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ACT não tem registo de trabalhadoras que abusaram da licença de amamentação

A polémica em torno do assunto surgiu após afirmações da ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, que disse haver trabalhadoras que usavam de forma abusiva a licença de amamentação.

A Autoridade para as Condições do Trabalho (ACT) desconhece casos de trabalhadoras que tenham usado ilegalmente a licença de amamentação nos últimos cinco anos, mas identificou 23 situações de abuso por parte das empresas.

Não existem registos de queixas contra lactantes
Não existem registos de queixas contra lactantes

Em resposta à Lusa, a ACT revelou que desde 2021 detetou 10 irregularidades que levaram a autuar empresas por incumprimento do direito a redução de horário para amamentação e fez ainda 13 advertências a empregadores. Estes 23 casos ainda poderão vir a aumentar, uma vez que os dados relativos a 2024 e 2025 ainda são provisórios.

Sobre queixas de trabalhadoras que tenham usado este direito de forma abusiva, a ACT garantiu não ter registos.

A polémica em torno do assunto surgiu após afirmações da ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, Maria do Rosário Palma Ramalho, que disse haver trabalhadoras que usavam de forma abusiva a licença de amamentação, que permite uma redução do horário de trabalho em até duas horas por dia.

Maria do Rosário Palma Ramalho tem sido criticada por associações e sindicatos que defendem que o problema não está nas mulheres mas sim nos empregadores, garantindo que ainda hoje existe quem abdique desse direito por temer represálias.

A Comissão para a Igualdade no Trabalho e no Emprego (CITE) recebeu este ano apenas uma queixa "feita por uma mulher referente à violação do direito de dispensa para amamentação", mas não recebeu qualquer denúncia por parte da entidade empregadora de trabalhadoras que estariam a abusar desse mesmo direito, disse à Lusa a presidente da CITE, Carla Tavares.

Os sindicatos consideram que os números oficiais não são representativos do que se passa nas empresas, revelando que "continuam a receber relatos" de problemas que acontecem um pouco por todo país, em especial em áreas com maior presença de mulheres, como o setor da saúde, restauração, comércio e indústria.

"Tivemos vários exemplos de limitações e até situações extremas", disse à Lusa Fátima Messias, coordenadora para a Comissão de Igualdade entre Mulheres e Homens da CGTP-IN, lamentando que "o direito à amamentação ou à aleitação continua a ser um direito muito pressionado pelas entidades patronais" que leva muitas mulheres a desistir 'a priori' de um direito consagrado na lei.

"Porque é que o Governo, em vez de atacar as violações patronais e as limitações, ataca as mães e as crianças? É uma coisa desumana, absurda, maquiavélica. Sabe-se que há violações, sabe-se que há mulheres que são pressionadas, grávidas que são despedidas, mas em vez de atacar os infratores, atacam-se as grávidas e as crianças", criticou Fátima Messias.

Fátima Messias considera que a legislação em vigor "é positiva em matéria de maternidade e paternidade" e não deve ser alterada, criticando a decisão do Governo de rever vários artigos da Lei do Trabalho, aprovados no mês passado em Conselho de Ministros. No entanto, os dois maiores partidos da oposição -- Chega e PS - já fizeram saber que não votarão favoravelmente as mudanças previstas para a lei da amamentação.

Atualmente, não existe um limite temporal para amamentar, mas o executivo quer limitar até aos dois anos e idade e exigir a apresentação, de seis em seis meses, de um atestado médico.

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