobre isso com os seus advogados e com os seus agentes. Se tivesse tido o testemunho de Hermoso, garanto que o relatório teria sido completamente o oposto do que foi", insistiu.
O ex-secretário-geral adjunto justificou ainda que este documento foi elaborado "apenas em um dia e meio" e admitiu que não esteve presente na audição de Patricia Pérez, que na segunda-feira afirmou que a direção da RFEF lhe preparou uma "armadilha". Pérez contou em tribunal que foi convocada a deslocar-se à sede da federação, onde Rubiales e outras sete pessoas a esperavam no seu gabinete, depois de já lhe terem sido dadas as respostas que tinha que dar para as incluir no documento.
"Nessas respostas [com as quais não concordava], dizia coisas como que eu tinha falado com a Jenni Hermoso e que ela havia amenizado o assunto, quando eu não tinha tido qualquer tipo de conversa com a Jenni Hermoso", sublinhou Pérez ao recordar mais detalhes acerca dessa reunião: "O presidente perguntou porque é que não liam as respostas em voz alta. E então, Enrique Yunta começou a transcrever o que o presidente lhe ditou."
Enrique Yunta, então subdiretor de comunicação, que também depos como testemunha esta terça-feira, corroborou a história de Patricia Pérez.
Já García Cuervo atacou a jogadora, que considera ter sido a responsável pelo seu despedimento após o escândalo internacional, além disso, admitiu ter redigido o comunicado de imprensa que incluía as declarações de Hermoso, para justificar o beijo. Disse que o fez sem falar com a jogadora e com base em declarações que ela fez na rádio Cope.
"Rubiales falou comigo sobre a conveniência de emitir um comunicado de imprensa com declarações de Hermoso. Eu escrevi-o com a supervisão do presidente", esclareceu assim que a procuradora indicou que se estava a contradizer com o que foi dito durante a investigação.
García Cuervo assegurou inicialmente que fez Hermoso descer do autocarro e que esta lhes deu o "ok" para enviarem esse comunicado aos meios de comunicação social.
"Queríamos tentar parar aquela bola de neve", disse ao confirmar que não quis falar mais com a jogadora caso ela mudasse de versão. "Digo que não vou falar com Jenni Hermoso porque não confio nela e porque ela pode mudar de ideias. Considero a Hermoso uma pessoa bastante influenciável e manipulável."
Luis Rubiales, de 47 anos, é acusado de agressão sexual pelo beijo que deu à jogadora espanhola e que foi assistido por milhões de pessoas. Além disso, estará também em causa o crime de coação, tendo em conta a alegada pressão que fez sobre Jenni Hermoso, juntamente com outros três homens, para que esta declarasse que o beijo foi consensual. Embora Rubiales se tenha desculpado pelo ato "efusivo", o ex-presidente nega as acusações criminais de que é alvo e apresenta-se como sendo um bode expiatório.
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