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Ventura volta a falar sobre a "grande substituição". Que teoria é esta?

O político voltou a atacar as minorias e a falar de uma "grande substituição" populacional, no encontro com os outros líderes de direita radical europeus.

Foi no evento que juntou vários líderes da direita conservadora europeia que o líder do Chega, André Ventura, voltou a referir-se à teoria conspiracionista da "grande substituição", que nasceu nos Estados Unidos, mas rapidamente ganhou popularidade na Europa e que parte do pressuposto racista de que há um plano das "elites de esquerda" para substituir os caucasianos na Europa por minorias.

EPA/JOSE SENA GOULAO

Os membros do grupo europeu Identidade e Democracia (ID), que junta partidos da direita populista e radical no Parlamento Europeu, reuniram no convento do Beato, em Lisboa, e a migração esteve em cima da mesa de debate, bem como um discurso anti-União Europeia bem vincado. O discurso de abertura coube a André Ventura que, perante a francesa Marine Le Pen e o alemão Tino Chrupalla, duas das figuras de proa desta direita, elogiou a vitória de Geert Wilders nos Países Baixos e os sucessivos ganhos eleitorais que este espaço político tem vindo a conseguir nos últimos anos na Europa. Algo que seria impensável "há 40, 20 anos ou há dez anos",cita o jornal Expresso.

Ventura lançou-se depois naquela que é conhecida como a "Teoria da Substituição", que ganhou traquejo inicialmente nos Estados Unidos e que nos últimos anos foi ganhando popularidade na Europa e que esteve no centro do massacre de Buffalo, em Nova Iorque, em maio de 2022. Dez pessoas morreram no ataque levado a cabo por um jovem de 18 anos que mostrou o tiroteio em direto na plataforma Twitch e que escreveu um manifesto onde afirmava que se assistia atualmente a um "genocídio caucasiano". E Ventura defendeu que a não ser que os "burocratas europeus" queiram ver "uma substituição populacional" inaceitável, não deviam "deixar entrar toda a gente, sem controlo e sem critérios".

Rita Matias, a deputada do Chega, criticou também as maternidades "cheias" de cidadãos de fora da Europa e da sua vontade em que se resista ao pacto migratório europeu.

Tino Chrupalla, co-líder do partido Alternativa para a Alemanha (AfD), defendeu também uma "Europa murada" em vez de ter "as portas abertas a quem quiser entrar". No seu discurso, Chrupalla atacou igualmente a decisão europeia de sancionar economicamente a Rússia devido à guerra na Ucrânia - uma posição amplamente defendida pelo líder do Chega.

A teoria da substituição

Esta não foi a primeira alusão de Ventura à teoria racista da substituição. Em 2022, em entrevista ao jornal Polígrafo, o líder do Chega tentava distanciar-se ligeriamente desta teoria, afirmando: "Há um risco na Europa de uma crescente, não chamaria substituição... substituição não é a melhor palavra. Eu acrescentaria que há um risco de uma crescente aglomeração, de uma certa adulteração cultural e civilizacional da Europa com os fluxos migratórios dos países islamizados ou islâmicos".

André Ventura não utilizou a palavra "substituição" por precaução: "Não gosto de usar coisas sem ter os dados completos. Não sei se esse processo em termos de equilíbrio populacional, mesmo em países como a Alemanha, a França ou a Bélgica, se já estão a um nível que se possa falar de substituição. Portanto prefiro falar de adulteração. Quando tiver os números di-los-ei logo, imediatamente", afirmou mesmo ao jornal online. Mas a verdade é que em outbro de 2021 já tinha escrito, numa publicação feita no Facebook: "Podemos dar as voltas que quisermos, há um problema estrutural não só em Portugal como na União Europeia que se chama 'substituição demográfica'. E não tente dizer-nos que estamos a ser racistas ou xenófobos, a verdade é só uma: a União Europeia no seu conjunto tem vindo a ser substituída demograficamente por filhos de imigrantes. E esse é um problema que a Europa tem que enfrentar".

Mas Ventura e Matias não são os únicos deputados do Chega a falar nesta teoria. Pedro dos Santos Frazão, um dos deputados à nãção eleito pelo partido de direita, tinha também já defendido a existência de uma "grande substituição". "Pela primeira vez no Parlamento português ouve-se falar da grande substituição populacional na Europa. Este é o assunto político do século XXI que todos querem ignorar! E esta questão é totalmente de vida ou morte, literalmente", escrevia na altura o deputado, fazendo referência a um discurso proferido por André Ventura em que falava da baixa fecundida portuguesa.

A teoria da substituição foi primeiro avançada na obraLe Grand Remplacemente, de Renaud Camus. Segundo o autor, as elites de esquerda conspiravam contra os caucasianos europeus de forma a poderem substituí-los por povos de outros continentes. Esta teoria tem sido ligada a vários ataques levados a cabo nos Estados Unidos contra minorias, principalmente negros, hispânicos e judeus.

Esta teoria ganhou força depois da eleição de Donald Trump em 2016, sendo o "medo" de que a população americana seja substituída por minorias um tema central da Fox News, principalmente nos programas de Tucker Carlson, um dos paladinos do trumpismo nos meios de comunicação social, e nas redes sociais mais conservadoras.

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