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Portugal ultrapassou última meta de Marcelo e Temido para o desconfinamento

Diogo Camilo
Diogo Camilo 28 de março de 2021 às 19:00
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Ministra da Saúde tinha apontado a uma incidência de 60 casos por 100 mil habitantes até meados de março para um desconfinamento após a Páscoa. Portugal baixou este domingo essa barreira.

Chegou duas semanas atrasado, mas Portugal conseguiu este domingo ultrapassar todas as barreiras definidas pelo Presidente da República, pela ministra da Saúde e por especialistas paraum desconfinamento até à Páscoa. As metas definidas por Marcelo foram alcançadas há pouco mais de uma semana, quando Portugal registou menos de 200 doentes com covid-19 em cuidados intensivos. Agora é ultrapassada a última barreira: Portugal tem agora menos de 60 casos por 100 mil habitantes nas últimas duas semanas.

António Costa, Marta Temido e Marcelo Rebelo de Sousa
António Costa, Marta Temido e Marcelo Rebelo de Sousa Reuters

A 9 de fevereiro, e anunciando um confinamento durante 60 dias até meados de março, Marta Temido definiu como principal objetivo ter uma incidência cumulativa abaixo de 60, um patamar ainda mais baixo do que os 240 definidos pelo Governo no início da segunda vaga ou dos 120 casos por 100 mil habitantes definidos como limite na apresentação do plano de desconfinamento.

O patamar a atingir é ter "uma ocupação de unidades de cuidados intensivos abaixo das 200 camas e uma incidência acumulada a 14 dias abaixo dos 60 casos por 100 mil habitantes", disse na altura.

Incidência abaixo dos 60 casos por 100 mil habitantes

Um mês e meio passou, mas Portugal finalmente atingiu este objetivo que estava inicialmente definido para meados de março, registando atualmente uma incidência de 59,7.

Com os 365 novos casos confirmados este domingo, Portugal apresenta um total de pouco mais de seis mil infetados nos últimos 14 dias (6.150) - uma média de pouco mais de 430 novos casos por dia entre 15 de março e 28 de março.

 

Esta é a mais baixa incidência do país desde o período entre 30 de agosto e 12 de setembro do ano passado. Para baixar esta barreira, Portugal precisava de confirmar 6.177 casos no espaço de duas semanas, ou seja, uma média de 441 novos casos por dia.

Infetados para menos de dois mil por dia

Dois dias depois de Marta Temido falar, Presidente da República dirigiu-se ao país com avisos, numa altura em que Portugal deixava de ser líder mundial em novos casos e mortes por covid-19. Defendendo a continuação de um estado de emergência, Marcelo Rebelo de Sousa definiu novas linhas vermelhas até à Páscoa, no início de abril.

"Temos, até à Páscoa, de descer os infetados para menos de dois mil, para que os internamentos e os cuidados intensivos desçam dos mais de cinco mil e mais de oitocentos, agora, para perto de um quarto desses valores". Ou seja: uma "estabilização duradoura, sustentada, sem altos e baixos".

 

A primeira das metas a ser alcançada foi definida pelo especialista e professor da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, Manuel Carmo Gomes, nas apresentações no Infarmed de atualização sobre a situação da pandemia em Portugal e incluída depois no discurso do Presidente da República.

O primeiro dia em que Portugal registou menos de dois mil novos casos num dia foi a 14 de fevereiro, três dias após as metas definidas por Marcelo, quando foram confirmados 1.650 novos infetados.

Desde então, apenas num dia o país voltou a registar mais de dois mil novos casos - a 17 de fevereiro - e desde 7 de março que não confirma mais de mil novos casos por dia.

Após os casos confirmados este domingo, Portugal apresenta uma média semanal de pouco mais de 400 novos casos por dia - a última vez que o país esteve abaixo da barreira de 400 casos por dia foi a 8 de setembro do ano passado.

Para contextualização, após o anúncio do confinamento e do discurso de Marcelo, os números diários da covid-19 andavam perto dos 2.500 novos casos. A última vez que Portugal tinha registado menos de 2.000 novos casos num dia foi a 27 de dezembro, no período após o Natal em que a curva de incidência da segunda vaga baixou ligeiramente, antes do início da terceira vaga.

Menos de 1.000 internados e 200 em UCI

Marcelo definiu também metas para o desconfinamento com base no número de internados com a doença. A barreira dos mil internados foi ultrapassada a 16 de outubro de 2020, no início da segunda vaga e desde então nunca mais Portugal conseguiu baixar esta fasquia até este mês. O mesmo aconteceu com o número de doentes hospitalizados em cuidados intensivos, que ultrapassou a barreira de 200 internados a 24 de outubro do ano passado.

Por altura do anúncio de Marcelo, Portugal contava com mais de 5.500 internados com covid-19 e 836 doentes hospitalizados em UCI. O máximo de internados aconteceu a 1 de fevereiro, com quase sete mil pessoas hospitalizadas, com o máximo de doentes em UCI a ter sido registado a 5 de fevereiro, quando o país chegou a registar 904 pessoas em cuidados intensivos com covid.

A meta definida pela ministra da Saúde, e depois por Marcelo, de reduzir o número de internados em UCI para 200 nestas unidades, implicava uma redução de 80% e foi alcançada a 18 de março. 

 

Portugal tem agora 142 doentes internados em cuidados intensivos, chegando a um número que não registava desde 15 de outubro.

Já o número de internados no total, que inclui o número de internados em enfermaria, baixou o limite das mil hospitalizações a 13 de março, no passado sábado, registando agora um total de 633 doentes internados - 491 deles em enfermaria. 

O último dia em que Portugal tinha estado abaixo dos mil internados antes da segunda e terceira vaga foi a 15 de outubro do ano passado, há cinco meses, com os números de internados a registarem novos mínimos desde 26 de setembro de 2020 no sábado, tendo subido ligeiramente este domingo.

 

Índice de transmissão da covid-19 R(t) abaixo de 1,2 

Na reunião para definir as linhas vermelhas que Portugal não pode voltar a ultrapassar, nessa semana de fevereiro, o epidemiologista Manuel Carmo Gomes definiu um limite para o índice de transmissibilidade, que mostra a que ritmo novos casos estão a transmitir a doença a outros. Se o índice R for superior a 1 significa que cada infetado propaga a doença, em média, a mais do que uma pessoa.

A 11 de março, por altura da apresentação do plano de desconfinamento, este indicador ganhou nova importância, tendo sido incluído pelo Governo na matriz que define o risco da covid-19, juntamente com a incidência, e que decide se o desconfinamento deve continuar a acontecer ou não. Nesse gráfico, o limite é de 1, e não de 1,2.

 

Segundo dados do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA), o R(t) da covid-19 em Portugal encontrava-se, até à última semana, nos 0.93 em Portugal e nos 0.92 em Portugal Continental. Segundo o último relatório do instituto, Madeira, Açores, Alentejo e Algarve apresentavam um R acima de 1.

A última vez que, a nível nacional, o país apresentou um R(t) acima de 1,2 foi a 8 de janeiro, altura em que os novos casos de covid-19 começaram a disparar no país. A última região do país a baixar este limite invisível foi Lisboa e Vale do Tejo, que fez prolongar o pico da 3.ª vaga em Portugal até ao final do mês e que apresentava um R de 1,21 a 19 de janeiro.

Mais de 90% dos testes à covid-19 com resultado negativo

Outra das linhas vermelhas traçadas por Manuel Carmo Gomes foi a de que o país não pode voltar a uma taxa de testes positivos de 10%, o que significa que em cada dez testes à covid-19 realizados, nove têm de ser negativos.

De acordo com os dados das amostras realizadas, Portugal fez mais de 3,2 milhões de testes desde o início do ano mas, durante o mesmo período, confirmou mais de 400 mil novos casos de covid-19, o que significa uma percentagem de casos positivos de 12,3%.

Nas últimas semanas, esta taxa baixou consideravelmente. O número de casos baixou, mas o número de testes não baixou ao mesmo ritmo e a percentagem de testes positivos na última semana variou entre os 1,2% e 1,5% - os valores mais baixos desde o mês de setembro.

 

Desde a reunião do Infarmed em que o especialista definiu a linha vermelha, Portugal só voltou a ultrapassar esta barreira de 10% de testes positivos por uma vez, a 15 de fevereiro, e em março só ultrapassou a barreira dos 5% por três vezes, registando até quatro dias com uma taxa de positividade abaixo de 1% em março.

O início de testagem nas escolas levou a aumento das amostras recolhidas na passada semana, com o dia 19 de março a chegar quase aos 54 mil testes - número que não era alcançado desde 3 de fevereiro. Nesse dia, Portugal confirmou mais de 9 mil casos. Agora registou menos de 600.

Mais do que alto número de novos casos, a taxa de positividade alta sugere que existem muitos mais casos que Portugal não está a diagnosticar, seja por incapacidade de rastreio ou de testagem.

Desde o fim de outubro e até ao início de fevereiro, Portugal registou consistentemente uma taxa de testes positivos acima dos 10%, com exceção para o período do Natal.

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