Medida trará mais desafios para os diretores de turma, que terão de lidar com mais conflitos. Já os pais, terão de servir de "treinadores", visto que as crianças poderão recorrer mais aos smartphones em ambiente familiar.
Ano letivo novo, regras novas. Milhares de alunos regressaram na semana passada às aulas e para muitos a restrição do uso de telemóveis passou a ser uma novidade. Esta medida já estava a ser aplicada em algumas escolas até ao 9º ano e foi, aliás, numa delas que um grupo de investigadoras do ISPA - Instituto Universitário de Ciências Psicológicas, Sociais e da Vida e do Agrupamento de Escolas de São Gonçalo decidiu estudar os efeitos da mesma no bem-estar dos alunos.
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A investigação, conduzida por Ivone Patrão, Giovanna Pires Giannetti e Maria João Gouveia, recolheu no ano letivo passado dados referentes a 875 alunos, pertencentes a uma escola que já havia aplicado medidas de restrição ao uso de telemóvel. A principal conclusão a que chegaram foi que, se por um lado esta política promove uma maior socialização (47,2%), por outro pode despertar uma maior agressividade (40,8%).
"Isto acaba por significar uma maior sobrecarga e um desafio para os diretores de turma, porque se antes não havia conflitos nem batalhas agora vão ter mais queixas", aponta à SÁBADO Ivone Patrão, uma das autoras do estudo "Relação entre o bem-estar, a dependência do smartphone, o autocontrolo e a empatia em jovens com restrições de uso do telemóvel na escola".
Além disso, uma outra preocupação prende-se com a hipótese de as crianças virem a recorrer mais aos smartphones em ambiente familiar, atendendo às restrições a que estarão sujeitas nos estabelecimentos de ensino. Sobre isto, a professora do Instituto Universitário de Ciência Psicológicas, Sociais e da Vida (ISPA) afirma que as famílias serão "chamadas a servirem de treinadores". "Vai ser exigente para as famílias", confessa.
Este estudo baseou-se também na análise da dependência das crianças nos smartphones. A investigação descobriu que a maioria as crianças (83%) que recorre aos telemóveis apresenta níveis baixos de dependência e 17% apresenta níveis altos de dependência. "Conseguimos perceber que as crianças que estão mais dependentes têm mais baixo controlo e menos bem-estar no dia-a-dia", explica Ivone Patrão, ao acrescentar os "riscos de cyberbullying" como uma desvantagem.
Apesar desta medida trazer consigo mais comportamentos agressivos (40,8%), dificuldade na comunicação com os outros (38,1%) e falta de pesquisas e atividades escolares com o telemóvel (21,2%), nem tudo são notícias más. Aliás, Ivone Patrão vê até mesmo esta medida como "positiva".
"Os alunos são os primeiros a dizer que têm uma maior socialização, um maior envolvimento nas atividades ao ar livre (...) e a apontarem a redução do tempo de exposição aos ecrãs como uma vantagem. Isso quer dizer que a grande maioria não está a por o ecrã em primeiro lugar", adiantou. "É importante que os estudantes brinquem porque precisam disso para o seu desenvolvimento."
Segundo o estudo, 76% dos participantes - que inclui alunos, pais e professores - concordam com a manutenção da medida de restrição do uso de telemóveis nas escolas. Entre os que expressam discordância, destacam-se alguns pais, que referem a necessidade de manter contacto com os filhos durante o horário escolar.
A professora lembra ainda que esta medida é tão defendida pelos especialistas que até "os países nórdicos, que adotaram as tecnologias muito cedo, já estão a regredir e a voltar ao papel". No entanto, frisa que é importante que as escolas avaliem o seu impacto anualmente.
"É importante avaliarmos os impactos desta medida, porque numa escola pode resultar e noutra pode não resultar tão bem. E é preciso ensiná-los a gerir os conflitos entre os colegas e a treinar a empatia."
Segundo Ivone Patrão, o objetivo é que "os jovens façam uma regulação interna, ou seja, percebam quando é que é adequado ou não usar o telemóvel na escola".
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