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Usar máscara contra a covid-19: sim ou não? Saiba tudo o que já foi dito

06 de abril de 2020 às 19:26
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O debate sobre máscaras de proteção marca a fase atual do combate à pandemia. Autoridades em Portugal e noutros países ponderam recomendar o seu uso generalizado e os cientistas tentam conhecer melhor o novo coronavírus.

O debate sobre máscaras de proteção marca a fase atual do combate à pandemia da covid-19, com autoridades em Portugal e outros países a ponderarem recomendar o seu uso generalizado, enquanto os cientistas tentam conhecer melhor o novocoronavírus.

O novo coronavírus, responsável pela pandemia da covid-19, já infetou mais de 1,2 milhões de pessoas em todo o mundo, das quais morreram mais de 70 mil. Em Portugal, havia hoje 11.730 casos confirmados e 311 mortes.

Perguntas e respostas sobre o uso de máscaras como forma de contenção da pandemia da covid-19:

Como é que as máscaras protegem do contágio com covid-19?

As máscaras faciais cobrem as mucosas da boca e do nariz por onde o novo coronavírus pode infetar o corpo humano. O coronavírus espalha-se através de gotículas expelidas a partir do nariz e boca quando uma pessoa infetada tosse ou expira.

Quando uma pessoa infetada usa máscara, contem a propagação das gotículas pelo ar, do mesmo modo que uma pessoa não infetada com máscara está a limitar os pontos de entrada do vírus: boca e nariz estão protegidas, mas não os olhos.

As gotículas podem atingir a cara de outra pessoa que esteja a menos de um metro de uma pessoa infetada. O vírus pode ainda ser transportado nas mãos se se tocar numa superfície onde tenham aterrado essas gotículas. O novo coronavírus e a maneira como contagia ainda não são totalmente compreendidas e a investigação científica sobre a covid-19 é contínua.

Coronavírus: Há vários tipos de máscaras, mas nem todas protegem

Num cenário ideal, toda a população portuguesa deveria usar uma máscara cirúrgica, considera Gorete Pimentel. "Porque, se estivessem infetados, e há pessoas assintomáticas portadoras da doença, não contagiariam outras pessoas", explica a presidente do Sindicato Independente de Todos os Enfermeiros Unidos (SITEU).

Num cenário ideal, toda a população portuguesa deveria usar uma máscara cirúrgica, considera Gorete Pimentel. "Porque, se estivessem infetados, e há pessoas assintomáticas portadoras da doença, não contagiariam outras pessoas", explica a presidente do Sindicato Independente de Todos os Enfermeiros Unidos (SITEU).

Que cuidados deve ter-se ao colocar e usar uma máscara de proteção?

A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda que as mãos devem ser lavadas com uma solução alcoólica ou com água e sabão antes de colocar a máscara. A boca e nariz devem ficar cobertas, sem folga entre a máscara e a cara. As mãos não devem tocar o tecido.

A máscara deve ser substituída se ficar húmida e as descartáveis não devem ser reutilizadas. As máscaras devem ser retiradas de trás para a frente, sem tocar na parte dianteira e colocadas no lixo num contentor fechado. Depois disso, devem lavar-se novamente as mãos com solução alcoólica ou água com sabão.

Qual é a posição da OMS sobre o uso generalizado de máscaras de proteção?

A organização só considera essencial o uso de máscaras para profissionais de saúde, pessoas infetadas e cuidadores de pessoas infetadas.

No entanto, admitiu que seja alargado à população em geral nos casos de comunidades onde não haja acesso fácil a água para lavagem das mãos e onde as condições de alojamento não permitam manter o distanciamento físico, outras medidas que considera essenciais para conter o contágio.

O diretor geral da OMS, Tedros Ghebreyesus, salientou hoje que a investigação sobre a eficácia do uso generalizado de máscaras é limitada e apelou aos países que adotem essa medida para que a avaliem e partilhem os resultados com o resto do mundo. O responsável salientou que há uma escassez de máscaras cirúrgicas a nível mundial e alertou que o alargamento do seu uso pode pôr em perigo quem mais delas precisa, ou seja, os profissionais que estão na linha da frente do combate ao novo coronavírus.

Covid-19: OMS admite uso generalizado de máscaras em países com menos condições de higiene

Tedros Ghebreyesus frisou que as máscaras devem continuar a ser uma prioridade para profissionais de saúde e outras pessoas na linha da frente contra o novo coronavírus e alertou que o uso generalizado pode agravar a escassez destes materiais de proteção. - Coronavírus , Sábado.

Tedros Ghebreyesus frisou que as máscaras devem continuar a ser uma prioridade para profissionais de saúde e outras pessoas na linha da frente contra o novo coronavírus e alertou que o uso generalizado pode agravar a escassez destes materiais de proteção. - Coronavírus , Sábado.

Na sua página da Internet, recomenda-se o uso de máscaras em "casos específicos", nomeadamente, se se tem "tosse, febre ou dificuldades respiratórias".

Pessoas sem sintomas só devem usar máscara se têm a seu cuidado alguém doente ou com suspeita de estar contagiado. A OMS salienta nas suas orientações e reiteradas declarações dos seus responsáveis que o uso de máscaras só é eficaz para evitar o contágio quando combinado com outras medidas de higiene, sobretudo a lavagem frequente das mãos com água com sabão ou com uma solução à base de álcool.

Qual é a posição das autoridades de saúde portuguesas sobre o uso de máscaras pela generalidade da população?

A Direção-Geral de Saúde (DGS) e o Ministério da Saúde que a tutelam têm seguido as posições da OMS. Em fevereiro, a DGS afirmava que não era necessário usar máscaras, salvo para cuidadores de pessoas infetadas.

Ao longo de dois meses, a posição manteve-se, com a diretora-geral de Saúde a desvalorizar o papel das máscaras como medida de proteção, afirmando que um pedaço de tecido sobre a boca não é totalmente eficaz e repetindo a ideia da falsa sensação de segurança da OMS.

Coronavírus: DGS foi informada que uso de máscaras é recomendável

A revelação foi feita por Marta Temido que diz que a DGS recebeu um parecer a informar que se deve equacionar usar máscara protetora de forma generalizada. - Coronavírus , Sábado.

A revelação foi feita por Marta Temido que diz que a DGS recebeu um parecer a informar que se deve equacionar usar máscara protetora de forma generalizada. - Coronavírus , Sábado.

O tom mudou, no entanto, numa norma divulgada na semana passada em que se alargou a recomendação de uso de máscaras mesmo fora das instituições de saúde para quem contacte diretamente com material usado por doentes, como bombeiros, voluntários de lares, pessoas que apoiam sem-abrigo, funcionários de morgues, forças de segurança, trabalhadores de alfândegas ou trabalhadores de limpeza.

A ministra da Saúde, Marta Temido, disse em entrevista à RTP este fim de semana que a tutela foi aconselhada por especialistas a rever o critério para recomendação de uso generalizado de máscaras.

Hoje, Graça Freitas declarou que estão pedidos pareceres e que será preciso aguardar alguns dias para que haja decisão sobre uma mudança de posição. O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, já se antecipou e declarou que usa máscara e até luvas quando vai ao supermercado, mesmo sem estar nas orientações da DGS. O chefe de Estado disse ter aprendido com os seus netos "a lição da China".

Quais são as posições dos governos sobre o uso de máscaras?

Em alguns países europeus, como a Bulgária, República Checa, Eslováquia, Eslovénia ou Áustria, o uso de máscara é obrigatório em diferentes graus. Na Áustria, as máscaras são obrigatórias para ir ao supermercado, enquanto na Bulgária e na República Checa, todas as pessoas em espaços públicos devem usá-las.

Nos Estados Unidos, as recomendações das autoridades de saúde passaram a partir da semana passada a ser o uso de máscara ou outro tipo de cobertura no nariz e na boca em espaços públicos.

Uzbequistão, Taiwan, Japão e China, onde o vírus surgiu no fim do ano passado, são outros países em que se adotou o uso generalizado de máscaras pela população.

O diretor do centro chinês para o controlo e prevenção de doenças, Gao Fu, declarou à revista Science em março que o "grande erro" dos Estados Unidos e da Europa foi não decretar o uso de máscaras pela população quando pandemia surgiu.

Quais são as posições dos cientistas sobre a eficácia do uso de máscaras pela população em geral na contenção da pandemia?

Não se pode falar de consenso na comunidade científica, mas cada vez mais organizações nacionais e internacionais estão a adotar posições a favor da recomendação do uso generalizado de máscaras.

Nos Estados Unidos, a Academia das Ciências citou estudos segundo os quais o vírus se transmite não apenas pelas gotículas expelidas quando se tosse ou espirra mas no ar expirado quando se fala, apelando à Casa Branca para adotar a recomendação de uso generalizado de máscara.

Várias investigações científicas realizadas desde o início da pandemia estabeleceram que o contágio partiu até de pessoas sem sintomas, o que sugere que não é só pela tosse que o vírus pode espalhar-se.

Não usar máscara é um "grande erro", diz o maior especialista em coronavírus da China

Em Portugal, a diretora-geral da Saúde disse que não vale a pena a utilização de máscaras e que estas dão uma falsa sensação de segurança. Mas o diretor-geral do Centro Chinês de Controlo e Proteção de Doenças não partilha da mesma opinião. - Ciência & Saúde , Sábado.

Em Portugal, a diretora-geral da Saúde disse que não vale a pena a utilização de máscaras e que estas dão uma falsa sensação de segurança. Mas o diretor-geral do Centro Chinês de Controlo e Proteção de Doenças não partilha da mesma opinião. - Ciência & Saúde , Sábado.

O Conselho de Escolas Médicas Portuguesas, que defendeu o uso generalizado de máscaras, recolheu uma série de artigos internacionais segundo os quais é eficaz alargar o uso de máscaras, em conjunto com outras medidas de proteção, para controlar a transmissão de infeções respiratórias, reduzindo o risco de contágio, a taxa de ataque e diminuindo o número de contágios a partir de cada pessoa doente.

Sublinha que se poderá conter a pandemia atual e prevenir futuros surtos, mesmo com "qualquer tipo genérico de máscara" ou mesmo um pano da louça de algodão ou uma máscara caseira pode diminuir a exposição ao vírus, libertando as máscaras cirúrgicas e respiratórias para os profissionais de saúde, cuidadores de doentes e forças de segurança.

O presidente deste conselho, Fausto Pinto, tinha criticado a DGS por esta afirmar que as máscaras são ineficazes, considerando que se trata de "um artifício" porque não existem em Portugal máscaras suficientes.

Hoje, a Ordem dos Médicos portuguesa defendeu também a revisão dos critérios para uso universal de máscaras, uma posição semelhante à tomada pela Academia de Medicina francesa ou pelo Instituto Robert Koch, na Alemanha.

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