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Portugal e a Ucrânia celebraram este sábado um acordo para produção conjunta de drones subaquáticos e a realização de um fórum económico entre os dois países, anunciou o primeiro-ministro português.

Zelensky e Costa celebram acordo Portugal-Ucrânia para produção de drones
Zelensky e Costa celebram acordo Portugal-Ucrânia para produção de drones AP Photo/Danylo Antoniuk

Luís Montenegro falava na conferência de imprensa conjunta com o Presidente da Ucrânia, no âmbito da sua primeira visita a Kiev enquanto primeiro-ministro.

"Portugal e a Ucrânia têm, ao nível dos veículos não tripulados, um conhecimento que é hoje a vanguarda do mundo", destacou.

O primeiro-ministro anunciou a disponibilidade para produzir em Portugal "drones com tecnologia e conhecimento científico ucraniano", bem como disponibilidade do país para levar a experiência e conhecimento científico a sua "capacidade produtiva para a Ucrânia".

"É mesmo esse o objetivo do acordo que nós celebrámos", disse.

Montenegro afirmou também que "nada obsta" a que Portugal possa enviar militares para a Ucrânia em tempo de paz, e reiterou que o país não terá soldados no terreno neste país enquanto durar a guerra. "Nada vai obstar a que militares portugueses possam fazer na Ucrânia o que já estão a fazer aqui ao lado, na Eslováquia, na Roménia, na Letónia, na Lituânia, em tantos outros países onde as nossas Forças Nacionais Destacadas no âmbito da União Europeia, no âmbito da NATO, participam em missões de paz e participam em missões de dissuasão e de segurança", afirmou.

Montenegro disse querer ser muito claro: "Hoje, isso não está previsto e, portanto, ao dia de hoje, a nossa participação não envolve nenhum tipo de empenhamento terrestre. Já envolve participação a nível marítimo e a nível aéreo".

"No futuro, tudo estará em aberto ao abrigo daquelas que são as nossas responsabilidades", assegurou.

Questionado se compreendia a posição portuguesa, o Presidente da República Volodymyr Zelensky disse entender que apenas depois do cessar-fogo se possa falar neste tema.

"Concordo com o Luís, é muito cedo para falar nisso", disse, afirmou.

Na terça-feira, numa audição parlamentar, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Rangel, tinha afastado o envio de portugueses para um cenário de guerra na Ucrânia, mas admitiu que Portugal possa integrar uma "força de paz" num contexto de um acordo com garantias de segurança.

"Portugueses, para um cenário de guerra não irão, isso é certo. Mas, se houver paz, não é a primeira vez que fazemos parte de forças de paz", disse Paulo Rangel, respondendo a uma pergunta do Chega durante uma audição na comissão parlamentar de Negócios Estrangeiros e Comunidades Portuguesas.

Estreitar as relações bilaterais

Luís Montenegro disse ainda que Portugal e Ucrânia querem que este encontro signifique “um ponto de viragem” nas relações económicas entre os dois países, anunciando a realização de um fórum económico bilateral no próximo ano.

Segundo Montenegro, este acordo sobre os drones subaquáticos permitirá aos dois países levar “mais longe” o seu conhecimento e competência tecnológica para defender o seu espaço marítimo e as suas infraestruturas críticas.

“No caso português, por exemplo, não nos esqueçamos que os cabos marítimos que atravessam a nossa zona marítima são absolutamente fundamentais para as comunicações de Europa com o continente americano, com o continente africano e também com o Médio Oriente”, afirmou.

Montenegro salientou que a cooperação com a Ucrânia – que atingiu em apoio militar este ano 227,5 milhões de euros – “não é apenas militar, é também política”, destacando o acordo alcançado no plano europeu.

“Esta é também uma semana onde, para além do apoio financeiro de 90 mil milhões de euros que a União Europeia dará à Ucrânia em 2026 e 2027, para além do congelamento permanente dos ativos russos, também ficou bem reforçado o empenhamento no processo de adesão da Ucrânia à União Europeia, processo que merece, de resto, um apoio inequívoco de Portugal”, disse.

Questionado se Portugal considera que a Ucrânia pode estar em condições de aderir à UE no início de 2027, Montenegro foi cauteloso, dizendo que se trata de um processo complexo, mas assegurou que o país estará “100% empenhado” em que aconteça o mais rápido possível.

O primeiro-ministro admitiu que as relações económicas entre os dois países são ainda muito baixas.

“As nossas empresas ainda operam com uma dimensão estreita na Ucrânia e o mesmo acontece com as empresas ucranianas em Portugal. Mas há um campo muito grande para poder incrementar esse relacionamento no futuro”, disse, justificando a marcação do fórum económico.

O primeiro-ministro agradeceu ainda o contributo da comunidade ucraniana e viver em Portugal.

“Em Portugal, residem neste momento 79.232 ucranianos (…) Têm uma integração plena, estão hoje no nosso tecido económico, muitos deles já com uma segunda geração também plenamente integrada, qualificada e são um exemplo daquilo que é a nossa capacidade de acolhimento e integração e são um exemplo também do contributo que nós podemos receber em fortalecimento dos nossos recursos humanos”, disse.

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