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O famoso neurologista admitiu ter exagerado e até inventado casos para escrever os seus livros de divulgação científica.
O neurologista Oliver SacksDR
Oliver Sacks (1933 - 2015) é provavelmente um dos neurologistas mais famosos de sempre, tendo conseguido saltar para o estrelato internacional de uma forma que é pouco comum entre cientistas. Conhecido pelos seus casos anedóticos que utilizava para explicar várias teorias neurológicas, a revista New Yorker escreve um artigo em que desvenda que muitos dos casos sobre os quais construiu a sua carreira e reputação eram falsos ou pelo menos exagerados.
Em diários e documentos privados a que a jornalista Rachel Aviv teve acesso através da Fundação Oliver Sacks o neurologista explica como exagerou, romanceou e até fabricou trechos de histórias para transformá-las em casos mais interessantes.
Oliver Sacks foi um escritor que raiava o compulsivo. Aviv afirma que chegava a preencher as folhas de um caderno de notas em menos de dois dias, chegando a estar mais de seis horas seguidas a escrever. Foi entre esses diários que Sacks chegou a escrever que sentia um "sentimento de criminalidade horrível" por ter atribuído "poderes (incluindo poderes de discurso) que esses [os pacientes] não têm". O neurologista reconhece mesmo que alguns detalhes foram "invenções puras", mas que os seus exageros não vinham de um sítio de vaidade nem de uma vontade de atingir a fama. "O impulso é ao mesmo tempo puro e profundo. Não é apenas ou totalmente uma projeção - nem (como já afirmei muitas vezes) uma mera 'sensativização' daquilo eu sei sobre mim. Mas (podemos dizer) uma espécie de autobiografia".
Tendo-se tornado famoso no meio intelectual ainda durante a década de 70, o grande público conheceu Sacks com o filme Despertares (Awakenings), de 1990, com Robin Williams e Robert DeNiro, realizado por Penny Marshall e baseado na obra Awakenings, escrito por Sacks, sobre as vítimas de uma epidemia de encefalite letárgica. O filme e o livro narram a história de pacientes que ficaram em estado catatónico durante décadas devido à encefalite letárgica e foram "despertados" pelo medicamento L-DOPA.
Outro dos seus casos célebres, relatado emO Homem que Confundiu a Mulher com um Chapéu, centrava-se num professor de música que interpretava composições, mas confundia a mulher com um chapéu (tinha prosopagnosia, incapacidade de distinguir rostos). Numa carta ao irmão Marcus sobre este livro, Sacks escreveu que "estas narrativas estranhas - metade-relatadas, metade-imaginadas, metade-ciência, metade-fábula, mas com uma fidelidade própria - são o que eu faço, basicamente, para manter os meus demónios de aborrecimento e solidão e desespero longe de mim".
A escrita escorreita e profundamente humanitária tornaram Sacks um fenómeno de vendas e apesar de alguns círculos desdenharem da sua abordagem à ciência, muitos destacaram a sua importância no campo da neurologia. Hilary Mantel escreveu no Guardian que Sacks tinha "elevado a história clínica ao patamar da literatura". Estas revelações da New Yorker apontam que pode mesmo ter sido apenas ficção.
O próprio escritor reconhecia o risco de ultrapassar o limite entre empatia e apropriação e chegou questionar-se, sobre sua prática de incentivar pacientes a viverem a doença "ao máximo" para depois descrevê-la, se o seu método não seria “monstruoso”.
A revelação desses bastidores lança nova luz sobre o impacto de Sacks na formação de médicos e na consolidação da medicina narrativa, corrente que defende a escuta profunda e a reconstrução de histórias de vida como parte do tratamento.
Sacks viveu quase sempre sozinho e só perto da morte, na sua autobiografia, assumiu que era gay e celibatário. Deu aulas na Universidade de Colúmbia, entre 2007 e 2012, e colaborou com a New Yorker durante vários anos. Entre 1970 e 2015, publicou 13 livros e vendeu mais de um milhão de cópias só nos EUA. Conhecido como "poeta laureado da Medicina", estudou o autismo, a epilepsia e a síndrome de Tourette e descobriu que a música pode ajudar na recuperação deste tipo de patologias.
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