Sábado – Pense por si

Mariana Mortágua afirma que gesto que dirigiu a Paulo Núncio foi mal interpretado

Lusa 16:37
As mais lidas

Ex-coordenadora do Bloco de Esquerda esclarece que o gesto com os dedos inha como objetivo fazer referência à cultura rock.

A ex-coordenadora do Bloco de Esquerda Mariana Mortágua afirmou esta quarta-feira que o gesto que dirigiu com os dedos ao líder parlamentar do CDS foi mal interpretado, não sendo ofensivo, mas, antes, ligado à cultura do rock.

Mariana Mortágua esclarece gesto dirigido a Paulo Núncio, visando a cultura rock
Mariana Mortágua esclarece gesto dirigido a Paulo Núncio, visando a cultura rock AR TV

Esta justificação de Mariana Mortágua, porém, não acalmou os ânimos na abertura da sessão plenária de hoje, e o presidente da Assembleia da República, José Pedro Aguiar-Branco, foi mesmo obrigado a intervir por duas vezes: primeiro, para cortar a palavra à deputada do Chega Rita Matias; depois, para cortar a palavra ao próprio presidente da bancada do CDS, Paulo Núncio.

Na terça-feira, o presidente da Assembleia da República decidiu solicitar à Comissão de Transparência a abertura de um inquérito por "eventuais irregularidades graves praticadas" pela deputada cessante do Bloco de Esquerda, Mariana Mortágua, por um gesto dirigido a Paulo Núncio.

Segundo a queixa do CDS, Mariana Mortágua dirigiu um "gesto grosseiro" a Paulo Núncio, em plenário, "levantando a mão direita com o punho fechado, com exceção dos dedos indicador e mindinho".

Hoje, na abertura da sessão plenária, Paulo Núncio retomou o tema, queixando-se que Mariana Mortágua lhe dirigiu um gesto grosseiro. Do ponto de vista político, porém, o objetivo de Paulo Núncio foi o de frisar que, no parlamento, perante estes casos, tem de haver o mesmo tratamento para a extrema-direita e para a extrema-esquerda.

Mariana Mortágua pediu então a palavra para responder ao líder parlamentar do CDS e, sobretudo, para procurar justificar o significado do gesto que lhe dirigira na semana passada.

"Compreendo que, tendo em conta o enquadramento cultural e simbólico do deputado Paulo Núncio, que é um aficionado [de touradas] - eu não sou -- e desenvolve atividades nessa área, a sua interpretação possa ter sido errada. Estou nesta casa há 12 anos, nunca faltei ao respeito a ninguém, e certamente não iria começar por fazê-lo ao senhor deputado Paulo Núncio", declarou.

A deputada do Bloco de Esquerda lamentou depois que o gesto que dirigira ao líder parlamentar do CDS tenha "gerado alguma confusão na interpretação", porque se tratou de um gesto com os dedos "que é um símbolo cultural rock" -- e não um símbolo de cornos, como na tauromaquia.

"Outra interpretação que o senhor deputado Paulo Núncio possa ter tido, não foi de todo essa a minha intenção", acrescentou.

Apesar destas palavras de Mariana Mortágua, a bancada do Chega, por via de Rita Matias, reagiu de forma inflamada para queixar-se de "dualidade de critérios no parlamento e na política portuguesa", alegando que, se o gesto com os dedos fosse feito por um deputado do seu partido, "teria abertura de telejornal".

O presidente da Assembleia da República advertiu-a que não estava a fazer qualquer interpelação à mesa do parlamento. Perante a insistência de Rita Matias, José Pedro Aguiar-Branco foi forçado a cortar-lhe a palavra.

Pela parte do PSD, o líder parlamentar, Hugo Soares, tentou serenar os ânimos. Assinalou que assistiam ao plenário alunos de escolas e que Mariana Mortágua "já tinha pedido desculpa pela interpretação errada do seu gesto".

Mas Paulo Núncio quis voltar à carga, acusando a ex-coordenadora do Bloco de "estar a dar música". No entanto, o presidente da Assembleia da República cortou-lhe a palavra. E José Pedro Aguiar-Branco desafiou mesmo o líder parlamentar do CDS a recorrer para o plenário da decisão que tomara de lhe cortar a palavra, o que não aconteceu.

Antes deste incidente, logo após a primeira vez que Paulo Núncio pediu a palavra, José Pedro Aguiar-Branco já tinha salientado que, na sequência de um despacho por si assinado na terça-feira, enviara a queixa do CDS contra a ex-coordenadora do Bloco de Esquerda para a Comissão de Transparência, tendo em vista o apuramento dos factos.

Nesse sentido, estando um inquérito em curso, o presidente da Assembleia da República alegou que não se pronunciaria sobre o caso em concreto.

Falou, porém, sobre os princípios que devem reger o debate democrático na Assembleia da República, conciliando liberdade de expressão, urbanidade e respeito pelos outros deputados.

"Quando uma forma de um deputado se expressar, ou de gesticular, não prestigia o parlamento, ou não respeita um outro deputado, compete-me fazer um reparo, uma advertência. E também, quando a situação é como esta, fazer o envio à Comissão de Transparência, a pedido de algum grupo parlamentar", frisou.

Artigos Relacionados
Descubra as
Edições do Dia
Publicamos para si, em três periodos distintos do dia, o melhor da atualidade nacional e internacional. Os artigos das Edições do Dia estão ordenados cronologicamente aqui , para que não perca nada do melhor que a SÁBADO prepara para si. Pode também navegar nas edições anteriores, do dia ou da semana.
Boas leituras!
A lagartixa e o jacaré

Dez observações sobre a greve geral

Fazer uma greve geral tem no sector privado uma grande dificuldade, o medo. Medo de passar a ser olhado como “comunista”, o medo de retaliações, o medo de perder o emprego à primeira oportunidade. Quem disser que este não é o factor principal contra o alargamento da greve ao sector privado, não conhece o sector privado.