Vítimas denunciam que o sociólogo do CES "oferecia sexo como moeda de troca para uma ascensão de carreira" e tentava contactos sexuais não consentidos com as alunas.
Várias investigadoras que denunciaram casos de assédio por parte de Boaventura Sousa Santos decidiram revelar a sua identidade. Esta atitude acontece depois do relatório da Comissão Independente do Centro de Estudos Sociais (CES) da Universidade de Coimbra ter confirmado a existência de indícios de assédio sexual. As denunciantes afirmam que o sociólogo "oferecia sexo como moeda de troca para uma ascensão de carreira".
Identificaram-se sete das 13 subscritoras da carta divulgada em março deste ano: Carla Paiva, Eva García Chueca, Gabriela Rocha, Aline Mendonça, Mariana Cabello, Élida Lauris e Sara Araújo. Há denúncias de assédio sexual e moral, abuso de poder, violência verbal e apropriação intelectual, casos que ocorreram quando estudavam ou trabalhavam no CES. Afirmaram querer sair do anonimato "por justiça" e reconhecem que os abusos lhes causaram danos psicológicos - como ataques de pânico - e nas carreiras académicas.
A denúncia pública das violências e assédios de que as investigadoras dizem ter sido alvo foram feitas numa videoconferência relatada pelo Agência Pública, um organismo de "jornalismo de investigação" do Brasil.
"Quando as luzes se apagaram, ele colocou a mão entre as minhas pernas, na minha virilha", relata Mariana Cabello, bolseira mexicana que esteve num curso de verão do CES em 2016, acrescentando que Boaventura continuava a "olhar em frente, a ver o filme", com a mão na sua perna. "Eu saí assustada", explicou Cabello. Quando confrontado com esta acusação, Boaventura terá replicado que "por conviver muito com pessoas latino-americanas, aprendeu a ser mais cálido e mais natural no contacto físico", negando tratar-se de um avanço sexual. Mais tarde, voltou a ter um momento de contacto inapropriado com a estudante em público.
Já Sara Araújo descreve os momentos em que trabalhou com Sousa Santos como "uma tortura psicológica" por o sociólogo usar "o sexo como moeda de troca". "Ele excluiu-me da coordenação de todos os projetos em que eu tinha investido a minha dedicação", acusou a investigadora que recusou os avanços sexuais do diretor do CES.
Várias investigadoras denunciaram comportamentos pouco apropriados a nível profissional, como "humilhações públicas" e "episódios de explosão" de raiva, bem como convites para "reuniões na casa do professor, onde ele aparecia vestido apenas de robe ou de pijamas" e "fazia comentários de caráter sexual sobre seus corpos" durante os encontros de trabalho.
A equipa de assessoria de Boaventura de Sousa Santos disse à Agência Pública que o relatório da comissão independente do CES "não imputou crimes nem faltas graves a nenhuma das pessoas denunciadas" e que neste momento, o sociólogo está a aguardar pela investigação do Ministério Público, que abriu um inquérito às denúncias. O escritório de advocacia que representa Boaventura no Brasil escreveu à Agência Pública que "o nobre Professor, em seus 60 anos de carreira jamais respondeu a qualquer processo ético disciplinar e vem, há mais de um ano, a sofrer um julgamento mediático sem jamais ter sido formalmente denunciado em âmbito administrativo ou judicial". Na carta, a defesa acrescenta, "o Sr. Boaventura, que tem serviços históricos prestados no campo dos direitos humanos, jamais teve uma denúncia formalizada contra si, jamais teve acesso a um depoimento formalizado e há muito tempo vem sendo reiteradamente confrontado por meio de matérias jornalísticas, cartas apócrifas e informações imprecisas, sendo-lhe vedado o contrário e a ampla defesa, um caso característico de Lawfare".
Boaventura de Sousa Santos já manifestou o interesse em voltar ao CES que dirigiu durante muitos anos sendo referido como o "professor estrela" na primeira denúncia do caso.
O relatório divulgado em março deste ano reconhecia "padrões de conduta de abuso de poder e assédio por parte de algumas pessoas que exerciam posições superiores na hierarquia do CES".
A instituição pediu desculpas às pessoas que foram afetadas pelos comportamentos de assédio ou abuso no contexto de suas atividades, mas sem citar o nome de Boaventura Sousa Santos ou qualquer outro dirigente.
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