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Quantos países suspenderam a vacina da AstraZeneca? E porquê?

Portugal continua a administrar a vacina da AstraZeneca, apesar de muitos países europeus terem atrasado o processo enquanto esperam resultados clínicos.

Vários países já travaram a administração da vacina da AstraZeneca. Irlanda, Dinamarca, Noruega, Islândia e Holanda suspenderam o uso da vacina devido a casos relacionados com questões da coagulação de sangue em pessoas já vacinadas. A empresa diz que depois de testes não encontrou provas de que essa coagulação esteja relacionada com a vacina. Portugal mantém a sua administração, mas também já registou dois casos de coagulação em pessoas que receberam a vacina.

Vacina AstraZeneca
Vacina AstraZeneca

 

O Infarmed foi notificado de dois casos de trombose (formação de coágulos) em pessoas que tomaram a primeira dose da vacina contra a covid-19 da AstraZeneca em Portugal. A informação foi confirmada num comunicado conjunto entre a Autoridade Nacional do Medicamento (Infarmed) e a Direção-Geral da Saúde. Os "profissionais de saúde que suspeitem de reações adversas após a vacinação" devem contactar as autoridades de Saúde para que o caso seja analisado. No entanto, não está em cima da mesa, por enquanto, suspender o uso desta vacina enquanto os casos de coágulos são investigados. 

No domingo, a AstraZeneca revelou que fez análises a 17 milhões de vacinados e diz não ter encontrado evidência de aumento de risco de coágulos sanguíneos. "Uma revisão cuidadosa de todos os dados de segurança disponíveis de mais de 17 milhões de pessoas vacinadas na União Europeia e no Reino Unido com a vacina covid-19 da AstraZeneca não mostrou provas de um risco acrescido de embolia pulmonar, trombose venosa profunda ou trombocitopenia, em qualquer grupo etário, sexo, lote ou em qualquer país em particular", refere a farmacêutica num comunicado.

"Cerca de 17 milhões de pessoas na União Europeia e no Reino Unido já receberam a nossa vacina e o número de casos de coágulos sanguíneos relatados neste grupo é menor do que as centenas de casos que seriam esperados na população em geral", comparou Ann Taylor, diretora médica da AstraZeneca.

Este comunicado da AstraZeneca surge depois de Irlanda, Bulgária, Dinamarca, Noruega, Islândia, Áustria e Holanda terem suspendido a sua administração.

Os países que travaram a vacina

No início da semana passada, a Áustria parou de administrar um lote de vacinas da AstraZeneca após a morte de uma enfermeira, de 49 anos, devido a "graves problemas de coagulação" alguns dias após ter sido vacinada.

"Com base em novas informações, a autoridade holandesa do medicamento aconselhou, como medida de precaução e enquanto se aguarda investigação adicional, a suspensão da administração da vacina da AstraZeneca" contra a covid-19, anunciou o ministério da Saúde holandês, referindo que será essencial perceber se os coágulos são causados pela vacina ou apenas surgiram em pessoas já vacinadas.

As autoridades de saúde irlandesas recomendaram a suspensão da administração da vacina AstraZeneca contra a covid-19 como "medida de precaução", após relatos de casos de formação de coágulos sanguíneos em pessoas vacinadas na Noruega. A recomendação do Comité do Programa de Vacinação na Irlanda foi emitida depois de um relatório da Agência Norueguesa de Produtos de Saúde ter reportado "quatro novos casos graves de coágulos sanguíneos em adultos" depois de terem recebido a vacina do laboratório anglo-sueco.

Apesar de a Tailândia não ter suspendido a administração da AstraZeneca, decidiu atrasar temporariamente a campanha que recorre a esta vacina, favorecendo as vacinas de outras empresas.

A Agência Europeia do Medicamento (EMA, em inglês), emitiu na quarta-feira um comunicado, a esclarecer que "não há atualmente qualquer indicação de que a vacinação tenha causado estas condições, que não estão listadas como efeitos secundários com esta vacina", uma opinião que foi reforçada pela Organização Mundial de Saúde (OMS).

Há "evidências muito tranquilizadoras de que não há aumento no fenómeno do coágulo sanguíneo aqui no Reino Unido, onde a maioria das doses na Europa foram administradas até agora", disse esta segunda-feira à BBC Andrew Pollard, diretor do Oxford Vaccine Group, que desenvolveu a vacina com a AstraZeneca.

Em Portugal, a Direção-Geral de Saúde e o Infarmed afirmaram que a vacina da AstraZeneca pode continuar a ser administrada e frisaram que não há evidência de ligação com os casos tromboembólicos registados noutros países, apesar de haver dois casos de pessoas a quem foram detetados coágulos depois da vacina.

Até ao momento, a EMA já deu autorização a quatro vacinas na União Europeia, para combater a covid-19: a da Pfizer, a da Moderna, a da AstraZeneca e a da Johnson & Johnson. As três primeiras já estão a ser administradas, enquanto a última deve começar a chegar à Europa em abril.

EUA têm a vacina parada

Ao contrário da Europa, os EUA ainda não aprovaram a vacina da AstraZeneca e têm milhões de doses da vacina nas fábricas, bloqueadas, enquanto se esperam os resultados clínicos para saberem se a mesma vacina é segura ou não.

Vários países que já aprovaram a utilização deste fármaco pediram aos EUA que libertem este produto enquanto não o pode administrar. Mas a Casa Branca não deu abertura para exportar as vacinas para países necessitados da mesma.

De acordo com o jornal norte-americano The New York Times, cerca de 30 milhões de doses de vacina estão retidas nos EUA, à espera de uma autorização para começarem a ser administradas.

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