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Portugueses ainda desconfiam dos antidepressivos. 20% não os tomariam

Diogo Barreto
Diogo Barreto 21 de julho de 2023 às 07:00
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No Alentejo, população está mais sensibilizada para problemas de depressão e todos os inquiridos admitem que iriam ao psiquiatra, se fossem aconselhados a isso. Mas ainda persiste a ideia de que os antidepressivos criam dependência e causam sonolência.

Portugal é o segundo país da OCDE com maior consumo de antidepressivos, no entanto, 20% dos portugueses assumem que não tomariam um antidepressivo se lhes fosse prescrito para tratamento de uma depressão.

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O inquérito "A visão dos portugueses sobre a depressão", promovido pela Lundbeck Portugal, procura perceber como os portugueses encaram o tratamento para a depressão. Do universo dos 1.215 inquiridos no final de 2022, 90% admitiu que se fosse aconselhado a ir a um psiquiatra, iria procurar essa ajuda profissional. No Alentejo, 100% dos inquiridos disse mesmo que iria a este tipo de especialista sem qualquer tipo de constrangimento e 90% admitiu que tomaria um antidepressivo se este lhes fosse receitado, embora 80,5% considere que este tipo de medicamentos causa dependência. 

Segundo a OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico), são consumidas 14 doses diárias por cada 100 habitantes no País. Portugal é também "um dos países da OCDE onde o consumo de antidepressivos mais cresceu desde 2015, apenas superado pelo Chile, Letónia e Estónia. Trata-se de um crescimento de cerca de 47%". No total, cerca de 12% da população sofre de depressão crónica (o equivalente 1,2 milhões de portugueses). Apenas na Islândia o consumo de doses diárias por cada 100 habitantes é superior.

Susana Almeida, médica psiquiatra citada pela Lundbeck em comunicado, refere que "o facto de 9 em 10 pessoas afirmarem procurar a psiquiatria para a abordagem clínica da depressão, se a tal fossem aconselhadas, está em concordância com a significativa maioria dos inquiridos revelar ter adequada perceção da depressão como uma doença (86,2%), para a qual o tratamento é relevante (94,8%)". Estas conclusões são ainda mais relevantes por o Alentejo ser a região onde o risco de suicídio é mais elevado por motivos relacionados com "depressão não identificada ou não tratada". Por isso, refere Susana Almeida, "é compreensível que os inquiridos desta região se tenham mostrado mais sensíveis à necessidade do correto diagnóstico e necessário tratamento desta doença".

Já quanto à recusa de tomar medicamentos para a depressão, a sonolência (70,5%), a dependência (64,9%), as alterações de peso (47,2%), a lentificação de raciocínio (44,9%) e as alterações na vida sexual (37,3%) continuam a ser os efeitos secundários mais citados e identificados com este tipo de tratamento e que contribuem para a pouca vontade de os tomar.

Para Maria Moreno, médica psiquiatra, estes resultados são reveladores de como em Portugal ainda são encarados os antidepressivos e da importância de salientarmos os seus benefícios no âmbito da saúde mental: "Os antidepressivos não dão dependência (não têm essa capacidade). A maioria dos antidepressivos que prescrevemos, hoje em dia, são ativadores pelo que a sonolência não é de todo um efeito secundário comum", defende.

O mesmo inquérito revela também que a maioria dos portugueses (94,8%) defende que o tratamento para a depressão é de extrema importância, contudo quando questionados se tomariam um antidepressivo se lhes fosse receitado, dois em cada 10 dá uma resposta negativa.

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